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Amazônia eleva Brasil a grande poluidor

FSP, Ciência, p. A18
09 de Dez de 2004

Amazônia eleva Brasil a grande poluidor
Governo divulga relatório que coloca o país como responsável por 3% de todos os gases-estufa emitidos pelo homem

Ana Flor
Da sucursal de Brasília

A divulgação do inventário de emissões de gases-estufa feita ontem pelo governo revelou que o desmatamento e a agropecuária são os responsáveis pela maior parte das emissões brasileiras de gases que provocam o aquecimento anormal da atmosfera.
Os resultados, aguardados havia pelo menos quatro anos, mostram que o Brasil sozinho responde por 3% de todas as emissões de gases-estufa no mundo.
O desmatamento, segundo os dados, é o principal responsável pela emissão de CO2 (dióxido de carbono, ou gás carbônico), o principal gás causador do aquecimento. Somente no ano de 1994, o Brasil emitiu na atmosfera 1,03 bilhão de toneladas do gás.
A agropecuária - especialmente a flatulência do rebanho bovino nacional- responde pela a maioria das emissões de CH4 (metano), que em 1994 chegaram a 12,3 milhões de toneladas.
O inventário -o primeiro realizado no Brasil- compara as emissões causadas pelas atividades humanas entre 1990 e 1994. O período segue a norma estabelecida em 1996 pela UNFCCC (sigla pela qual a convenção da ONU sobre mudança climática é conhecida), que determinou o estudo a todos os seus signatários.
O relatório mostra que as mudanças no uso da terra e das florestas - entre elas o desmatamento, principalmente na Amazônia- foram responsáveis por 77% das emissões de CO2 em 1994; os processos industriais e energia ficaram com 23%.
Das emissões de metano no mesmo período, 77% vêm da agropecuária. O gado também foi responsável por 92% das emissões de N2O (óxido nitroso).
As emissões de todos os três gases cresceram entre 1990 e 1994: 5% (CO2), 7% (CH4) e 12% (N2O). O governo não sabe estimar como estariam os índices hoje.
Além das emissões de CO2, CH4 e N2O, o inventário estima emissões de hidrofluorcarbonos (HFC), perfluorcarbonos (PFC) e hexafluoreto de enxofre (SF6). Também foram listados os chamados gases-estufa indiretos.
O inventário será apresentado amanhã na 10ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU, a COP-10, que começou segunda-feira em Buenos Aires.
Pressão
O atraso na divulgação -o relatório estava pronto desde o governo FHC- se deve ao fato de a notícia aumentar a pressão internacional sobre o Brasil. Pelo Protocolo de Kyoto, países em desenvolvimento não precisam diminuir a emissão de gases. Mas deverão ser incluídos no próximo sistema de redução de emissões, que será discutido agora e deverá entrar em vigor após 2012.
O ministro Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) não comentou os planos para uma possível etapa em que países em desenvolvimento tenham obrigações na redução. Campos fez questão de ressaltar que, por Kyoto, o Brasil não tem qualquer obrigação de diminuir suas emissões. Mesmo assim, "o Brasil não estaria se furtando a buscar soluções".
"Levando-se em conta índices históricos, o Brasil é responsável por apenas 1% das emissões", disse. Segundo Campos, Kyoto reconhece que países em desenvolvimento como o Brasil têm prioridades urgentes, como melhorias sociais e econômicas.
O protocolo fala das responsabilidades comuns, mas diferenciadas entre países, considerando que nações desenvolvidas emitem há mais tempo.
Pela sensibilidade do tema, o anúncio teve a participação dos ministros José Dirceu (Casa Civil), Marina Silva (Meio Ambiente), Dilma Rousseff (Minas e Energia) e do secretário-executivo do Ministério da Agricultura, José Amauri de Dimarzio.
Todos se concentraram em dizer o que suas pastas estão fazendo para diminuir as emissões. Dirceu se comprometeu a coordenar recursos para as ações e citou a grilagem de terras como um dos principais causadores do desmatamento. "O Brasil vai entrar em uma nova fase de legalidade."
Segundo a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), a divulgação do inventário é uma demonstração de transparência. "O governo não está tentando amenizar qualquer tipo de questão", afirmou. Marina disse ainda que seu ministério não busca estabilizar o desmatamento em patamares mais baixos, mas luta para acabar de vez com a prática.

FSP, 09/12/2004, Ciência, p. A18

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