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Ventos contra o apagão

FSP, Tendências/Debates, p. A3
Autor: FARIA, Wilma de
22 de Fev de 2008

Ventos contra o apagão
Urge incluir a energia eólica como uma fonte alternativa comprovadamente viável e eficiente para compor a matriz energética brasileira

WILMA DE FARIA

Depois de seis anos, a ameaça do apagão volta a incomodar o país, embora o governo federal assegure que há logística para evitar o problema. O momento não poderia ser mais inoportuno para enfrentarmos uma crise no abastecimento de energia. Juntamente com a iminência de recessão global, as turbulências do mercado financeiro e o crescimento da inflação, o risco da falta de energia pode colocar em xeque o que prometia ser o início de um ciclo de crescimento da economia brasileira.

Avançar em infra-estrutura, indicadores sociais e níveis de emprego e incrementar injeção externa de capital são desejos legítimos para um país como o Brasil. Mas, em trajetória paralela, é fundamental consolidar uma sólida matriz energética capaz de sustentar um crescimento econômico a taxas robustas.

Projetos na área de energia são dispendiosos. Exigem visão de longo prazo, criatividade e ousadia. Não podem ser movidos pela urgência dos momentos de crise e escassez. Caso contrário, se tornam de efeito restrito e de benefícios limitados a discursos.

Com as dimensões continentais que o país tem, é inevitável que haja estratégias diferentes em cada região ou Estado para a construção de uma matriz energética que garanta estabilidade no fornecimento. No entanto, é inegável que não podemos mais permanecer considerando como alternativa à geração hidroelétrica apenas as usinas termoelétricas, dependentes de combustíveis não-renováveis e, em grande parte, de fornecimento externo. Afinal, temos em nossas mãos o inesgotável recurso da força dos ventos, combustível natural, limpo, sem custo e sem dependências externas de qualquer natureza, sejam políticas ou econômicas. Urge incluir a energia eólica como fonte alternativa eficiente e comprovadamente viável para compor uma matriz energética brasileira no longo prazo. E também como parte da solução neste momento de risco de apagão.

Em comparação com as energias de grande capacidade de geração (hidrelétricas, térmicas, nucleares), a eólica só não é mais barata do que os grandes aproveitamentos hidrelétricos. Recente documento feito pela Associação Brasileira de Energia Eólica ("Estudo do Impacto da Implantação de Usinas Eólicas na Oferta de Energia do Sistema Interligado Nacional") comprova a competitividade dessa fonte de energia, além de apresentar números e argumentos bastante contundentes sobre os benefícios da energia eólica. As informações do documento nos permitem afirmar que:
- a energia eólica custa entre R$ 200 e R$ 230 por MWh produzido. Funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano, usando combustível de custo zero (a força dos ventos). É uma energia complementar à nossa energia de base, a hidroeletricidade, e, portanto, uma necessidade absoluta, principalmente para a região Nordeste;
- a fonte eólica é competitiva no Brasil, principalmente no Nordeste. O aproveitamento de apenas 20% do potencial já identificado na região seria capaz de tornar o Nordeste independente em termos energéticos, além de transformá-lo em exportador de energia para as regiões vizinhas;
- chuva e ventos têm sazonalidade complementar: quando não há chuva, há ventos, e vice-versa. Isso ajuda a estabilizar a oferta de energia, garantindo suprimento contínuo e confiável, cujos benefícios ultrapassam a região, estendendo-se a todo o país;
- em caso de racionamento de energia, sua severidade (graças à fonte eólica) pode ser reduzida à metade. No curto prazo, o preço da energia (usado como sinalizador para novos contratos) cai entre 20% e 30%, dependendo da região. Também há significativa redução na volatilidade dos custos, principalmente no Nordeste.

Defendemos a utilização da energia eólica como estratégia comum a todos os Estados, sobretudo os de nossa região. O Nordeste como um todo deve buscar o entendimento com o governo federal para que a geração eólica seja reconhecida como forma real e viável de suprimento de energia elétrica em nosso país.

No Rio Grande do Norte, investimos fortemente no desenvolvimento do potencial da geração eólica, que praticamente se iguala ao da geração hidroelétrica. Essa estratégia habilita o Estado a seguir crescendo no ritmo que desejamos. Acreditamos que o desenvolvimento, principalmente dos Estados da nossa região, passa pelo aproveitamento dessa oferta de energia competitiva, inesgotável, limpa, renovável e condizente com o futuro sustentável da humanidade.

WILMA DE FARIA, 61, é governadora do Rio Grande do Norte (PSB). Foi deputada federal constituinte, prefeita de Natal três vezes e está no segundo mandato como governadora do Estado.

FSP, 22/02/2008, Tendências/Debates, p. A3

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