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Projetos querem facilitar o acesso a alimentos de pequenos produtores

FSP, Seminários Folha, p. 8
29 de Ago de 2019

Projetos querem facilitar o acesso a alimentos de pequenos produtores
Plataformas ligam cooperativas a grande indústria e tentam eliminar atravessadores

Eduardo Geraque
SÃO PAULO

Construir pontes entre agricultores familiares e indústrias do setor de alimentos é o foco de novas plataformas organizadas tanto por ONGs quanto por empresas de tecnologia.

A ideia é, ao mesmo tempo, facilitar o acesso a itens produzidos por comunidades e cooperativas espalhadas pelo país e acabar com atravessadores, que costumam ficar com uma boa parte do lucro dos fornecedores.

Uma dessas plataformas é a Sumá, que surgiu em 2014 e, como o próprio slogan diz, quer fazer com que os produtos dos pequenos agricultores da região Sul do Brasil consigam ir da "terra para a nuvem".

"Nosso objetivo é fazer uma conexão de forma transparente, com transações que não enganam ninguém.

As planilhas, com o valor dos impostos, da logística, serão abertas", diz Alexandre Leripio, um dos fundadores da empresa.

A ferramenta (appsuma.com.br) já mediou sete contratos. A maioria deles entre pequenos produtores de Santa Catarina e empresas responsáveis pela administração de refeitórios industriais.

"Nós auxiliamos os produtores com informação de mercado e orientamos sobre a melhor forma de estruturar a logística de entrega. Organizamos para que eles possam produzir de forma local e regional", diz Leripio.

Segundo ele, o projeto ajuda também na qualificação dos agricultores. "É importante, por exemplo, o agricultor saber a melhor forma de processar os produtos." Às vezes, a demanda por cenoura já ralada ou tomate em cubos é maior do que pelo produto in natura, por exemplo.

A empresa já recebeu apoio de linhas de financiamento públicas, mas, segundo Leripio, ainda há um longo caminho pela frente. "O potencial de impacto social é grande", afirma.

"A demanda por um consumo saudável é uma tendência", completa Carina Pimenta, diretora de operações da Conexus, uma rede de empreendedores sociais que tem como uma de suas missões expandir a atividade produtiva sustentável no país.

A instituição criou a plataforma Negócios pela Terra (negociospelaterra.conexsus.org), que liga produtores comunitários a indústrias de alimentos ou restaurantes.

Além de mapear os produtores e identificar as empresas interessadas em comprar os alimentos, o trabalho da equipe da Conexus envolve questões práticas da linha de produção, como o auxílio ao produtor na obtenção de crédito.

Um dos projetos apoiados pela Conexsus é a CoopCerrado, que reúne cooperativas sem fins lucrativos de sete estados (MA, TO, PA, MG, MS, MT e GO). A Conexsus tenta ajudar no desenvolvimento de novos produtos e modelos de negócio, além de facilitar o acesso ao mercado.

Foi assim que as mercadorias da CoopCerrado foram parar nos supermercados do Grupo Pão de Açúcar.

"Nossa participação nesse projeto tem dois olhares", afirma Susy Yoshimura, diretora de sustentabilidade do grupo. "No curto prazo é fazer negócio, mas, no longo, é colaborar para que os setores de produção mais sustentáveis possam se estruturar", diz.

Segundo Susy, o que vem da floresta ou do cerrado normalmente não consegue competir de igual para igual com industrializados -seja pelo preço, mais alto, ou até mesmo pela apresentação nas gôndolas das lojas. "Mas os clientes já estão pedindo esse tipo de produto", afirma.

Outra empresa que encontrou fornecedores graças a uma ferramenta virtual é a Wickbold. A companhia compra 27% das castanhas que utiliza em seus pães de comunidades da Amazônia, com intermédio do projeto Origens do Brasil (origensbrasil.org.br), da ONG Imaflora.

A iniciativa tenta criar um elo entre povos da floresta e empresas do setor de alimentação. O projeto é financiado por várias fontes, entre elas o Fundo Amazônia.

"Ajudamos as empresas a entender os desafios locais, dentro de um relacionamento justo e ético. Nosso foco é a economia oculta da floresta", diz Patrícia Gomes, coordenadora do Origens Brasil.

Estão cadastrados no site cerca de 1.500 produtores de 40 etnias amazônicas.

As transações ficam registradas na plataforma e podem ser acessadas por empresa e comunidade. Para Patrícia, a participação de ONGs serve como uma espécie de validação da relação comercial. As companhias conseguem ter certeza da qualidade da origem daquele item e de que haverá produção para suprir as necessidades da loja.

Só empresas podem comprar no site. No futuro, a plataforma deve ter uma lista com lugares onde o consumidor encontra os itens. Quem compra um produto com o selo Origens Brasil pode escanear o QR code da embalagem e ler na página informações sobre a origem do alimento.

FSP, 29/08/2019, Seminários Folha, p. 8

https://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2019/08/projetos-querem-f…

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