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Maior árvore da América Latina ganha proteção em novo parque na amazônia

FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
01 de Nov de 2024

Maior árvore da América Latina ganha proteção em novo parque na amazônia
Angelim-vermelho de 88,5 metros faz parte de santuário recém-criado no Pará em região de espécimes gigantes

Ítalo Leite

01/11/2024

Em uma área de dificílimo acesso no Pará, fica um novo santuário da floresta amazônica, o Parque Estadual das Árvores Gigantes. Criado para conservar espécimes centenários com altura de arranha-céus, o lugar abriga um angelim-vermelho de 88,5 metros que é considerado a árvore mais alta da América Latina.

A reserva, de 560 mil hectares, foi anunciada por decreto em setembro e é derivada da Flota (Floresta Estadual) do Paru, unidade de uso sustentável de mais de 3 milhões de hectares. Na área que ganhou o novo status, as regras são mais restritas do que no restante da Flota, para maior proteção.

O santuário foi criado pelo governo do Pará, em ação entre Ideflor-Bio (Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade), Ifap (Instituto Federal do Amapá) e a ONG FAS (Fundação Amazônia Sustentável), com financiamento do AFF (Andes Amazon Fund).

O projeto, que foi apresentado na COP16, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre biodiversidade realizada em Cali, na Colômbia, deve ainda impulsionar pesquisas científicas e turismo ecológico na região, diz o geólogo Nilson Pinto de Oliveira, presidente do Ideflor-Bio.

"Quando as árvores gigantes foram descobertas, verificou-se algo especial, que precisava ser protegido. [No parque,] é possível protegê-las melhor do que em uma unidade de uso sustentável. Lá não se pode produzir madeira nem agropecuária", explica.

Nilson conta que a delimitação da área foi feita por meio de imagens de satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). "Nós temos segurança de que essa é a área principal de ocorrência das árvores gigantes, que existem na margem direita do rio Jari, que está sob a nossa jurisdição. Há árvores gigantes também do outro lado do rio, no Amapá."

O santuário, no município de Almeirim (PA), guarda espécimes tão grandes que chegam a formar microecossistemas em meio à mata. Plantas epífitas, como trepadeiras -que se apoiam em outras espécies-, insetos, pássaros e primatas, como o macaco guariba (Alouatta macconnelli), vivem nas copas e ao redor dessas árvores monumentais.

Com espécies cobiçadas por madeireiros, o parque tem o desafio de garantir que esses gigantes continuem de pé, afirma o engenheiro florestal Virgilio Viana, superintendente geral da FAS.

"Esses indivíduos estavam fadados a serem tábuas. Não só as árvores [seriam dizimadas]. Há uma biodiversidade enorme na copa dessas espécies. É uma decisão muito simbólica colocar a biodiversidade como fator mais importante do que o valor da madeira", avalia.

Justamente o angelim (Dinizia excelsa), destaca Viana, é uma dessas espécies procuradas pelo valor comercial, o que ameaça a existência da árvore mais alta da América Latina.

"É uma espécie que responde por uma parte importante da produção madeireira, que é na sua grande maioria ilegal. É uma árvore que tende a ter uma madeira sem defeito, valiosa no mercado", conta.

Junto da criação do parque, vem também a promessa de entender, por meio de pesquisas, por que essa região da amazônia foi capaz de criar espécimes gigantes -em média, de 45 a 50 metros, mas podendo chegar a 80, como a anciã-mor. A recordista, além da altura impressionante, tem 9 m de circunferência, encorpados durante um tempo de vida estimado entre 400 e 600 anos.

"Além dos angelins, essa é uma região que tem uma floresta muito biodiversa. Uma explicação simples para isso é que o volume do ecossistema é maior. Imagine que você tenha um ecossistema com árvores de 40 metros e um outro com árvores de 80 [metros]", explica também Viana.

"Você tem um dobro de volume de flores, frutos, troncos, galhos para abrigar insetos, musgos etc. Então isso cria um ecossistema excepcionalmente rico", completa.

Floresta ameaçada
A Flota do Paru, lar do parque das árvores gigantes, sofre com garimpo ilegal e desmatamento. A região é explorada por mais de 2.000 garimpeiros, com pistas de pouso clandestinas usadas pelos criminosos, segundo dados de órgãos do governo e organizações ambientais que integram inquérito civil instaurado pelo MPF (Ministério Público Federal).

Desde 2008, mais de 8.000 hectares da Flota do Paru foram desmatados. O pior momento ocorreu em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, quando 1.400 hectares foram devastados.

Questionado sobre o andamento do inquérito, o MPF afirmou que a ação ainda não foi concluída e que tem como objetivo "compelir órgãos públicos a promoverem a paralisação de atividade garimpeira ilegal na Floresta Estadual do Paru, em área próxima à Estação Ecológica do Jari".

Também procurada, a ANM (Agência Nacional de Mineração) disse que existem em uma pequena parte da floresta direitos minerários requeridos por PLG (permissão de lavra garimpeira) -voltada para atividades de porte reduzido, como cooperativas-, mas que não foram localizados títulos vigentes na região.

A ANM afirmou ainda que a Flota do Paru permite atividade de mineração em seu plano de manejo e que órgão trabalha para investigar a exploração ilegal.

Expedição ao santuário
Para levantar dados sobre a área, em maio deste ano, um grupo realizou uma expedição de 15 dias (entre a ida e a volta) para encontrar os titãs de madeira que agora formam o santuário das árvores gigantes.

A equipe, com mais de 20 pessoas, foi formada por pesquisadores e funcionários de apoio, em uma rota difícil pela mata e pelo rio Jari. Foram realizadas coletas da vegetação e da fauna, como peixes de pequeno porte.

Agora, com a promulgação do parque, Viana afirma que os próximos passos devem ser dados na prática, com ações que resguardem de fato essa área singular da devastação.

"Uma coisa é criar no papel. Só que lá na floresta não muda nada. O que a gente precisa fazer agora é transformar essa criação muito importante numa ação concreta e apoiar a fiscalização, com logística para a polícia ambiental", diz.

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