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12 de Fev de 2025
Trump corta recursos de brigada brasileira de incêndio de indígena que encontrou Biden em Manaus
Ibama diz que medida não impacta ações de combate e prevenção a fogo, que são realizadas com recursos nacionais
Jorge Abreu
12/02/2025
Os cortes da verba de ajuda externa do governo Donald Trump afetam o programa de manejo florestal e prevenção de incêndios no Brasil. Recursos dos Estados Unidos eram usados no treinamento de brigadistas que atuam na amazônia, no pantanal e no cerrado. Um desses grupos é a Brigada Xerente, formada por indígenas.
Em novembro do ano passado, a brigadista indígena Simone Xerente representou o projeto em encontro com o então presidente Joe Biden, em Manaus. A visita inédita de um presidente americano em exercício na amazônia resultou em promessas de fortalecimento da parceria entre o Brasil e os Estados Unidos na luta contra as queimadas.
Biden anunciou, na ocasião, o investimento de US$ 7,8 milhões para uma parceria de longa data do Serviço Florestal dos Estados Unidos com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Com este recurso, a parceria, firmada desde 2021, reforçaria estratégias das agências brasileiras na prevenção e resposta a incêndios florestais. A ideia seria aperfeiçoar as ações de combate através de uma linguagem comum e abordagens padronizadas.
Afetado pelo corte de recurso, o Serviço Florestal dos EUA promovia uma gestão inclusiva de incêndios no Brasil, treinando comunidades tradicionais, incluindo a primeira brigada de incêndio indígena composta exclusivamente por mulheres em Tocantins e Maranhão.
Em entrevista à Folha, Simone Xerente lamentou a suspensão da doação americana e disse esperar que a decisão seja repensada. Ela destacou que o intercâmbio entre os países resultava em troca de experiências e conhecimentos entre os combatentes de fogo.
"Recebi essa notícia com muita tristeza, pois através desta cooperação técnica entre o Brasil e os Estados Unidos eu recebi a minha formação como brigadista, em 2021, e tive a oportunidade de presenciar o compromisso dos Estados Unidos em apoiar as causas ambientais", disse.
"Nós, indígenas, acreditamos na força da parceira, da integração. Os Estados Unidos têm um forte problema com incêndios e bons técnicos com muita experiência. Essa cooperação técnica era positiva porque juntava os saberes e o resultado era o fortalecimento de todos."
Trump determinou a suspensão das atividades da Usaid, agência dos EUA para desenvolvimento internacional, que financiava atividades de organizações humanitárias em todo o mundo. No Brasil, a instituição atuava em diversas frentes, como na parte ambiental por meio do Serviço Florestal dos EUA.
O Ibama afirmou, em nota, que a paralisação da Usaid não impacta diretamente o enfrentamento dos incêndios florestais no Brasil, "uma vez que a prevenção e o combate são financiados pela União, abrangendo salários de brigadistas, aquisição de equipamentos, contratação de aeronaves, entre outras despesas".
A autarquia disse, porém, que a suspensão do recurso da agência americana implica prejuízo em aspectos técnicos. A parceria contribuía para a reestruturação das instituições, particularmente em termos de capacitação de profissionais e realização de estudos.
Desde que voltou ao cargo, Trump já retirou novamente os EUA do Acordo de Paris -tratado de metas globais para redução da emissão de gases de efeito estufa-, cortou incentivos de projetos sustentáveis e impulsionou os combustíveis fósseis.
É um contraponto ao seu antecessor, Joe Biden, que tinha um discurso de preservação da amazônia. Um dos últimos atos do democrata na Presidência foi, na viagem ao Brasil, o anúncio de uma promessa de US$ 50 milhões (R$ 294 mi, na cotação atual) para ações de conservação no bioma -a verba ainda não saiu do papel, pendente de aprovação do Congresso dos EUA.
Também recebiam dinheiro dos EUA organizações como WWF-Brasil e IEB (Instituto Internacional de Educação do Brasil). Em 2023, Washington se comprometeu com US$ 638 mil (R$ 3,7 milhões, na cotação atual) para o CTI (Centro de Trabalho Indigenista).
AMAZÔNIA COLOMBIANA
Os efeitos dos cortes na área ambiental também serão sentidos em outras partes da amazônia. Para a Opiac (Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana), o fechamento da Usaid pode resultar no aumento do desmatamento e do narcotráfico na região. A agência americana financiava programas de proteção da floresta e suas comunidades tradicionais.
A Opiac faz parte do G9, grupo indígena de coalizão anunciado durante a COP16, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre biodiversidade que ocorreu em Cali, na Colômbia. A Coiab (Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira) também integra o movimento.
De acordo com a entidade colombiana, sem esse apoio financeiro da Usaid, os jovens podem ser tentados a cair nas mãos de organizações criminosas que desmatam a floresta para cultivar folhas de coca, o principal componente da cocaína, e exploram minas ilegalmente.
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