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Condomínio avança em hábitat de onça

OESP, Vida, p. A26
01 de Ago de 2010

Condomínio avança em hábitat de onça
Rápida expansão de cidades do interior de São Paulo leva ao crescimento do número de aparições de felinos e lobos em áreas urbanas

Andrea Vialli

Em uma manhã de segunda-feira, em setembro de 2009, Anhanguera parou o trânsito. A onça-parda, um macho, foi atropelada na altura do km 71 da rodovia de mesmo nome. Quebrou caninos, sofreu contusões e hoje é monitorada 24 horas por veterinários. Aguarda a chance de voltar à natureza.
Sua história se assemelha à de Goiabeira, outra onça-parda. O felino foi encontrado no quintal de uma casa em Jundiaí (SP). Acuado por humanos, subiu em uma goiabeira e ali ficou até ser capturado pelo Corpo de Bombeiros e levado à Associação Mata Ciliar, que mantém o Centro Brasileiro para Conservação dos Felinos Neotropicais e abriga também Anhanguera.
O acelerado processo de urbanização de regiões do interior paulista, como Jundiaí, Vinhedo, Louveira e Campinas, está fazendo com que uma cena inusitada se torne cada vez mais comum: a aparição de onças em áreas urbanas. Apenas nos últimos dois meses, três onças-pardas apareceram nessas regiões. E, no último fim de semana, também dois lobos-guarás.
Segundo informações do Centro Nacional de Conservação e Pesquisa de Mamíferos Carnívoros (Cenap), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, nos últimos três anos tem ocorrido uma média de três aparições de onças em áreas urbanizadas a cada dois meses.
"Nos meses de inverno, especialmente entre julho e setembro, esses encontros se tornam mais frequentes. Há muitas queimadas, o que provoca um deslocamento maior dos animais", explica Rogério Cunha de Paula, analista ambiental do Cenap. Segundo a ONG Pró-Carnívoros, nos últimos dois anos foram registradas 20 aparições de onças-pardas em áreas urbanas de São Paulo e Minas Gerais. "Os animais estão encurralados", resume Fernando Azevedo, pesquisador da Pró-Carnívoros.
Condomínios. Além das queimadas, a expansão dos condomínios residenciais - muitos com apelo ecológico - e dos canaviais está reduzindo o hábitat dos animais. "É um problema sério. Em 12 anos de atividades, nunca havíamos recebido chamados para resgatar onças. Há um ano isso se tornou comum", diz Cristina Adania, coordenadora de fauna da Associação Mata Ciliar. Doutora em felinos pela Universidade de São Paulo (USP), a veterinária critica a expansão dos condomínios que avançam sobre áreas remanescentes de Mata Atlântica. "As pessoas querem viver próximas à natureza, mas se assustam quando se deparam com um macaco ou onça no quintal. São os bichos que estão em uma encruzilhada", diz Cristina. "As poucas áreas verdes que sobraram viraram jardins particulares dos condomínios", critica.
A Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, que compartilha com os municípios o licenciamento ambiental dos condomínios, minimiza o problema. "A maioria dos empreendimentos usa áreas degradadas, onde a paisagem já foi modificada, evitando ao máximo a supressão da vegetação", diz Claudia Schaalmann, especialista em fauna da Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais da secretaria. Ela adverte, porém, que é preciso que os empreendimentos monitorem a fauna e implantem corredores que facilitem o deslocamento dos animais.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100801/not_imp588928,0.php

Atitude correta é isolar área e acionar resgate

O que fazer ao se deparar com uma onça no quintal de casa? Especialistas ouvidos pelo Estado afirmam que a melhor maneira de agir é manter a calma e deixar o caminho livre para que o animal tente voltar para o lugar de onde veio. Em seguida, acione a ajuda da Polícia Militar Ambiental, do Corpo de Bombeiros ou do zoológico mais próximo.
"A atitude mais correta é isolar a área onde a onça está e pedir o resgate. A pior coisa a se fazer é atrair vizinhos e curiosos para perto, pois isso faz com que o animal se sinta acuado", diz Rogério Cunha De Paula, do Centro Nacional de Conservação e Pesquisa de Mamíferos Carnívoros (Cenap). Ele explica que a onça-parda, a mais avistada em áreas urbanas, dificilmente ataca o ser humano. "Ela tem medo do homem. Seu instinto será sempre o de fuga."
De acordo com o biólogo Felipe Feliciani, da Associação Mata Ciliar, as onças-pardas são animais de andar silencioso e hábitos noturnos. "Esses animais estão tendo de percorrer distâncias cada vez mais longas para encontrar alimento", diz. Por isso, ele recomenda evitar construir galinheiros e outros criadouros de aves próximos a áreas de remanescentes de mata.
Código florestal. Para Fernando Azevedo, pesquisador da ONG Pró-Carnívoros, a aparição de onças tende a se tornar ainda mais frequente à medida em que ocorrem desmatamentos. Ele teme que a flexibilização do Código Florestal, aprovada por comissão especial na Câmara dos Deputados, agrave mais o problema nos próximos anos. "Se essas alterações passarem a valer, será um duro golpe nas populações de onças, que perderão ainda mais seus hábitats."

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100801/not_imp588929,0.php

OESP, 01/08/2010, Vida, p. A26

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