VOLTAR

Prefeitura vai incentivar reúso de água em prédios

FSP, Cotidiano. p. C6
05 de Out de 2014

Prefeitura vai incentivar reúso de água em prédios
Condomínios que aderirem poderão ter desconto em impostos, por exemplo
Para professor da USP, cidade deveria oferecer tratamento; medidas serão incluídas na nova Lei de Zoneamento

Vanessa Correa de São Paulo

Água do chuveiro, da pia e da máquina de lavar que, em vez de irem direto para o esgoto, voltam para as torneiras do apartamento.
Para estimular esse tipo de reúso de água em condomínios, a prefeitura colocará na lei incentivos para novos empreendimentos que adotarem tecnologias que fazem a água do edifício recircular.
Os empreendimentos que instalarem sistemas de reúso terão benefícios como descontos em impostos, no valor pago por metro construído ou permissão para construir empreendimentos maiores do que o liberado no local.
O melhor modelo de incentivo ainda está sendo estudado pela prefeitura e será incorporado à nova Lei de Zoneamento, cuja revisão começou em setembro. Um projeto de lei deve ser encaminhado à Câmara Municipal até o começo do ano que vem.
"Queremos dar benefícios reais para quem fizer reúso, em vez de um selo verde para o empreendedor fazer marketing", diz Daniel Montandon, diretor do departamento responsável pela revisão.
Para o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da USP José Carlos Mierzwa, quem deveria oferecer tratamento e reúso de água é a prefeitura. "Feito assim, em cada condomínio, vai sair muito mais caro para a cidade."
Mierzwa diz acreditar que seria mais interessante incentivar sistemas de economia, como reguladores de vazão em torneira e chuveiros.
A água de reúso normalmente serve apenas para descarga, irrigação de jardins e limpeza. Segundo o professor da USP, esses usos correspondem a cerca de 30% do consumo de um edifício.
São Paulo já tem alguns condomínios com o sistema, como o Mundo Apto, na Barra Funda (zona oeste).
Segundo o zelador do conjunto de 324 apartamentos, Marcos da Costa, "nenhum pingo de água da Sabesp" é usado para regar jardins ou lavar pisos de áreas comuns.
Alguns vizinhos já chegaram a lhe dar sermão ao ver funcionários lavando o chão em meio à falta de água no sistema Cantareira, mas pediram desculpas ao saber que é água reusada.
O consumo de água da Sabesp pelo condomínio é de cerca de 30 mil m³, mesma quantidade de água que é tratada, mas a manutenção é alta, diz Costa.
"De hora em hora checamos o pH da água tratada". Além disso, há uma limitação. Essa água não pode ficar parada. O que não for usado no dia tem que ser descartado, senão libera cheiro ruim.
A adoção de sistemas de reúso em prédios já construídos nem sempre é viável economicamente, diz o engenheiro ambiental Wagner Oliveira, da CTE, empresa de consultoria de sustentabilidade nas construções. Mas, em edifícios novos, "o sistema é totalmente viável".
O custo de implantação vai de R$ 100 mil a R$ 400 mil, afirma Oliveira, e pode se pagar em 18 meses, caso de um edifício que implantou o sistema recentemente. A manutenção custa cerca de R$ 2.000 ao mês, diz.

Moradores de SP passam a estocar água
Fisioterapeuta distribui tonéis para vizinhos em Alphaville; teatro na praça Roosevelt comprou dois recipientes
Estocagem é justificada por interrupção no abastecimento; Sabesp nega racionamento na Grande São Paulo

Atur Rodrigues de São Paulo, Heloisa Brenha

Em um grupo de moradores de Alphaville no Facebook, Felipe Marx, 35, postou a foto de dois tonéis onde estocava a água "usada" da lava-roupa para depois lavar o quintal. Por boa vizinhança, ofereceu: "Posso buscar mais alguns, se alguém quiser".
Não esperava a avalanche de pedidos. "Repassei mais de cem tonéis em um mês. Só hoje [sexta, 3/10], busquei mais 13", conta.
Morador do residencial 9, em Santana do Parnaíba (Grande São Paulo), o fisioterapeuta diz não lucrar com as encomendas. "Cobro cerca de R$ 100 por tonel, que é o que gasto entre comprar, transportar e instalar a torneira."
Segundo ele, mesmo antes da seca que atinge o Estado, o condomínio já tinha problemas de abastecimento por ficar numa área alta.
"Todas as casas aqui têm caixas-d'água grandes. A minha é de 4.000 litros, mas uso os tonéis para poupar a água do [sistema] Cantareira", diz --o sistema chegou a 6,4% da capacidade na sexta-feira (3). Os recipientes guardam de 120 a 150 litros de água.
Na Brasilândia, na zona norte de São Paulo, o líder comunitário Henrique Deloste, 49, recorreu a garrafas PET. "Senão, fico sem até para cozinhar", conta. "Aqui, está todo mundo armazenando porque à noite não tem água e, às vezes, de dia também", diz.
A situação é semelhante à do Jardim Monte Azul, extremo sul paulistano. "Às vezes ficamos 24 horas sem água, especialmente no fim de semana", diz Jaime Diko, 33.
Ele faz parte do projeto Espaço Comunidade, que, no mês passado, sediou uma oficina ao público do bairro sobre como montar uma minicisterna. "É um jeito de armazenar a água da chuva para limpeza, não para beber. Ajuda a guardar o que a caixa-d'água não dá conta", afirma.
Na região central, estabelecimentos na praça Roosevelt, reduto cultural e boêmio, também improvisam "Cantareiras particulares".
"É apaguão' toda noite. Vira e mexe os carrinhos da Sabesp estão aqui na esquina com aquela coisa de fechar e abrir água", diz o administrador do teatro Parlapatões, Eduardo Carvalho.
"Temos caixa-d'água, mas compramos dois recipientes para estocar mais 300 litros aqui. Mesmo assim, quando é 22h30, acaba a água mesmo", afirma Eduardo.
A Sabesp, empresa ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), nega que haja um racionamento de água não declarado e diz que problemas de abastecimento devem ser analisados caso a caso.
A companhia afirmou que técnicos foram ao endereço informado na Brasilândia e ouviram que não faltava água. Na praça Roosevelt, a companhia disse que o fornecimento é normal e que orientou o administrador do teatro a usar caixa d'água maior.
Em Alphaville, a empresa disse ter feito um conserto que restabeleceu o fornecimento.
A Sabesp orienta os clientes a manter caixas-d'água capazes de abastecer os imóveis por 24 horas.
Especialistas afirmam que não é recomendável guardar mais água do que a necessária para um dia, pois manter a água parada pode comprometer a qualidade.

FSP, 05/10/2014, Cotidiano. p. C6

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/189063-prefeitura-vai-incent…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/189065-moradores-de-sp-passa…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.