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Cai número de queimadas na época de seca

FSP, Cotidiano, p. C13
03 de Set de 2006

Cai número de queimadas na época de seca
Prática foi reduzida a quase a metade no país entre maio e agosto de 2006 em relação ao mesmo período dos últimos 4 anos
Causas apontadas são crise no setor agrícola, mais chuvas nas regiões Norte e Centro-Oeste e fiscalização mais intensa do Ibama

CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

O número de queimadas diminuiu quase pela metade no Brasil neste ano no começo do período crítico -que vai de maio a agosto, época mais seca- em comparação com o mesmo período dos últimos quatro anos (2002 a 2005).
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, essa redução tem como causa, principalmente, três fatores: a crise no setor agrícola, que reduziu a necessidade das queimadas, o aumento das chuvas nas regiões Norte e Centro-Oeste do país e uma fiscalização mais intensa por parte do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
De acordo com informações obtidas pelo satélite Noaa 12, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram detectados 37.534 focos de calor entre 1o de maio e 31 de agosto de 2006. Em período equivalente do ano, haviam sido detectados 74.113 em 2005, 73.308 em 2004, 61.499 em 2003 e 72.694 em 2002.
O Inpe utiliza 15 satélites para coletar dados, mas, segundo Alberto Setzer, pesquisador do instituto e responsável pelo monitoramento das queimadas, o Noaa 12, que foi lançado em 1992, é o mais preciso para identificar focos de incêndio.

Causas
Especialistas apontam a crise do agronegócio como a maior responsável pela redução dos focos de incêndio em Mato Grosso e Pará, Estados campeões em queimadas.
"Quando há um cenário em que a agropecuária está em expansão, queima-se mais, e não é o que está ocorrendo neste ano", disse Setzer.
No setor agropecuário, o fogo é utilizado para abrir novas áreas de produção, para renovar as pastagens e para limpeza e preparação de terrenos.
"Ao desacelerar a produção de soja e grãos em geral, as queimadas e o desmatamento também é desacelerado", disse Alexandre Coutinho, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
Outro fator que colaborou para a queda nas queimadas foi o aumento das chuvas na região Norte e Centro-Oeste.
"Está chovendo bem mais do que nos anos anteriores. Não observamos a seca que ocorreu na região amazônica de 2002 a 2005. Neste ano, choveu bastante em junho e agosto em Rondônia, Acre, Roraima, Mato Grosso e parte do Pará", disse Expedito Rebello, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
"O aumento do índice pluviométrico diminuiu o risco de incêndios. A população não coloca fogo quando não tem certeza de que vai se espalhar", disse Heloiso Figueiredo, coordenador nacional do Prevfogo (Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais), órgão ligado ao Ibama.
O aumento do combate às queimadas e ao desmatamento também contribuiu para a diminuição de focos do calor.
Segundo dados do Ibama, 89 operações de fiscalização foram concluídas em 2006 e 17 estão em andamento na Amazônia Legal, com a participação de 745 fiscais.

Tempo seco em SP
No último mês, as queimadas foram proibidas na região de Ribeirão Preto devido a situações críticas da umidade relativa do ar. Nos dias 21 e 22 de agosto deste ano, Ribeirão e outras cidades da região estavam em estado de emergência, pois a umidade relativa do ar registrou índices abaixo de 12%.
Devido ao tempo seco, as queimadas foram proibidas em certos horários e por vezes durante alguns dias inteiros.

Sul e Sudeste têm aumento de ocorrências

DA AGÊNCIA FOLHA

Se nos primeiros meses de 2006 os focos de incêndio diminuíram nos Estados campeões em queimadas -Mato Grosso, Pará e Rondônia-, houve mais registros em Estados do Sudeste e do Sul, em comparação com o mesmo período (de maio a agosto) dos últimos anos.
São Paulo e Paraná estão tendo um dos invernos mais quentes e secos até hoje, com temperaturas 3C a 5C acima da média, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
No último dia 21, Ribeirão Preto (314 km ao norte de São Paulo) enfrentou o índice de umidade relativa mais baixo já medido no país, 4,8%.
"Os focos de incêndio diminuíram nas unidades de conservação de São Paulo, mas aumentaram em áreas não protegidas. A queima de cana é a responsável pelo aumento, principalmente nas regiões de Sorocaba, Piracicaba e Ribeirão Preto", disse Oscar Willmersdorf, coordenador do Prevfogo (Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) em São Paulo.
De acordo com Willmersdorf, os produtores de cana "protegem o canavial, que não querem queimar, mas colocam fogo em florestas".
No Paraná, que enfrentou a pior estiagem desde 1930, as queimadas se espalharam com maior facilidade. "A estiagem e a baixa umidade deram condições para os incêndios aumentarem", disse José Joaquim Crachineski, coordenador do Prevfogo no Paraná.
"Neste ano, houve incêndio até na serra do Mar, um lugar úmido onde dificilmente o fogo se propaga", afirma Crachineski. (CÍNTIA ACAYABA)

FSP, 03/09/2006, Cotidiano, p. C13

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