FSP, Cotidiano, p. C1, C3
03 de Jul de 2011
Região de mata atlântica vai "ganhar" 113 mil habitantes
Mogi das Cruzes, na Grande SP, terá loteamento entre serra do Mar e várzea do Tietê
Empreendimento ocupa área de 1.345 campos de futebol; autorizado, projeto prevê ações de preservação ambiental
José Benedito da Silva
De São Paulo
Encravada entre a várzea do rio Tietê e a serra do Mar e ocupando outras áreas de mata atlântica em Mogi das Cruzes (57 km de SP), deve surgir nos próximos anos uma "cidade" de 113.255 habitantes, com casas, apartamentos, lojas e escritórios.
O empreendimento, planejado por empresa ligada ao Grupo Suzano, ganhou este mês a licença prévia do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente), primeiro passo para o início das obras.
A área, de 1.000 hectares (1.345 campos de futebol), é o dobro da que deu origem nos anos 1970, em Barueri, ao Alphaville, o maior loteamento fechado de uso misto da região, com 50 mil moradores.
Se a perspectiva se confirmar, o novo loteamento terá a mesma população de cidades médias como Barretos e Catanduva e quase um terço da população atual de Mogi das Cruzes -393 mil pessoas.
Chamado Reserva Serra do Itapety, ocupará partes da serra homônima, da APP (Área de Preservação Permanente) do rio Botujuru e da APA (Área de Preservação Ambiental) da várzea do Tietê e chegará perto do parque Estadual da Serra do Mar.
Pela legislação, essas unidades podem ser ocupadas, mas há restrições -no caso de rios, nada pode ser feito a menos de 30 m das margens.
PRESERVAÇÃO
Cerca de 56% da área será ocupada por corredores ecológicos, parque linear e uma RPPN (Reserva Particular de Proteção Natural) de 3,65 km2 -o parque Ibirapuera tem 1,58 km2.
Na RPPN, os lotes terão no mínimo 20 mil m2 e as casas, no máximo, 1.000 m2.
O projeto inclui ações para recuperar e preservar áreas verdes e para atenuar impactos ambientais.
Parte dos impactos será minimizada por ações do empreendedor, como a construção de estação de tratamento de esgoto, mas parte será bancada pelo município, como o abastecimento de água.
Para Harry Kaufmann, diretor da Alden, imobiliária criada com capital do Grupo Suzano e da Helbor Incorporadora, a ideia não é, como em Alphaville, atrair gente que trabalhe em São Paulo.
"É uma solução para a cidade de Mogi, sem induzir a expansão nem atrair crescimento de fora", diz. Projeção da Fundação Seade mostra que a população de Mogi deve ganhar 4.500 moradores/ ano na próxima década.
Os primeiros prédios devem ser lançados daqui a dois anos -as 14 etapas devem levar 28 anos. Haverá apartamentos de um a quatro quartos. "Mas isso vai depender do mercado", afirma.
Projeto trará impactos ao ambiente e à rede pública
Estudo prevê interferências no solo, na vegetação e nos corpos d'água
Demanda por água e esgoto tratado crescerá; preocupação ambiental chegou além do que a lei exige, afirma diretor
DE SÃO PAULO
A Reserva Serra do Itapety, embora classificada pelos empreendedores como "o projeto com maior sustentabilidade que existe", vai provocar impactos ambientais e viários e exercer pressão sobre a rede de serviços públicos de Mogi das Cruzes.
No ambiente, deverá haver erosão e assoreamento de rios e córregos, redução da permeabilidade do solo, afugentamento de fauna e supressão de 317 hectares de vegetação (ou 400 campos de futebol) -a maior parte (188 hectares) referente a área de reflorestamento, da Suzano Papel e Celulose.
Outros impactos são aumento do tráfego de veículos, geração de esgotos acima da capacidade do município, elevação da demanda por água e maior pressão por serviços públicos como saúde, educação e transporte.
Para a comunidade de Mogi, os responsáveis pelo projeto têm afirmado que o empreendimento apenas "organiza" a expansão que a cidade teria de qualquer forma.
Em audiência pública em Mogi, em 2009, a sobrecarga do sistema público de serviços foi o tema mais levantado -daí o empenho em não associar o projeto a uma população que viria de fora.
Embora o projeto tenha passado pelos conselhos gestores das unidades de conservação e pelo Consema, especialistas advertem que os impactos do empreendimento precisam ser monitorados.
TENDÊNCIA
Segundo a promotora Cristina Godoy de Araújo Freitas, do Centro de Apoio Operacional de Urbanismo e Meio Ambiente, o licenciamento ambiental desse tipo de obra tem sido uma das preocupações do Ministério Público.
"É preciso acompanhar de perto o que está no estudo de impacto ambiental e verificar se o empreendimento é realmente sustentável e se foram previstas todas as variáveis."
Segundo ela, tem sido uma tendência, na proliferação de loteamentos fechados, a colocação da marca de "ambientalmente sustentável".
Para o ambientalista Miron Rodrigues da Cunha, do Consema e vice-presidente do comitê de bacia da região, o estudo é bem "consistente". "Mas é preciso cuidado, porque na hora de prometer é uma coisa, mas, na hora de cumprir, é outra", afirma.
Para ele, apesar de um empreendimento desse tipo sempre causar impactos, é melhor do que a expansão desordenada. "É preferível uma ocupação sustentada a uma ocupação irregular."
Para Harry Kaufmann, diretor da Alden, que irá gerenciar o loteamento, os impactos serão positivos. "Usamos os melhores profissionais do mercado e fizemos além do que a legislação exige."(JBS)
FSP, 03/07/2011, Cotidiano, p. C1, C3
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0307201101.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0307201102.htm
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