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Sistema turbina vigilancia da Amazonia

FSP, Ciencia, p.A19
28 de Out de 2005

Brasileiro apresenta método mais preciso para detectar "desmatamento oculto" causado por atividade madeireira
Sistema turbina vigilância da Amazônia
Cláudio Ângelo
Editor de Ciência
Na semana passada, um grupo de cientistas liderados por um americano causou polêmica ao apresentar um sistema de sensoriamento remoto que sugere que a exploração de madeira duplica a área devastada na Amazônia. Agora, um outro grupo, encabeçado por um brasileiro, apresenta um sistema ainda mais preciso para detectar o impacto do corte seletivo. E os americanos já querem juntar os dois métodos para produzir uma nova ferramenta de monitoramento da floresta.
O novo sistema foi proposto por Carlos de Souza Jr., do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), em um artigo científico a ser publicado no periódico "Remote Sensing of Environment" (www.elsevier.com/locate/rse), já disponível na internet. Ele refina imagens do satélite Landsat para detectar as marcas da atividade madeireira e de pequenas queimadas, invisíveis ao satélite pelos métodos convencionais de processamento. Sua precisão é de 94%, contra 86% de precisão do sistema americano.
"[O estudo] é de fato muito bom, e poderia ser combinado com nosso método para desenvolver um bom sistema operacional de detecção de exploração madeireira e fogo para a Amazônia brasileira. Espero conversar com Carlos sobre isso nas próximas semanas", disse à Folha o ecólogo americano Greg Asner, da Universidade Stanford.
Asner é o principal autor do trabalho publicado na semana passada na revista científica "Science" (www.sciencemag.org) que fez o primeiro mapa por satélite da exploração madeireira em toda a região amazônica.
Seu estudo mostra que o chamado "desmatamento oculto", ou seja, o total da destruição causada pelo corte seletivo, representou de 1999 a 2002, em cinco Estados amazônicos, de 60% a 123% do desmatamento oficial.
A metodologia de Asner recebeu críticas do próprio Imazon e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ele teria confundido afloramentos rochosos no Pará com extração de madeira e superestimado a área devastada em Mato Grosso.Outro problema do sistema americano, apontado pelo próprio Asner, é que, para funcionar, ele depende de supercomputadores -portanto, não estaria imediatamente disponível como ferramenta para o governo federal, que não dispõe do equipamento.
O sistema do Imazon tem a vantagem de dispensar computadores muito sofisticados. Além disso, ele também detecta a "assinatura" das queimadas feitas por madeireiros, coisa que sua contraparte americana não faz.
Batizado NDFI, sigla inglesa para o intraduzível "índice normalizado de diferença de fração", o método consiste no processamento esperto de imagens do satélite Landsat (o mesmo usado pelo Inpe para calcular o desmatamento oficial) que captura diferenças sutis de luz em cada pixel (ponto mínimo) dessas imagens.
Sinais vitais
O NDFI se baseia no fato de que vegetação, solos e matéria morta produzem "assinaturas" diferentes no sinal de satélite. "Numa floresta intacta, a soma dos sinais de solo e matéria morta é zero [porque a cobertura vegetal é contínua]", disse Carlos Souza Jr. à Folha. Florestas alteradas tendem a ter um NDFI baixo.
Um programa de computador procura traços típicos da exploração de madeira -como pátios de estocagem de toras- nas imagens. A informação é cruzada com o NDFI para excluir afloramentos de rocha, por exemplo.
O índice foi testado com sucesso no município de Sinop, Mato Grosso. Os dados obtidos pelas imagens de satélite foram confirmados por filmagens feitas a bordo de um avião. "Uma série de dados de 20 anos mostrou que a degradação florestal causada por atividade madeireira ali é três vezes maior do que a área [efetivamente] desmatada", diz Souza Jr.
Além disso, um outro estudo, feito por André Monteiro, também do Imazon, mostrou que é possível usar o sistema de processamento para diferenciar manejo florestal de exploração ilegal.
O método, no entanto, ainda não foi testado para toda a Amazônia. "Estamos trabalhando nisso", afirma Souza Jr. Ele diz ver potencial de colaboração com o grupo de Stanford, com quem deve se encontrar em novembro, numa conferência em São Paulo. "Nosso objetivo é gerar informações para a sociedade brasileira."

FSP, 28/10/2005, p. A19

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