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Pantanal 2021: o fogo se aproxima

FSP, Tendências/Debates, p. A3
Autor: MAZINI, João
13 de Jun de 2021

Pantanal 2021: o fogo se aproxima

Não há ação concreta para impedir nova tragédia

João Mazini
Coordenador da Comitiva Esperança, entidade que presta apoio às comunidades tradicionais do Pantanal

A série de imagens do fotógrafo Lalo de Almeida, registrada em 2020 no Pantanal para esta Folha, representaram um marco na cobertura da imprensa sobre a tragédia sem precedentes que atingiu a região.

O recente reconhecimento do trabalho pela mais prestigiosa premiação de fotojornalismo do mundo, o World Press Photo, mais uma vez nos ajuda a pautar o debate às vésperas do início de uma nova temporada do fogo no Pantanal.

A escalada dos incêndios criminosos teve início no primeiro ano da gestão do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), em 2019, quando foram consumidos 18 mil km2 da porção brasileira do bioma. Ninguém foi punido. Em 2020, foram 38,6 mil km2, uma área equivalente ao tamanho do estado do Rio de Janeiro.

A maioria dos incêndios teve início pela ação do homem em fazendas da região. A conclusão é dos Ministérios Públicos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que divulgaram, no começo de abril, relatório baseado em dados de georreferenciamento.

Através de parceria entre entidades estaduais e o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), foi possível detectar 286 pontos de ignição, ou seja, locais onde o fogo teve início.

Desses, 69,75% ocorreram em áreas de vegetação rasteira e pastagem, comuns a propriedades rurais. Os outros 30,25% foram detectados em regiões de vegetação nativa.

O documento ajuda a enterrar algumas teses do agronegacionismo, sendo a mais famosa delas a do "boi bombeiro", segundo a qual o gado reduziria o alastramento dos incêndios porque se alimenta de capim seco e inflamável.

O trabalho também deixa em apuros aqueles que tentam, sem nenhum critério científico, vender a ideia de que os incêndios seriam responsabilidade de ribeirinhos e indígenas alocados em áreas de preservação.

A temporada de queimadas costuma ter início junto com a chegada do inverno, no fim de junho. Em 2020, no entanto, incêndios de grandes proporções foram registrados ainda nos últimos dias de abril.

O cenário para este ano é grave. Quem faz o alerta é o Observatório Pantanal, coletivo que reúne 39 organizações da sociedade civil que atuam em prol das questões socioambientais na bacia hidrográfica do Alto Paraguai. A organização divulgou carta aberta em que chama atenção para o problema. O texto lembra as audiências realizadas no ano passado por comissões na Câmara e no Senado com recomendações levadas por institutos de pesquisa, estados, universidades e instituições não governamentais.

Uma série de sugestões foram feitas a órgãos de governo. Entre as principais estão formação e manutenção de brigadas de combate a incêndios; compra de equipamentos adequados; antecipação na contratação e mobilização do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais); e campanhas de orientação às comunidades pantaneiras. Mesmo assim, não há até o momento nenhum planejamento integrado de ações por parte do governo federal frente à temporada do fogo que se aproxima.

Infelizmente, mais uma vez estão dadas as condições para que as cenas tão dolorosas que ganharam o mundo através das lentes de Lalo de Almeida voltem a se repetir nos próximos meses.

FSP, 13/06/2021, Tendências/Debates, p. A3.

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/06/pantanal-2021-o-fogo-se-a…

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