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Vento a favor

FSP, Nordeste, p. 1; 3
24 de Jun de 2014

Vento a favor
Expectativa é que R$ 37,4 bilhões sejam investidos em energia eólica na região Nordeste; setor deve gerar 125 mil empregos

Renata Moura Colaboração para a Folha, em Natal

Cidades localizadas no interior e no litoral da região Nordeste estão em meio a um boom de investimentos que tem multiplicado empregos e rendido à região a condição de maior polo de geração de energia limpa do país.
No centro desse movimento estão as usinas de energia eólica, a chamada "energia dos ventos". Elas se multiplicam em solo nordestino, onde está mais de 70% da potência instalada no Brasil, e há mais a caminho.
Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica, R$ 37,4 bilhões devem ser investidos na região para tirar do papel 8.388 megawatts (MW) de energia até 2018. Somados aos 2.241 MW que já estão implantados, a potência no Nordeste deverá alcançar 10.629 MW --que são suficientes para atender cerca de 54 milhões de pessoas (número superior ao da população do Estado de São Paulo).
A potência supera ainda a do complexo hidrelétrico do rio Madeira, em Rondônia, que terá capacidade para 6.450 MW, e é próxima à da usina de Belo Monte, no Pará, que poderá produzir até 11.233 MW e será a terceira maior hidrelétrica do mundo.
Na esteira dos projetos, a economia ganha: o setor, que emprega 33,7 mil trabalhadores em parques eólicos na região, deverá abrir ao menos 125 mil vagas na cadeia produtiva em cinco anos.
"Essa indústria movimenta a região com empregos, aumenta a renda da população com arrendamentos de terras e eleva a receita das prefeituras com o pagamento de ISS [Imposto sobre Serviços]", diz a presidente-executiva da ABEEólica, Élbia Melo.
O setor eólico acelera não apenas na região mas também no país, embalado por leilões federais --que garantem mercado à produção-- e pela crise econômica internacional, que contribui para a atração de investimentos e conhecimento estrangeiros.
Os ventos favoráveis, porém, são o maior peso nessa equação para o Nordeste.
"A qualidade do vento na região é uma das melhores do mundo. E tem as melhores médias anuais de velocidade no Brasil", afirma Milton Pinto, diretor de energia eólica do Cerne (Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia).
O setor também cresce impulsionado pelo crédito. Só o Banco do Nordeste liberou R$ 1,18 bilhão entre 2009 e 2013, ano em que houve um desembolso tido como excepcional, considerando que desde 2011 os empréstimos foram concentrados no BNDES.
Divulgada em maio, a perspectiva de investimento do banco para o setor elétrico entre 2014 e 2017 é de R$ 191,7 bilhões. As eólicas devem abocanhar 22,43% ou R$ 43 bilhões --segundo maior montante, atrás das hidrelétricas, com R$ 54,5 bilhões. O restante é previsto para a transmissão de energia.
A instituição banca a aquisição de equipamentos, o que inclui o financiamento da construção de parques eólicos. De 2007 a 2013, o desembolso para investimentos somou R$ 7,8 bilhões na região.
"O Nordeste é uma das áreas com maior potencial no país. E acreditamos que a eólica vai se consolidar como uma das principais alternativas energéticas para o Brasil", diz Laura Porto, diretora de Operações da Força Eólica do Brasil, uma joint venture entre o Grupo Neoenergia e a espanhola Iberdrola.

Desafio é melhorar transmissão e logística
Estatal investe R$ 3,1 bi em eólica em 4 Estados

Colaboração para a Folha, em Natal

Investidores privados predominam, mas não estão sozinhos no mercado de energia eólica. A Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), subsidiária da Eletrobras, está aplicando R$ 3,1 bilhões no Piauí, em Pernambuco, na Bahia e no Rio Grande do Norte.
A estatal detém participação de 49% nos projetos, tocados com parceiros privados. "Não há mais possibilidade para construção de hidrelétricas na região, e as eólicas têm margens boas de ganhos. Foi por isso que começamos a explorar essa possibilidade", diz José Ailton de Lima, diretor de Engenharia e Construção da Chesf.
Ele observa que, em 2018, as eólicas nordestinas empatarão com a Chesf em hidrelétricas, considerando a potência que devem atingir. E a perspectiva de crescimento é grande. "Estamos na infância eólica. Temos um longo e bom caminho a seguir", diz Milton Pinto, do Cerne.
Hoje, o Brasil é líder em geração eólica na América Latina, mas tem pouco mais de 1% da potência mundial. Dois desafios que o setor enfrenta são a logística de transporte de peças e o sistema de transmissão de energia, que sofreu atrasos no Nordeste --problema que deverá estar equacionado até o fim do ano, segundo a ABEEólica. (RM)

FSP, 24/06/2014, Nordeste, p. 1; 3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/172577-vento-a-favor.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/172578-desafio-e-melhorar-tra…

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