FSP, Opinião, p. A3
Autor: SURUÍ, Txai
12 de Out de 2024
A arte contra a tragédia ambiental na amazônia
Artistas de Rondônia pintam mural para que queimadas e desmatamento não sejam esquecidos
Txai Suruí
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé
12/10/2024
O recorde de queimadas na Amazônia, registrado neste ano, ficará eternizado na capital do estado que mais desmatou a floresta nas últimas quatro décadas.
Para evitar que caia no esquecimento a catástrofe que afeta milhares de vidas pelas chamas e pela forte poluição do ar, quatro artistas rondonienses estão criando um mural com 25 metros de extensão em uma das principais avenidas de Porto Velho (RO). Nele, retratam como as riquezas do bioma estão sendo destruídas pelo fogo, pela ação humana e pela mudança climática.
Localizada em uma esquina, a obra se concentra na palavra Amazônia. Cada letra, com cerca de três metros de largura, destaca um aspecto da região. Juntas, são mais que o nome do bioma: elas contam a catástrofe que tem se repetido nas últimas décadas e se agravado nos últimos anos: A - floresta; M - indígena; A - onça pintada; Z - Rio Madeira seco; Ô - floresta pegando fogo; N - animais fugindo do fogo; I - brigadistas apagando o fogo; A - revolta popular.
O mural, nomeado Amazônia em Chamas, se encerra com a mensagem de resistência na última letra, lembrando que os rondonienses e todos os brasileiros podem interromper a trajetória de destruição da floresta que está levando o bioma ao ponto de colapso.
A tipologia escolhida é característica da cultura da região. "Essa tipografia estabelece uma relação entre a cultura do graffiti, que nasce das escritas urbanas, e a cultura dos abridores de letras da região amazônica, que expressam essa arte nos barcos característicos da região Norte. Essa tipografia é uma forma de lembrar e homenagear esses artistas e trazer mais uma camada de sentido e representatividade da cultura nortista, pois nos lembra que quando a Amazônia queima, também queima com ela a cultura regional", conta Silva, um dos quatro artistas, ao lado de Nath, Rabsk e Latrop.
De janeiro a setembro, mais de 740 mil hectares foram queimados em Rondônia -aumento de 46% em relação a 2023. Mais da metade desse total (56%) foi queimada em setembro (420 mil hectares), segundo o Monitor do Fogo do MapBiomas. Esses números colocam Rondônia no sexto lugar entre os estados que mais queimaram em setembro e em oitavo lugar entre os que mais queimaram entre janeiro e setembro, mesmo sendo apenas o 13o estado brasileiro em território.
A intensidade das queimadas em Rondônia foi tamanha que a sua capital, Porto Velho, permaneceu como a cidade mais poluída do mundo por vários dias no início de setembro.
O grupo Megafone Ativismo, que promove o mural, é um programa de desobediência artística e apoio a ativistas socioambientais realizado por uma coalizão das organizações Pimp My Carroça, Instituto Socioambiental (ISA), Engajamundo, Sumaúma Jornalismo e Associação Intercultural de Hip-Hop Urbanos da Amazônia (AIHHUAM).
O programa inclui a elaboração de murais artísticos -como este feito agora em Porto Velho-, ciclos de formação e de apoio a ativistas da região amazônica e a realização do Prêmio Megafone, primeiro prêmio de ativismo do Brasil.
FSP, 12/10/2024, Opinião, p. A3
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2024/10/a-arte-contra-…
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