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22 de Ago de 2024
Garimpeiros atacam policiais após ação da PF no sul do Amazonas; suspeitos são presos
Operação resultou na queima de pelo menos 223 balsas nos rios Madeira, Aripuanã e Manicoré; PM diz que grupo reagiu com tiros e rojões
Rosiene Carvalho
22/08/2024
Garimpeiros entraram em conflito com policiais em praça pública de Humaitá, no sul do Amazonas, após a queima de pelo menos 223 balsas de garimpo ilegal nos rios Madeira, Aripuanã e Manicoré. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, 14 pessoas foram detidas. Seis permanecem presas, segundo o delegado Mozer Torquarto.
O conflito começou por volta de 16h desta quarta-feira (21), no porto da cidade, quando agentes da Polícia Federal voltavam da operação de queima de dragas de garimpo ilegal nos rios.
De acordo com o major Anderson Saif, da Polícia Militar do Amazonas, os garimpeiros se comunicaram por WhatsApp. Centenas deles esperavam o desembarque dos policiais federais, que tiveram de retornar ao rio por estarem em número menor.
Saif relatou que o grupo se dirigiu a casa do prefeito, mas a PM conseguiu dispersá-lo por meio de diálogo. Por volta de 18h30, um número maior de pessoas tentou invadir a sede da prefeitura e da Câmara de Humaitá.
"Já receberam a gente a pedradas. Não teve como conversar, na segunda tentativa. Eram tiros e rojões. Tivemos de revidar. Virou aquela guerra civil dentro do centro da cidade. Tem duas escolas ali, foi um clima horrível. As pessoas correndo, eles atirando de um lado e a gente indo para cima", disse.
A confusão só foi controlada por volta de 21h. O major informou que cinco pessoas foram feridas, sendo quatro policiais. Nenhuma corre risco.
De acordo com o major, a PM usou munição não letal, como bala de borracha e gás lacrimogêneo. Ele disse que suspeitam de que os garimpeiros estavam com armas de baixo calibre em razão do ferimento causado nas pernas de um dos policiais.
Saif disse que pediu reforço à Secretaria de Segurança de Rondônia -devido ao fato de Porto Velho estar mais próxima de Humaitá, o Governo de Rondônia conseguiu atendê-los em duas horas. Outro reforço que partiu de Manaus na manhã desta quinta-feira (22), com previsão de chegada ainda nesta noite. "Por enquanto está sob controle, mas o clima está tenso na cidade."
O secretário da Segurança do Amazonas, coronel Vinícius Almeida, afirma que é um prejuízo para a segurança de todos operações surpresas da PF no sul do Amazonas que, por regra, geram conflitos nas cidades. "Se a Secretaria de Segurança fosse avisada, teríamos como nos preparar para evitar um conflito na cidade em que a vida de todos é colocada em risco."
"Ontem [terça], nesse conflito, foi diferente. A maioria dos policiais nasceu e cresceu em Humaitá e tiveram que enfrentar amigos, vizinhos, primos, irmãos. É diferente do que ocorre nas cidades com grandes populações e grandes efetivos", avaliou o major Saif.
A pasta diz que não foi contatada pela Polícia Federal. Em seu site, a PF afirma que a Operação Prensa, deflagrada há três dias, continua na região. Ainda segundo a nota, a atividade ilegal causa dano ao meio ambiente e à saúde pública em virtude da contaminação do rio por mercúrio e cianeto. "A ação será contínua e com prazo indeterminado para finalizar."
A PF destaca ainda que o garimpo ilegal interfere na cultura de povos indígenas no Madeira com invasões de aldeias. No Madeira, predominantemente vive a população mura.
Procuradas, as assessorias da PF em Rondônia, da Funai e do Ibama não se manifestaram. Sobre os presos, a Polícia Civil afirma que eles eram representados por um advogado, que recomendou que eles permanecessem calados. O nome do representante não foi informado.
Conflitos em Humaitá com depredações de prédios públicos após queima de dragas de garimpo ilegal são registrados a cada nova operação contra a atividade.
Em outubro de 2017, carros e prédios do Ibama e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) foram incendiados após 31 balsas que operavam em unidades de conservação terem sido destruídas por agentes federais.
Em novembro de 2021, centenas de balsas formaram uma cidade flutuante próximo a Autazes, também no Madeira.
Em maio deste ano, após uma operação da Polícia Federal queimar 50 balsas, garimpeiros depredaram outra vez a cidade, queimaram pneus e bloquearam a passagem da população na BR-230, a Transamazônica.
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