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Decepção e receio

FSP, Opinião, p. A2
20 de Jun de 2007

Decepção e receio
Primeiro leilão de energia alternativa acarreta mais dúvidas sobre geração da eletricidade necessária para fazer o país crescer

Decepção. Foi com este qualificativo que o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, se referiu ao 1o Leilão de Energia de Fontes Alternativas. O pregão acrescentou apenas 639 megawatts (MW) à oferta contratada de eletricidade e, com isso, adicionou incerteza ao cenário energético nacional. Não só permanecem como se agravam as dúvidas sobre a capacidade de gerar a energia necessária ao crescimento da economia.
Estima-se que usinas sucroalcooleiras sejam capazes de produzir entre 2.000 e 3.000 MW com a queima de biomassa (bagaço de cana). No entanto, só 1.019 MW foram ofertados no leilão, dos quais pouco mais que a metade (542 MW) terminaram vendidos. Os restantes 97 MW contratados correspondem a pequenas centrais hidrelétricas.
A decepção aumenta quando se considera que essas duas formas de geração figuram entre as mais promissoras do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), regulamentado em 2004. O panorama completo do Proinfa, que inclui fontes como energia solar e eólica, é ainda mais desolador. Apesar do escopo modesto de agregar 3.300 MW ao parque nacional até o final de 2008, só 852 MW foram instalados e postos em geração, ou 26%.
Para efeito de comparação, cabe lembrar que o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) de Lula projeta o acréscimo de 12.386 MW à capacidade instalada de geração até 2010, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME). Isso corresponde à incorporação de algo entre 3.000 e 4.000 MW por ano. Em outras palavras: um Proinfa, no mínimo, a cada ano. Contudo, não é só na seara alternativa que a política energética não deslancha.
Os atrasos no licenciamento ambiental das grandes hidrelétricas da Amazônia são mais que conhecidos. É improvável que a novela das usinas Santo Antônio e Jirau (total de 6.450 MW), no rio Madeira, tenha desfecho capaz de fazê-las operar a partir de 2011, como planejado. Pairam também interrogações graves sobre a confiabilidade de termelétricas a gás, com a crise de fornecimento aberta pelo presidente da Bolívia, Evo Morales.
A usina nuclear Angra 3 levará ao menos seis anos para ficar pronta e gerar os 1.350 MW previstos -isso se o governo enfim conseguir superar a resistência, finalizar o licenciamento ambiental e dar sinal verde para a construção. Nem mesmo a decisão política de seguir em frente com a polêmica central está tomada, o que pode ocorrer na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética.
Em todas as frentes, as incertezas se acumulam, sem que o governo Lula seja capaz de demonstrar projeto e comando. Nessa toada, só conseguirá desacelerar o crescimento.

FSP, 20/06/2007, Opinião, p. A2

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