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Fazendeiro é assassinado em confronto com índios em SC

FSP, Brasil, p. A8
17 de Fev de 2004

Fazendeiro é assassinado em confronto com índios em SC
Ruralista leva tiro na cabeça; 6 pessoas, já soltas, foram feitas reféns

Mayra Stachuk
José Eduardo Rondon

Um fazendeiro foi morto e seis pessoas foram feitas reféns durante um conflito entre índios e ruralistas em Abelardo Luz (SC).
Na manhã de ontem, dois dos seis reféns foram libertados. Após negociações, os índios liberaram os outros quatro reféns, já de noite. Os indígenas continuavam acampados na região do conflito até o fechamento desta edição.

Segundo a Polícia Federal, na madrugada de ontem, cerca de 200 caigangues e guaranis que organizavam um protesto para exigir a homologação de uma reserva indígena entraram em conflito com fazendeiros. Na região de Toldo Embu, no município de Abelardo Luz, os índios bloquearam o acesso a uma fazenda.

O fazendeiro Olisses Stefani, 52, foi morto com um tiro na cabeça quando tentava atravessar o bloqueio. A polícia não confirma que o tiro que matou o fazendeiro tenha sido disparado por um índio.

Stefani era presidente do Sindicato dos Ruralistas de Abelardo Luz e membro da Faesc (Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina), que acusa os índios de terem feito o disparo.

Segundo Enori Barbieri, um dos diretores da Faesc, os índios que estão no local foram coordenados pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e pela Funai (Fundação Nacional do Índio) para realizar o protesto.

O coordenador do Cimi em Chapecó, Cléber Buzatto, negou a versão dos ruralistas. "Os índios se organizaram por conta própria para brigar pelas terras. É um absurdo essa acusação de que o Cimi ou a Funai estariam incentivando esse tipo de conflito."

Segundo ele, a região de Toldo Embu faz parte de uma reserva indígena de 16 mil hectares em Santa Catarina. Buzatto afirma que o relatório de delimitação da área foi publicado no "Diário Oficial" do Estado em 2002 e a Funai já o encaminhou para o Ministério da Justiça, responsável pela homologação da região como uma reserva indígena. A região de Toldo Embu tem 1.975 hectares, mas os cerca de 150 índios que vivem ali ocupam nove hectares.
Mércio Pereira Gomes, presidente nacional da Funai, disse que um dos fatores que contribuíram para a morte do fazendeiro foi a presença no local do conflito de índios de outra tribo -Mangueirinha, do Estado do Paraná.

O presidente, assim como Buzatto, negou a acusação da Faesc.
Segundo a assessoria do Ministério da Justiça, a área de Toldo Embu passa pela fase de declaração, na qual o ministério analisa os estudos sobre a área elaborados pela Funai. Para ser homologada como reserva indígena, deve passar por mais duas fases, as de demarcação e homologação.

Japorã
Um dia após o índio Délcio Lemes, 36, ser baleado na aldeia de Porto Lindo, em Japorã (MS), índios tentaram bloquear uma rodovia, mas recuaram depois que representantes da Funai chegaram à área para negociar, de acordo com um dos líderes indígenas, Gumercindo Fernandes.

A situação estava tranqüila ontem, segundo a Funai e as polícias Civil e Federal do município vizinho de Iguatemi.

Além de Lemes, uma mulher também foi ferida no ombro com uma foice. Os dois estão fora de perigo. O incidente teve início depois que funcionários de fazendeiros foram até a aldeia buscar cavalos supostamente furtados durante as invasões.

FSP, 17/02/2004, Brasil, p. A8

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