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De longe e de perto

FSP, Ilustrada, p. E1
27 de Jan de 2005

De longe e de perto
Trabalho da fotógrafa Claudia Andujar, que fez imagens de uma tribo ianomâmi, ganha retrospectiva na Pinacoteca do Estado e mostra na galeria Vermelho

Tereza Novaes
Da reportagem Local

A bordo de um Fusca preto, uma fotógrafa partiu de São Paulo em 1976 para percorrer mais de 3.000 km. Seu destino era uma tribo ianomâmi em Roraima, onde ela ficaria durante 14 meses.
A expedição ao Brasil profundo mudou radicalmente a vida de Claudia Andujar, 73, de origem romena, criada na Hungria e nos EUA e naturalizada brasileira em 1957. De volta à cidade, a luta em defesa dos ianomâmis traria outro significado à sua vida.
Trinta anos após a corajosa empreitada, Andujar recoloca seu valioso trabalho fotográfico em primeiro plano.
No próximo sábado, ela inaugura na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, uma retrospectiva que reúne fotos feitas a partir dos anos 60. No dia 1o, a galeria Vermelho, também em SP, começa a exibir a mostra "Yano-a", composta por uma videoinstalação e uma foto.
E a editora Cosac Naify lança em fevereiro o livro "A Vulnerabilidade do Ser", sobre sua trajetória.
A expedição que levou a fotógrafa até a aldeia ianomâmi em 1976 não foi a primeira nem a última aventura dela pelo Brasil.
"Lembro das dificuldades da estrada, era época da seca e a toda hora tínhamos que descer do carro para tirar a areia da frente", conta Andujar, que teve a companhia de um amigo no percurso. "Quando cheguei, os índios chamaram meu carro de urubu e construíram um abrigo para ele."
Antes da longa estadia, interrompida pela expulsão sem justificativa do governo, ela já havia estado com os ianomâmis e com outras etnias indígenas.
Os carajás, na região do Tocantins, foram os primeiros com os quais ela teve contato, em 1958, por sugestão dos amigos Carmem Junqueira e Darcy Ribeiro.
No início, as viagens eram motivadas pela curiosidade, mas, com o tempo, se transformaram em ganha-pão. Andujar passou a atuar como fotojornalista para revistas brasileiras, como "Realidade", e para publicações estrangeiras, incluindo as americanas "Life" e "The New York Magazine".
Na década de 60, ela fez retratos de Clarice Lispector e de Chico Buarque e produziu um longo ensaio com famílias de diferentes regiões, publicado somente em 2003 pela Revista da Folha.
A exposição da Pinacoteca abre espaço para todas essas facetas. "Decidi rever meu arquivo, traçar o mapa da minha vida. É um longo percurso, fiz muitas viagens. Para mim, foi o modo de vida que escolhi e no qual a fotografia se encaixou", diz.
A obra de Andujar ultrapassa as barreiras da fotografia documental. Há uma forte ligação entre seu trabalho e a arte contemporânea, sobretudo em imagens nas quais ela recria o sonhos dos índios, usando a sobreposição de suas próprias fotografias.
"Se há contemporaneidade no meu trabalho é pelo fato de retrabalhar o que foi feito. É uma maneira de situá-lo, de colocá-lo em um contexto."
Andujar refaz suas fotos também na composição de instalações, suporte que utiliza com freqüência. Na galeria, há uma videoinstalação, realizada em parceria com a dupla de jovens artistas Gisela Motta e Leandro Lima. Na Pinacoteca, há uma referência indireta à instalação, já que a montagem propõe um percurso e cria ambientes para o visitante.
O primeiro indício de sua inclinação artística remete à época em que vivia nos EUA, antes de aportar no Brasil, quando produzia pinturas abstratas que foram elogiadas por Pietro Maria Bardi. "Aqui, deixei de pintar, fiquei mais interessada pelo país e pelo encontro com as pessoas."
Sabedoria
No final da década de 70, quando se engajou na luta pelos ianomâmis, Andujar fundou a CCPY, Comissão Pró-Yanomami, entidade que desempenhou papel importante na demarcação das terras indígenas em 1991. Hoje, ela não está mais no comando e apenas acompanha as atividades.
A recompensa pela dedicação parece ser o que ela encontrou no contato com os índios: "A simplicidade de viver e, ao mesmo tempo, uma sabedoria de vida".

A SENSIBILIDADE DO SER. Exposição de Claudia Andujar. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, centro, tel. 0/xx/ 11/ 3229-9844). Quando: ter. a dom., das 10h às 17h30; de 29/1 a 20/3. Quanto: R$ 4.
YANO-A. Onde: galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, Higienópolis, tel. 0/ xx/11/ 3257-2033). Quando: ter. a sex., das 10h às 19h, e sáb., das 11h às 17h; de 1o/2 a 5/3. Quanto: entrada franca.

FSP, 27/01/2005, Ilustrada, p. E1

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