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SP precisa reviver 120 mil km de beira de rios

FSP, Cotidiano, p.C2
08 de Jun de 2004

Vegetação que fica nas margens é fundamental para manter a qualidade e a quantidade de água para abastecimento
SP precisa reviver 120 mil km de beira de rios
Mariana Viveiros
Da reportagem local
Os paulistas precisam de quase sete novas cidades de São Paulo em área de matas ciliares -vegetação nas margens de rios, fundamental para garantir a quantidade e a qualidade da água.
A porção devastada desse tipo de floresta no Estado -10 mil km2- corresponde a cerca de 70% do que havia originalmente. O tamanho do problema se reflete nos números por trás dele. São 120 mil km de margens de rios "depenadas" (quase três vezes a circunferência da Terra), cuja recuperação exige 2 bilhões de mudas, a um custo estimado em US$ 1 bilhão (ou quase R$ 3,2 bilhões).
A situação é pior nas regiões norte e oeste. Cinco bacias hidrográficas (que englobam grandes rios, seus formadores e represas) são prioritárias pelo maior grau de devastação: as dos rios Paraíba do Sul (no Vale do Paraíba); Piracicaba, Capivari e Jundiaí (que atende a região de Campinas e forma o sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da Grande São Paulo); Aguapeí; Mogi Guaçu e Tietê/Jacaré.
As matas ciliares não têm esse nome em vão. Sua função em relação aos cursos de água é muito parecida com a dos cílios para os olhos: defesa. Proteção contra assoreamento do solo e agrotóxicos, filtragem da água das chuvas, além da regularização da vazão (evitando cheias e secas) e formação de corredores de fauna.
A sua devastação é um dos alertas do primeiro Relatório de Qualidade Ambiental do Estado de São Paulo, lançado hoje pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e ao qual a Folha teve acesso. Ainda que, no geral, o documento aponte progressos, dados como esse revelam os prejuízos da herança de práticas econômicas despreocupadas com o ambiente e de novas pressões, as quais ameaçam áreas que deveriam, por leis naturais e criadas pelo governo, ser protegidas.
O Código Florestal obriga a preservação permanente da faixa que, desde a máxima margem de cada curso de água, vai de 30 m a 200 m, dependendo da largura.
Causas e soluções
As tradições agrícolas do Estado de São Paulo, de desmatar para plantar e de buscar terras o mais próximas possíveis dos cursos de água, se enquadram na categoria de causas históricas da destruição das matas ciliares, diz Lucia Sena, coordenadora de Planejamento Ambiental Estratégico e Educação Ambiental da Sema.
Mais atual, a exploração imobiliária das margens das represas -amparada por prefeituras que vêem na urbanização uma fonte de arrecadação tributária e, algumas vezes, pelos órgãos ambientais- é uma preocupação relatada por diversos comitês de bacia (órgãos que reúnem Estado, municípios e sociedade organizada), diz Helena Carrascosa, coordenadora do Programa de Recuperação de Matas Ciliares da Sema.
O primeiro passo na direção de recuperar a floresta perdida é uma verba de R$ 7 milhões, que a secretaria busca no GEF (fundo mantido por países desenvolvidos para bancar projetos que ataquem problemas globais).
O dinheiro, que pode chegar em 2005, servirá para projetos-piloto de reflorestamento, aprofundamento da busca de soluções e criação de um sistema que oriente todas as iniciativas pontuais de plantio tocadas por órgãos públicos, privados e ONGs no Estado. "Se tivesse qualquer recurso para reflorestamento, priorizaria áreas de matas ciliares pelos benefícios que elas trazem", diz Carrascosa.

FSP, 08/06/2004, p.C2

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