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A imprevista

FSP, Brasil, p. A8
Autor: FREITAS, Jânio de
16 de Ago de 2009

A imprevista
Uma boa resposta, se confirmada pela candidatura Marina, a um presidente sem interesse pelo ambiente

Jânio de Freitas

A recepção inicial à ideia de candidatura da ex-ministra Marina Silva à sucessão presidencial, não pelo PT mas pelo PV, sugere a possibilidade de algo ainda mais novo, na política brasileira, do que foi a vitória de Lula sobre José Serra. Apesar de pouco menos do que sigilosa, tão escassas e discretas são as referências nos meios de comunicação mais presentes, a ideia recebe expressões de simpatia, quando não de provável adesão, pode-se dizer que onde quer que seja citada. Inclusive em territórios petistas. E, no entanto, ainda estão na reserva originalidades com grande potencial para impulsionar a candidatura, se efetivada. E, claro, no caso de superar algumas adversidades muito fortes.

A identificação de Marina Silva com os temas de meio ambiente, postos em conexão com objetivos de ordem social, são um trunfo extraordinário no eleitorado, exceto entre os proprietários de terras e o grande empresariado. E um fator seguro de ativismo entusiasta na multidão dos eleitores moços. Fernando Gabeira, Carlos Minc, Fábio Feldman e vários outros testemunham o poder eleitoral da identificação com a defesa do meio ambiente.

Ao cometer o ato atrabiliário de afastar a silenciosa e retraída Marina Silva do governo, por seus cuidados ambientais em projetos do PAC, Lula entregou o Ministério do Meio Ambiente a um substituto que tem a ansiedade e a habilidade de estar sempre em evidência, projetando-se e projetando a sua área. Com isso, o próprio Lula provocou, à revelia, a maior projeção do tema que é o principal patrimônio político de Marina Silva. Uma boa resposta, se confirmada pela candidatura, a uma injustiça e a um presidente que não tem o menor interesse pelo meio ambiente nacional, como demonstram as concepções para a Amazônia que absorveu de Mangabeira Unger, Nelson Jobim e de grandes proprietários e grandes grileiros. O tema só lhe interessa para reuniões e entrevistas internacionais, ocasiões em que se põe como uma contrafação masculina de Marina Silva.

A origem humilde, de pessoa só alfabetizada aos 16 anos, facilitaria a penetração de Marina Silva em parte substancial do eleitorado urbano pobre e no Nordeste. Mas duas outras características se aliam nela com influência especial: a cor da pele e ser mulher. Pela cor e seus simbolismos, as comparações de Marina Silva a Barack Obama seriam inevitáveis e produtivas. Os dois até se parecem um pouco, Marina Silva, também esguia, fisionomia de traços nítidos e mais caucasianos do que afros, até passaria muito bem por irmã de Obama. E a época é favorável às presenças sem precedentes.

A garra necessária para enfrentar as adversidades é uma interrogação no caso de Marina Silva. Mas as adversidades, não. A começar dos recursos financeiros. Os financiadores habituais de candidatos a presidente por certo estarão apegados a outros candidatos. A campanha de Obama, com problema equivalente, teve criatividade extraordinária e, entre outros feitos, foi buscar doações pela internet. Mas nos Estados Unidos a população negra, grande doadora, tem recursos, e a internet tem penetração muito maior que no Brasil. A campanha de Marina Silva precisaria de muita e própria criatividade.

Além disso, seu tempo de propaganda eleitoral gratuita seria insignificante. E, aceita alguma generalização, pode-se dizer que os meios de comunicação, no Brasil, são uma forma de partido(s) político(s), com a tv e as revistas semanais mais que os outros. Marina Silva não tem nada, até onde se saiba, que possa seduzi-las.

Adversidades, porém, não são impedimentos. Como fatores positivos não são, por si, senão promessas.

FSP, 16/08/2009, Brasil, p. A8

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