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Falha em tratamento de esgoto piora Tietê

FSP, Cotidiano, p. C8
22 de Jun de 2008

Falha em tratamento de esgoto piora Tietê
Apesar dos gastos de R$ 6 bilhões em saneamento, estações liberam nitrogênio e fósforo, prejudiciais à vida aquática
Cetesb aponta deficiência no sistema em expansão pela Sabesp; elementos químicos agravam a situação do rio no interior

José Ernesto Credendio
Conrado Corsalette
Da reportagem local

A Sabesp despeja no Tietê esgoto tratado na Grande São Paulo por um sistema deficiente -incapaz de tirar elementos químicos que pioram a qualidade do rio no interior paulista. A conclusão está expressa em 11 linhas do relatório de qualidade das águas divulgado há duas semanas pela Cetesb, a agência ambiental paulista, que monitora os rios de São Paulo.
Segundo a Cetesb, o sistema de tratamento implantado, e em expansão, não consegue remover nitrogênio e fósforo, substâncias que fazem proliferar algas e outros organismos que roubam oxigênio da água, afetando a vida aquática.
A Cetesb apontou o problema de deficiência no tratamento do esgoto a partir de testes realizados entre a ponte dos Remédios, a barragem Edgard de Souza e a barragem de Pirapora. Lá, foi constatado que existe uma tendência de aumento das concentrações de nitrogênio e de fósforo.
Além disso, a Cetesb suspeita que a ETE (estação de tratamento) de Barueri, que responde por 70% do esgoto tratado na região metropolitana (referente a 4,5 milhões de pessoas), funciona de forma inadequada. Isso porque melhorou a água coletada para testes antes do ponto em que o esgoto tratado é despejado, o que não ocorreu nos trechos após o local em que esse esgoto chega ao Tietê.
Um indicador de poluição, que mede a necessidade de oxigênio na água, "confirma que não existe uma redução da carga orgânica destinada ao médio Tietê", segundo a Cetesb.
A pior condição para a vida de peixes no Tietê está em Pirapora do Bom Jesus, cidade a 53 km de São Paulo conhecida pela espuma que costuma cobrir o Tietê e até inundar as ruas.
Para a Cetesb, é necessário discutir a implantação do chamado sistema terciário de tratamento, que consegue eliminar fósforo e nitrogênio.
Hoje, a Sabesp faz um tipo de tratamento mais grosseiro e está investindo R$ 6 bilhões em saneamento em todo o Estado, sem modernizar a tecnologia.
"As ações em saneamento continuam pertinentes, porém, podem ser melhoradas para avançarmos na qualidade das águas e na saúde pública", diz o gerente do departamento de águas superficiais e efluentes líquidos da Cetesb, Eduardo Mazzolenis de Oliveira.
A opinião de que é necessário mudar o sistema é referendada por Plinio Barbosa de Camargo, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP (Universidade de São Paulo), em Piracicaba, especialista em tratamento de efluentes.
Uma pesquisa iniciada há nove anos, após o ponto de esgoto tratado no rio Piracicamirim, em Piracicaba, revelou que a água piora nesse local, efeito semelhante ao do Tietê.
"Hoje, são gastos milhões em sistemas de tratamento que não dão conta, em estações que não vão funcionar", diz.

Distrito Federal
Em Brasília, cerca de 50% do esgoto coletado é tratado pelo sistema terciário, cuja implantação e operação são bem mais caras, mas mais eficientes.
Segundo Carlos Eduardo Pereira, superintendente de operação do sistema de esgotos da Caesb (a Sabesp local), o processo é necessário porque a região tem rios pouco volumosos e muitos lagos e lagoas. Por causa disso, a poluição despejada em um lago pode permanecer por até dois anos. "Com nossa situação aqui, precisamos tratar o esgoto com a máxima eficiência", disse.
Segundo ele, o custo de implantação do sistema terciário foi de R$ 60 por habitante. O sistema secundário custa R$ 35, e o primário R$ 20.
Já a operação do sistema terciário tem um custo aproximado de R$ 0,80 por m3. Em um sistema primário esse valor não passa de R$ 0,10.
Colaborou LUIS KAWAGUTI , da Reportagem Local

Rios de Ribeirão recebem 50% de esgoto 'in natura'

GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

A falta de tratamento do esgoto compromete a qualidade dos rios da região de Ribeirão Preto. As cidades que compõem as sete bacias hidrográficas que passam pela região tratam apenas metade do esgoto. O restante é jogado "in natura" (sem tratamento) nos rios.
É o que revela o relatório da Cetesb (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental) sobre a qualidade das águas no Estado de São Paulo, divulgado na semana passada.
Na bacia hidrográfica do rio Pardo, que inclui Ribeirão, por exemplo, onde 52% do esgoto é tratado, a quantidade de coliformes (que inclui todos os tipos, inclusive fecais) está acima do estabelecido como ideal por resolução do Conama (Comitê Nacional do Meio Ambiente). Isso ocorre em quase todas as outras cidades.
Hoje, Ribeirão tem 80% de esgoto tratado, de acordo com o prefeito Welson Gasparini (PSDB) -no ano passado, quando o relatório foi feito, eram 70%. "Estamos investindo em cinco frentes de trabalho e trataremos tudo até o fim do ano", disse o prefeito.
Apesar de receber muito esgoto in natura, a qualidade das águas ainda é considerada boa pela Cetesb. A agência ressalta, no entanto, que é preciso investir em saneamento.
A pior situação é a da bacia do Turvo-Grande, que passa na região pelas cidades de Cajobi, Olímpia, Monte Alto e Monte Azul Paulista. O tratamento médio nesta bacia é de 30%.
Em segundo lugar no ranking das piores está a bacia do Tietê-Jacaré, que passa por Araraquara e São Carlos e recebe 65% de esgoto sem tratamento.

Sabesp diz que obedece lei ambiental

Da reportagem local

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) diz que as estações de tratamento secundárias, que despejam fósforo e nitrogênio de volta nos rios, bastam para atender aos padrões de emissão de poluentes determinados pela legislação ambiental.
A empresa de companhia mista, que tem o governo do Estado como maior acionista, afirma que sua prioridade é tentar ampliar ao máximo o tratamento de esgoto -o que seria dificultado caso optasse pela construção de estações terciárias, que reduzem a carga dos dois poluentes na hora de devolver a água para os rios, mas são 60% mais caras.
"O tratamento secundário é um bom processo para reduzir a carga poluidora dos rios. Ele remove de 80% a 90% dos poluentes", defende Antonio César Costa e Silva, da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp. "É o melhor meio para universalizar o tratamento."
Atualmente, há 461 estações de tratamento de esgoto no Estado, nenhuma delas terciária. Estão em construção 48 novas estações, que integram o pacote de obras de saneamento que prevê investimento de R$ 6 bilhões nos próximos anos. Mas nenhuma delas dará conta de tratar fósforo e nitrogênio.
Silva sustenta que o aumento dos índices dos dois poluentes no rio Tietê se deve a uma maior quantidade de água tratada pela empresa. O raciocínio é o seguinte: como o tratamento deixa passar o fósforo e o nitrogênio, quanto mais água é tratada, maior é a concentração desses poluentes no ponto dos rios onde ela é despejada.
"A variação de poluentes de um ano para o outro não representa um risco. O importante é a tendência. O Tietê melhorou nos últimos dez anos. O que seguia direto para o rio deixou de ir para o rio."
O técnico da Sabesp afirma que a empresa poderá construir estações mais modernas a partir de exigências da legislação. "Não há por que tratar mais se o padrão não exige", diz Silva. "Se a sociedade quiser que se tenha níveis mais elevados de tratamento, vamos ter de analisar e fazer. Uma hora isso virá, mas vale lembrar que a mudança implicará em um aumento de custos."

Qualidade de água tem pior nível desde 2002

Da reportagem local

A qualidade da água testada nos pontos de captação para consumo humano no Estado caiu no ano passado em relação a 2006 e, pelos padrões da Cetesb, foi a pior desde 2002.
A Cetesb realiza testes quase sempre mensais nos pontos em que as empresas de saneamento recolhem a água para tratar e faz uma classificação que varia de péssimo a ótimo.
Além da presença de resíduos de esgoto, a Cetesb avalia a concentração de elementos como mercúrio, cromo e níquel, além da presença das chamadas cianobactérias. A maior quantidade delas foi encontrada na represa Billings, na Grande São Paulo.
Esse grupo de bactérias pode produzir toxinas que redundam em tumores e efeitos nocivos em órgãos como rins, baço e coração e o sistema nervoso.
No ano passado, pela classificação da Cetesb, 31% dos pontos de captação estavam na condição ótimo/bom, com 24% de regular e 46% de ruim/péssimo. Em 2006, 55% dos pontos estavam em ótimo/bom.
O gerente do departamento de águas superficiais e efluentes líquidos da Cetesb, Eduardo Mazzolenis de Oliveira, tranqüiliza: não há motivo para suspender a captação em nenhum dos pontos testados.
Segundo Oliveira, a queda do padrão se deve à associação de fatores como insuficiência de tratamento de esgoto e manejo inadequado do solo agrícola, agravado pelas chuvas.
"É fundamental continuar ampliando o saneamento no Estado, particularmente o tratamento dos esgotos, e a remoção de carga orgânica", afirma.
Na opinião de Antonio César Costa e Silva, técnico da Sabesp, a situação preocupa. Mas ele não está pessimista. "Na Grande São Paulo as represas permaneceram estáveis. No Alto Tietê não teve alteração onde a Sabesp capta a água. Isso não afetou nosso custo de tratamento", afirma.
De toda água retirada pela Sabesp desses pontos avaliados pela Cetesb -68,7 mil litros por segundo-, 40 mil estão na classificação ótimo/bom, o que inclui o maior ponto de captação, a represa do Juqueri, em Mairiporã (Grande São Paulo).
Outro grande manancial da região metropolitana, a represa de Guarapiranga, que fornece 13,9 mil litros por segundo, está na faixa ruim da classificação.

FSP, 22/06/2008, Cotidiano, p. C8

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