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Alvo de controvérsia Jamanxim, no Pará, tem alta no desmate

FSP, Ambiente, p. B5
20 de Jun de 2018

Alvo de controvérsia, floresta do Jamanxim, no Pará, tem alta no desmate
Área registrou, em abril e maio deste ano, mais que o dobro da área desmatada em todo 2017

Fabiano Maisonnave
MANAUS
Alvo de pressão de grileiros e da bancada ruralista para que tenha a sua área reduzida, a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim registrou, em dois meses, mais do que o dobro da área desmatada em todo o ano passado.

Localizada no sudoeste do Pará, a Flona perdeu 57 km2 de cobertura vegetal entre abril e maio, segundo cálculo da ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), baseado em imagens de satélite. A destruição equivale a 36 parques Ibirapuera, em São Paulo.

Trata-se de um revés nos esforços para conter o desmatamento na Flona, situada na área de influência da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém e é importante via de escoamento da soja de Mato Grosso.

No ano passado, a Jamanxim registrou uma queda de 65,6% do desmatamento, segundo o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O cálculo de 25 km2 leva em conta o período entre agosto de 2016 e julho de 2017.

Responsável pela gestão da Flona, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) admitiu que o desmatamento voltou a subir.

"Esse desmatamento está associado ao processo de grilagem de terras dentro da unidade de conservação, movido pela especulação imobiliária e pelo avanço da atividade pecuária que vem acontecendo na Flona", afirma a autarquia, via assessoria de imprensa.

A Jamanxim é a segunda unidade de conservação que mais sofre com desmatamento, atrás apenas da Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, que perdeu 123 km² desde agosto do ano passado. A Flona é alvo de intensa controvérsia desde o final de 2016, quando o governo Michel Temer (MDB) editou uma medida provisória para reduzi-la, legalizando grileiros.

No Congresso, essa redução foi ampliada, chegando a 37% dos seus 13.019 km2. Pressionado por ambientalistas, o Planalto vetou a modificação e, em julho, enviou um novo projeto de lei com uma diminuição menor, 27% da área.

"A Flona passa por um círculo vicioso em que os interessados nas áreas ocupadas dentro dessa unidade pressionam os seus representantes políticos a propor e a apoiar projetos para a sua redução", afirma Heron Martins, pesquisador do Imazon.

"A cada novo projeto apresentado ou sinalização positiva por parte do governo em relação a essa redução, cresce a expectativa que isso se concretize. Com isso, aumenta o número de novas ocupações ilegais com intuito de se beneficiarem de uma possível legalização dessas terras."

Martins afirma que o desmatamento busca também descaracterizar a Flona como uma unidade de conservação. A Flona Jamanxim já perdeu 12,4% de sua cobertura florestal, a maioria convertida em pasto para pecuária extensiva.

Um dos beneficiários de uma eventual redução da Flona, o prefeito de Novo Progresso, Ubiraci da Silva (PSC), o Macarrão, afirma que o projeto de lei está parado no Congresso e que não será votado neste ano.
Para Macarrão, que reivindica 963 hectares da Flona, sem a redução da floresta, a economia de Novo Progresso (1.717 km de Belém) fica inviabilizada.

"Aqui, somos só um corredor. De um lado, é área indígena. O lado que tem a produção é aqui às margens da BR-163, e a Flona fica aqui pertinho. Se o governo não ceder, a nossa cidade vai se acabar, ficará um corredor de caminhão mesmo."

A Flona do Jamanxim foi criada em 2006, no governo Lula, para mitigar o impacto do asfaltamento, até hoje inconcluso, da BR-163, importante canal de escoamento da soja do Mato Grosso via rios Tapajós e Amazonas, no Pará.

Os limites da Flona, no entanto, incluíram áreas de grileiros e posseiros, dando início a um longo processo de negociação com o Estado.

Baseado em um censo, o ICMBio identificou 236 ocupantes que se adequavam ao perfil para regularização, como a presença anterior a 2004, em um total de 77 mil hectares, mas as associações reivindicavam mais terras, gerando impasse que se arrastou até desembocar na MP 756, que prevê a redução na proteção da floresta.

No ano passado, só a expectativa de abrir a Flona do Jamanxim para a ocupação humana já provocou a primeira invasão. Um grupo montou um acampamento para reivindicar 41 mil hectares.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/06/alvo-de-controversia-flo…

FSP, 20/06/2018, Ambiente, p. B5

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