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14 de Ago de 2024
Aldeias indígenas afetadas por fogo no pantanal registram alta de problemas respiratórios
Casos de falta de ar, tosse e desidratação disparam em terras em Mato Grosso
Safira Campos
14/08/2024
As queimadas em Mato Grosso, agravadas pela baixa umidade do ar, estão causando aumento no atendimento médico por problemas respiratórios em comunidades indígenas da região, especialmente no pantanal.
Segundo profissionais do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) de Cuiabá, falta de ar e tosse, além de casos de desidratação, são as queixas mais frequentes.
Vanessa Truká, enfermeira do Dsei Cuiabá, polo responsável pelo atendimento da maior parte dos casos, diz que os indígenas estão recebendo suporte com EPIs (equipamentos de proteção individual), máscaras e hidratação nas próprias comunidades.
Mas, segundo ela, muitos necessitam de encaminhamento médico devido à intensa exposição à fumaça. "Os casos ocorrem especialmente entre aqueles na linha de frente, combatendo o fogo", afirma.
Não há números consolidados de atendimentos, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), 30 TIs (terras indígenas) foram afetadas na última semana.
Dados de satélite do órgão apontam que 2.011 focos de calor foram registrados no estado de 6 a 13 de agosto, o que fez Mato Grosso concentrar 17,5% das queimadas do país nesse período.
Diante da situação, a Fepoimt (Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso) publicou uma nota nesta segunda (12) solicitando esforços conjuntos dos municípios, dos governos estadual e federal para conter as queimadas e apoiar as comunidades mais afetadas.
A organização ressalta que o fogo já atingiu casas dentro das aldeias e está afetando nascentes de rios, lagos, vegetação, animais, além de roçados ao redor das TIs. Três das comunidades mais impactadas, Guató, Umutina e Perigara, estão na região pantaneira do estado, entre os municípios de Barão de Melgaço e Poconé.
"Estamos inalando muita fumaça, o que está causando problemas respiratórios, como tosses constantes. Os indígenas perigaras estão pedindo socorro há 15 dias, enquanto nas terras Guató, o fogo já chegou. Essas áreas são remotas e de difícil acesso", destaca Eliane Xunakalo, presidente da Fepoimt.
Segundo o pneumologista Clóvis Botelho, pesquisador e professor da Universidade Federal de Mato Grosso, o estado enfrenta uma situação crítica também devido à baixa umidade do ar, já que a combinação desses fatores multiplica o efeito danoso nas vias aéreas.
Ele afirma que a poluição do ar, junto com a umidade baixa, potencializa os danos desde o nariz até os alvéolos pulmonares. As micropartículas da fumaça entram nos alvéolos e são absorvidas pela corrente sanguínea, causando inflamações.
"Essa situação aumenta a incidência de traqueobronquites, bronquites e bronquiolites, que podem evoluir para quadros mais graves, como pneumonias", explica.
Comunidades indígenas e pessoas que combatem os incêndios estão entre as mais afetadas. "Além do risco de queimaduras, elas aspiram material particulado diretamente", alerta o médico. "Mesmo com mecanismos de proteção, a exposição é constante, e muitas continuam próximas aos locais dos incêndios, inalando ainda mais partículas."
É o caso do cacique Roberto Maridoprado, da aldeia Perigara, localizada na TI Perigara, ao sul de Mato Grosso. Por lá, 30 focos de calor foram registrados no último mês pelo Inpe.
Maridoprado está à frente no combate às chamas. "Nós da equipe de brigada voluntária sentimos bastante, principalmente falta de ar e tosse, que foram os sintomas mais fortes que eu tive", relata.
O cacique integra uma das seis brigadas voluntárias formadas por indígenas em Mato Grosso, treinados pelo Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais). Por morarem e conhecerem bem os territórios, os indígenas atuam de maneira mais ágil nos focos, mas esse trabalho carece de investimento.
"Solicitamos aos governos estadual e federal que aumentem o número dessas brigadas e forneçam equipamentos adequados, já que atualmente as brigadas voluntárias dependem do investimento da própria comunidade", afirma a presidente da Fepoimt.
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