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Desmatamento cai 30%, diz governo

FSP, Ciência, p. A18
Autor: ANGELO, Claudio
27 de Out de 2006

Desmatamento cai 30%, diz governo
Estimativa do Inpe, ainda com dados parciais, mostra que Amazônia perdeu 13,1 mil km2 de floresta entre 2005 e 2006
Dados foram apresentados ontem em Brasília, a três dias da eleição; governo diz que pressa é por causa de encontro de clima na África

Claudio Ângelo
Enviado especial a Brasília

A três dias do segundo turno das eleições, o governo Lula anunciou uma previsão de queda de 30% na taxa de desmatamento da Amazônia em 2006. O dado resulta de uma análise parcial do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e foi comemorado como o segundo menor desmatamento já medido na região.

O anúncio foi feito ontem no Palácio do Planalto, com a presença de Lula e dos ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Dilma Roussef (Casa Civil) e Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia). Ele se segue a uma redução já esperada e pelo segundo ano consecutivo.

"Esta é a segunda menor taxa registrada desde que o Inpe começou fazer suas medições anuais, em 1988", declarou o diretor do instituto, Gilberto Câmara. A estimativa é que, de agosto de 2005 a agosto deste ano, tenham tombado 13,1 mil quilômetros quadrados de floresta, pouco mais que uma Jamaica (61% disso de forma ilegal). Em toda a série histórica, que teve início no biênio 1988-1989, o número só é maior que a taxa de 1991 -11,3 mil quilômetros quadrados-, quando o plano Collor congelou a poupança.

"Conseguimos, além de segurar o touro, baixar sua cabeça", brincou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

O cálculo apresentado ontem, segundo admitiu o próprio governo, é apressado. Para produzir a estimativa de 2006 (que vai de agosto de 2005 a agosto deste ano), o Inpe usou apenas 34 imagens de um total de 220 analisadas anualmente pelo Prodes, sistema que estima a mudança na cobertura florestal na Amazônia. Segundo Câmara, essas imagens correspondem a dois terços do desmatamento amazônico.

Em comparação, para produzir a estimativa da devastação no ano de 2004-2005, foram usadas 77 imagens, que capturavam 92% do desmatamento. O governo atribui a pressa ao fato de que o anúncio precisava ser feito antes da COP-12 (12ª Conferência das Partes) da Convenção do Clima da ONU, que começa no próximo dia 6 em Nairóbi, no Quênia. No evento, Marina Silva apresentará a proposta brasileira de fundo internacional para compensar os países tropicais que desacelerarem o desmatamento, contribuindo assim para reduzir o total de gás carbônico (o principal causador do efeito estufa) na atmosfera.

A avaliação do governo é que é politicamente importante o Brasil mostrar, com duas quedas expressivas seguidas na devastação (em 2005 a redução na taxa foi de 31%), que o desmatamento pode ser contido.

"Se eu tivesse mais um mês [para processar os dados], teria ficado muito mais tranqüilo", afirmou Câmara. Ele diz, no entanto, que o número consolidado de todas as 220 imagens do Prodes -a ser apresentado em dezembro- deve variar em, no máximo, 10%.

Dados seguros
Ambientalistas negaram ver uso eleitoral na divulgação da taxa do desmatamento amazônico. "Confio nesses números. A estatística é segura. Seria um erro muito primário que o dado consolidado desse algo muito diferente disso", disse à Folha Paulo Moutinho, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Mauro Armelin, do WWF, concorda. "Os números são bons." Ele lembra, no entanto, que mesmo com a tendência à queda o governo do presidente Lula viu desaparecerem, em quatro anos, 84 mil quilômetros quadrados de Amazônia. Em comparação, nos dois governos FHC o desmatamento foi de 77,7 mil e 74,7 mil quilômetros quadrados.

Marina atribuiu a queda a ações do governo, como as operações da Polícia Federal e do Ibama contra o desmatamento e a grilagem de terras, além da criação de 20 milhões de hectares em unidades de conservação. Citou ainda a Lei de Florestas Públicas, que prevê a concessão de terras para a exploração sustentável de madeira, e rebateu a tese de que a redução foi por causa da crise do agronegócio. "Seria simplismo e reducionismo achar que o que aconteceu foi por causa do preço das commodities."

Lula aproveitou para elogiar a ministra. "Você está provando que é possível, ao invés de a gente proibir, a gente continuar ensinando a fazer as coisas certas neste país." O presidente também criticou, indiretamente, sugestões recentes de privatização da Amazônia feitas por um ministro britânico.

"O domínio soberano do nosso território é inquestionável, e quem quiser conhecer a Amazônia precisa pedir licença para o Brasil; quem quiser explorar também precisa pedir licença para o Brasil."

FSP, 27/10/2006, Ciência, p. A18

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