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Parque Grande Sertao Veredas

FSP, Painel do Leitor, p.A3
Autor: ESPIRITO SANTO, Cesar Victor do
29 de Jun de 2004

Sem verba do governo federal, fundação que cuida da Serra da Capivara (PI) vai suspender o serviço de manutenção
Parque nacional corre risco de abandono
José Eduardo RondonDa Agência Folha

Uma área considerada patrimônio da humanidade pela Unesco, localizada no Piauí, corre o risco de ficar praticamente abandonada a partir de sábado com a desistência de uma fundação de continuar responsável pelas atividades de manutenção do local.
A área ameaçada é o Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado próximo a São Raimundo Nonato (município a 534 km de Teresina) e criado em 1979 por um decreto do governo federal.
O local abriga 735 sítios arqueológicos e paleontológicos, além de pinturas rupestres de cerca de 13 mil anos e um museu arqueológico, de acordo com a arqueóloga Niède Guidon, 72, da Fumdham (Fundação Museu do Homem Americano).
Parceria parada
A fundação, que tem um contrato de co-gestão com o Ibama e com o Ministério da Cultura para o gerenciamento do parque, encaminhou um documento ao governo federal avisando sobre a decisão de deixar os trabalhos.
Segundo Guidon, a parceria está parada desde o final do ano passado, já que a verba para o ano de 2004 não foi enviada.
"A partir do dia 1o, continuaremos com nossas pesquisas e estudos na área, mas não seremos mais responsáveis pela manutenção do parque", disse Guidon.
Trabalham no parque, que conta com uma área de cerca de 100 mil hectares, três funcionários do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e 79 funcionários da fundação.
Para Guidon, a burocracia do governo federal -que é responsável pela preservação do local- é o principal obstáculo para que o parque continue a ser cuidado e protegido. "Chega uma hora em que não existe mais dinheiro. Então, infelizmente, não dá pra continuar", afirmou ela.
A arqueóloga disse que a fundação, por meio de cotas de apoio de instituições internacionais, conseguiu complementar o suporte dado pelo governo federal e manteve o parque desde 1986.
O parque da Serra da Capivara, declarado patrimônio da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) no ano de 1991, recebia até 2002 cerca de 10 mil visitantes por ano, de acordo com Guidon.
"A partir de 2003, apenas alguns visitantes conseguiram chegar até aqui, já que a estrada que dá acesso ao parque está praticamente destruída pelas chuvas."
Risco de destruição
Segundo a arqueóloga, com a interrupção do trabalho dos funcionários da fundação, o patrimônio histórico poderá ser destruído pela ação do homem. "Há risco de depredação das áreas que foram preservadas com muito sacrifício", disse Guidon.
Em 1996, a fundação encaminhou projeto ao governo federal para a construção de um aeroporto em São Raimundo Nonato. De acordo com Guidon, a obra foi licitada, mas não iniciada.
O secretário da Infra-Estrutura do Piauí, Bertolino Marinho Madeira Campos, disse que o aeroporto deve começar a ser erguido ainda no mês de maio, após o encaminhamento de uma parcela de R$ 3,5 milhões pelo Ministério do Turismo.
Ibama quer manter parceria com fundação
Da Agência Folha
O coordenador das unidades de conservação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Ivan Carlos Batiston, disse ontem que o órgão pretende, em um prazo de 15 a 20 dias, apresentar uma nova proposta de parceria com a Fumdham (Fundação Museu do Homem Americano).
Para ele, no caso de haver uma interrupção nas atividades da fundação no parque, o Ibama mandará mais funcionários para a área.
Batiston salientou que a parceria -entre o Ibama, a Fumdham e o Ministério da Cultura- é bem-sucedida e não há motivos para que ela termine. "Sabemos das dificuldades da fundação no parque e queremos, o quanto antes, apresentar soluções para o trabalho realizado lá."
Batiston disse que a fundação recebe cerca de R$ 400 mil por ano da União, mas confirmou que, até ontem, a verba destinada para 2004 não havia sido enviada.
O Ministério da Cultura diz que apresentará uma proposta para resolver o abandono do Parque Nacional da Serra da Capivara.
Surgimento do marco humano causa polêmica
Da Redação
O Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, além do conjunto paisagístico, é também a sede de uma das mais famosas polêmicas arqueológicas do Brasil, sobre a antigüidade da presença do homem no continente americano.
Para Niède Guidon, ela tem 60 mil anos. É o que se pode ler em painéis da exposição da Fumdham em São Raimundo Nonato. A data se baseia na análise de restos de carvão do sítio do Boqueirão da Pedra Furada, que Guidon considera serem parte de uma fogueira montada por seres humanos.
Se confirmada, essa datação poria por terra a noção mais aceita de que o homem só chegou à América há não muito mais que 12 mil anos. Outros sítios espalhados pelas Américas também contestam essa idéia, que ficou conhecida como paradigma de Clovis (nome de um sítio no Novo México, EUA).
Muitos estudiosos da ocupação do continente rejeitam a interpretação de Guidon. Eles avaliam que o carvão pode ter origem natural (incêndio florestal).

FSP, 25/04/2004, p.C6

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