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Disputa entre sócios se repete nas licitações

FPS, Dinheiro, p. B2
24 de Abr de 2010

Disputa entre sócios se repete nas licitações

Elvira Lobato
Da sucursal do Rio

Conflitos entre empresas vencedoras de leilões para concessões de serviço público -como ocorreu na licitação para Usina de Belo Monte- são recorrentes no Brasil pelo menos desde a privatização do Sistema Telebrás, em 1998. À época, houve desentendimento em pelo menos três consórcios, seja por interferência do governo, seja por interesses divergentes entre os empresários.
Na privatização da Telemar, foi o governo quem instalou a crise dentro do consórcio vencedor -formado pelos grupos La Fonte (do empresário Carlos Jereissati), pela construtora Andrade Gutierrez, por Inepar, Macal e seguradoras ligadas ao Banco do Brasil. Grandes fundos de pensão estatais, capitaneados pela Previ, aderiram ao consórcio depois do leilão, e o governo forçou a entrada do BNDES, que ficou com 25% do capital.
Os bastidores da disputa entre os integrantes do consórcio e o governo, em torno da privatização da Telemar, vieram à tona meses depois do leilão de privatização, no momento em que apareceram as fitas com o resultado de um grampo telefônico ilegal colocado na presidência do BNDES. O grampo mostrou que o BNDES mobilizou até o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em favor de um outro consórcio interessado na Telemar.
Esse não foi o único conflito ocorrido na privatização da Telebrás. A venda da Telesp (atual Telefônica) também colocou empresários em pé de guerra. A Telefónica de España havia se associado a RBS (Rede Brasil Sul), Portugal Telecom, Banco Bilbao Vizcaya e Iberdrola para comprar a Brasil Telecom. Mas os espanhóis estavam interessados, de fato, era na Telesp.
Os executivos da Telefónica tinham combinado com o grupo gaúcho RBS que fariam uma oferta apenas simbólica pela Telesp para estimular a competição, mas diziam que a oferta efetiva seria pela Brasil Telecom. Somente no correr do leilão, o presidente da RBS, Nelson Sirotsky, soube que o alvo dos espanhóis era a Telesp. Ele acompanhava o leilão no pregão da Bolsa do Rio de Janeiro e voltou para o Rio Grande do Sul sem falar com os executivos espanhóis.
Anos depois do leilão da Telebrás, descobriu-se também que não existia um entendimento entre o grupo canadense TIW e o grupo Opportunity, que haviam se associado para comprar as concessões para o serviço de telefonia celular nas regiões Sul e Centro-Oeste.
O conflito mais explosivo, no entanto, aconteceu dentro da Brasil Telecom, envolvendo novamente o grupo Opportunity, a Telecom Italia e fundos de pensão estatais. A disputa só foi aplacada em 2008, quando a Oi comprou a Brasil Telecom e os acionistas, para viabilizar o negócio, retiraram todas as ações judiciais que tinham uns contra os outros.

FPS, 24/04/2010, Dinheiro, p. B2

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2404201007.htm

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