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Seca nos rios da Amazonia leva animais em extincao a morte

FSP, Cotidiano, p.C9
17 de Out de 2005

Botos e peixes-bois são mortos por pescadores
Seca nos rios da Amazônia leva animais em extinção à morte
Kátia Brasil
Eduardo de Oliveira
A seca nos rios da Amazônia também tem prejudicado espécies de mamíferos aquáticos, além dos peixes. Depois de detectar a mortandade de peixes-bois, pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) encontraram cinco botos -entre eles, dois filhotes- mortos nas regiões de Coari e Tefé.
Esses animais tornaram-se presas fáceis nas malhadeiras (redes) dos ribeirinhos porque estão em águas muito baixas.
Segundo o pesquisador do Inpa Anselmo d'Affonseca, 42, as três primeiras espécies de boto tucuxi (escuro) encontradas mortas, na quarta-feira, estavam no lago Mamiá, em Coari (a 370 km oeste de Manaus). Os animais, com mais de 1,30 m de comprimento, eram fêmeas e tiveram os olhos e os órgãos retirados com facões.
Outros dois botos vermelhos, filhotes, foram encontrados no dia seguinte no lago de Tefé (a 525 km da capital) com marcas de facões no rosto. A equipe de pesquisadores, que inclui veterinários do Ibama, faz expedição na região para conscientizar a população sobre o risco do comprometer as espécies. Tanto o boto quanto algumas espécies de peixes-bois estão ameaçados de extinção.
"Mas quando eles [os pescadores] encontram os botos, que estão muito vulneráveis, não perdoam. Eles não gostam do boto porque o animal é um competidor natural na pesca. Os botos rasgam as redes e comem os peixes", afirmou Affonseca. A carne do boto não é comercializada.
A veterinária do Ibama Branca Tressoldi, 29, disse que mais de cem peixes-bois foram mortos durante a seca dos rios e lagos.
No próximo dia 25, uma equipe de pesquisadores parte para a região do médio rio Amazonas para nova expedição. "Alguns ribeirinhos, conscientizados sobre a preservação desses animais, nos ligam denunciando a matança."
Ontem em Tabatinga (1.105 km de Manaus) o Serviço Hidrológico do Brasil anunciou que o rio Solimões, principal tributário do Amazonas, está subindo cerca de 10 cm por dia, após constatação de chuvas em suas nascentes no Peru. Segundo Juscelino da Costa Silva, 33, encarregado do Controle das Águas de Tabatinga, e que acompanha a vazante e a cheia do rio há 15 anos, em setembro houve uma subida repentina. "Ela durou sete dias e depois o volume de água do rio voltou a descer."
Saúde pública
O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), disse, em entrevista à Folha, que a maior preocupação do governo em meio a seca é com riscos à saúde pública. "As preocupações que nós temos de curto e médio prazo são com relação a medicamento, alimento, água e combustível."
A estimativa é que 197 mil pessoas em 914 comunidades foram afetadas pela seca. O governador afirmou que, se a situação da seca se agravar, poderá haver remoção da população dos lugares mais críticos.
FSP, 17/10/2005, p. C9

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