VOLTAR

Para ONGs, soja acentua o desmatamento

FSP, Dinheiro, p.B10
16 de Jan de 2005

Para ONGs, soja acentua o desmatamento
Cultivo do grão empurra plantações de arroz e pastos da pecuária para áreas que eram de selva, dizem instituições

Raymond Colitt
Do "Financial Times"

Novas provas de que a rápida expansão das exportações brasileiras, alimentada pelo setor agrícola, está contribuindo para o desflorestamento da floresta tropical amazônica começam a surgir, em um estudo que está sendo concluído por importantes organizações ambientalistas.
No entanto, há indícios de que o governo talvez se tenha conscientizado mais sobre o problema, depois de negar durante anos que existisse uma relação entre as duas tendências.
O cultivo da soja, a principal safra do país, se expandiu em mais de 50% desde 2001, e rendeu ao Brasil mais de US$ 10 bilhões em receita de exportação em 2004. Embora os fazendeiros de soja em geral não derrubem trechos de floresta para seu uso, dizem os autores do relatório, eles estimulam o desflorestamento ao levar os criadores de gado e os plantadores de arroz a procurar por terras mais no interior da floresta.
"O cultivo de soja induz ao desflorestamento e empurra a fronteira da zona agrícola para dentro da selva", disse Roberto Smeraldi, coordenador do estudo conduzido pelo Fórum Brasileiro, que congrega 19 organizações ambientalistas entre as quais o World Wildlife Fund (WWF), o Greenpeace e a Amigos da Terra.
Preocupado com as restrições ambientais e com as críticas internacionais, o poderoso lobby agrícola e partes do governo vinham há anos rejeitando a existência de um vínculo entre a agricultura mecanizada de larga escala e a degradação na maior floresta tropical do mundo.
Na semana passada, o Ipea, organização de pesquisa do governo, argumentou que a maior parte do crescimento na produção de soja nos últimos anos veio da expansão de terras cultiváveis já existentes e da conversão de pastagens, não do desflorestamento. Preparar uma floresta para o cultivo [de soja] "requer tempo e infra-estrutura", diz o relatório.
Fronteira deslocada
No entanto, usando fotografias aéreas, os grupos ambientais demonstraram que certa área florestal desmatada no norte do Estado de Mato Grosso, no ano passado, tinha sido cultivada com soja não muito tempo depois do desflorestamento. Ao mesmo tempo, as áreas de fazendas de arroz e criação de gado nas áreas florestais vizinhas tinham aumentado, aparentemente porque suas atividades foram deslocadas devido à expansão do cultivo da soja.
Os pesquisadores admitem que a região talvez não reflita a situação geral da Amazônia, mas muitos ambientalistas estão preocupados com a possibilidade de que o avanço da agricultura na Amazônia se intensifique.
"O objetivo do estudo era conscientizar as autoridades do problema e trabalhar com elas para encontrar soluções", disse André Lima, co-autor do estudo e coordenador de estudos florestais do Instituto Sócio-Ambiental, de Brasília.
Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura, agora indicou um assessor especial para assuntos amazônicos e produziu um estudo que inclui propostas como aumentar os impostos sobre o desflorestamento legal e a adoção de critérios ambientais para empréstimos a fazendas.
O governo brasileiro também está trabalhando em um mapa sobre o uso da terra na Amazônia, para melhor regulamentar a agricultura. Alguns ambientalistas pedem que os comerciantes adotem voluntariamente critérios ambientais nas suas transações de compra de grãos.

Frase
O cultivo de soja induz ao desflorestamento e empurra a fronteira para dentro da selva.
Roberto Smeraldi: Coordenador do estudo

FSP, 16/01/2005, Dinheiro, p. B10

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.