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Sem licenca, usina perde R$ 1 mi ao dia

FSP, Dinheiro, p.B11
24 de Abr de 2005

Estimativa é de diretor da hidrelétrica de Barra Grande (RS); Ibama diz que será cuidadoso para liberar enchimento de represa
Sem licença, usina perde R$ 1 mi ao dia
Thiago Reis
Da agência Folha
A usina hidrelétrica de Barra Grande, no rio Pelotas, divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, está perdendo R$ 1 milhão por dia, segundo o diretor-superintendente da Baesa (Consórcio Energética Barra Grande S.A.), Carlos Miranda.
O prejuízo tem sido provocado, segundo Miranda, pelo atraso na concessão da licença de operação pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para encher a represa. "A cada dia que passa, diminui a probabilidade de encher o lago. Só se chover muito podemos recuperar [o valor]", afirma.
Para ele, o projeto se tornou inviável a curto prazo. "Se os acionistas pudessem receber de volta o que pagaram, eles iriam querer." O consórcio é formado por Alcoa, Votorantim, Camargo Corrêa, CPFL Energia e DME (Departamento Municipal de Eletricidade) Poços de Caldas.
De acordo com o diretor de licenciamento e qualidade ambiental do Ibama, Luiz Felippe Kunz, a pressão da empresa é legítima, mas o processo é complexo e o Ibama será cuidadoso, pois preza pela "segurança ambiental, para evitar que surjam decisões apressadas, que já prejudicaram esse mesmo processo no passado".
A hidrelétrica, que custou R$ 1,3 bilhão e deve atender dois milhões de residências, enfrentou alguns contratempos que atrasaram o cronograma das obras, como o bloqueio de integrantes do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e ações de ambientalistas contra o corte da mata nativa de araucárias.
Após a Justiça suspender as liminares que proibiam o corte da vegetação, o Ministério Público exigiu que a Baesa compensasse o desmatamento com projetos de preservação.
Para resolver o impasse das famílias atingidas pela construção da barragem, que impediram por quase dois meses o desmatamento da área do reservatório da usina, Miranda diz que foram desembolsados cerca de R$ 20 milhões. "A missão está cumprida do ponto de vista social", diz.
Para André Sartori, integrante do MAB e atingido pela construção, a empresa está mentindo. "Nós fizemos um acordo, mas está só no papel. Não tem um palmo de terra comprada. Por enquanto é só promessa", afirma.
Segundo Kunz, haverá uma vistoria na primeira semana de maio para avaliar se os acordos estão sendo cumpridos e, assim, permitir "o mais breve possível" o funcionamento da hidrelétrica.
Sartori diz que, se for levado em conta o assentamento das famílias, haverá mais atraso quando virem a situação.
Dois guindastes, que custam R$ 30 mil ao dia à empresa, estão posicionados desde o último dia 2 para fechar as comportas.
A Baesa pretendia começar a fazer testes já em agosto e a gerar comercialmente energia em outubro. A potência máxima que a usina irá gerar é de 708 megawatts. Segundo a empresa, quantidade suficiente para suprir 30% da demanda de energia de Santa Catarina ou 20% do total da energia consumida no Rio Grande do Sul.
Sem a licença a tempo, Miranda afirma que irá perder a "janela hidrológica" e que terá um prejuízo, em um ano, da ordem de R$ 360 milhões. "Se ficar parado, alguém vai ter que pagar a conta. Esse empreendimento não suporta mais nenhuma conta. Já pagamos a conta ambiental, a social, a política", afirma.

FSP, 24/04/2005, B11

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