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Aldeia Maraka'nã avança para criar universidade indígena

FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
22 de Set de 2024

Aldeia Maraka'nã avança para criar universidade indígena
Evento paralelo ao G20 fortalece resistência dos povos originários para reparação histórica e consolidação de espaço pluriétnico e intercultural

Txai Suruí

22/11/2024

De 15 a 19 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro, a Universidade Pluriétnica Indígena Aldeia Maraka'nã realizou o 4o Congresso Internacional da Rexistência Maraka'nã - Coirem, um evento autônomo e de protagonismo indígena que integrou a programação não oficial do G20, com o tema "A Universidade Indígena na Atualidade". O Coirem reuniu lideranças indígenas, educadores e representantes de povos originários de todo o Brasil para discutir e fortalecer a criação de uma universidade-aldeia pluriétnica.

Organizado a partir de um sonho coletivo da aldeia Maraka'nã e do Centro de Etnoconhecimento Sociocultural e Ambiental Cauyré, o congresso debateu diretrizes para a construção de uma universidade indígena que preserve e valorize o conhecimento ancestral, promovendo a formação superior com respeito à diversidade e à cultura dos povos originários. A própria aldeia já vem atuando como uma universidade, independentemente da validação do Estado.

A aldeia Maraka'nã é uma retomada indígena no Rio de Janeiro, situada ao lado do estádio do Maracanã. A aldeia reivindica a destinação indígena deste território, clamando por uma reparação histórica. Sua história passa pela aldeia Abeberacica, uma das mais aguerridas, e é até hoje lembrada como símbolo da resistência indígena. Ela existia numa região povoada por grande quantidade de pássaros conhecidos pelos indígenas como "Maraka'nã", ao longo das margens do rio que recebeu o seu nome e que, posteriormente, nomeou o bairro carioca.

Ao final do século 18, a região estava ocupada por fazendas de engenho de açúcar que pertenciam aos jesuítas. As terras foram loteadas e colocadas à venda. Sabe-se ainda que, em 1865, o terreno foi doado pelo duque e príncipe de Saxe, na época, marido da princesa Leopoldina, em 1886. Frisa-se que esses 14.300 m2 foram destinados de maneira Ad eternum para a pesquisa dos tubérculos e das sementes e de seus domesticadores, no caso os povos indígenas. Apesar disso, em 1884, o prédio foi repassado para a construção do Derby Club, sendo utilizado para sua sede até 1889, quando voltou a ser usado para seu destino originário pelo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio da República nascente.

O local recebeu o Museu do Índio, que, depois, foi transferido para outro lugar para a construção de um metrô, o que não aconteceu, pois o edifício foi tombado. Depois disso, o local ficou abandonado por quase três décadas. Em 2006, o Movimento Indígena da cidade do Rio de Janeiro formou o 1o Congresso Tamoio dos Povos Originários e decidiu instalar-se no território, pela memória dos moradores ancestrais e por considerar justa a ocupação de um lugar sagrado e tradicional de preservação da cultura originária.

Desde então, indígenas de diversas etnias ocupam o lugar. Enfrentamos ali constantes investidas das forças de repressão que representam a especulação imobiliária. E também surge um espaço pluriétnico e intercultural, para a troca de práticas e saberes originários, que é berço da Universidade Indígena Pluriétnica Aldeia Maraca'nã e também um local de acolhimento para os indígenas de passagem e para os descendentes dos antigos habitantes locais.

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