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Reservatórios de usinas frustram expectativa e baixam em novembro

FSP, Mercado, p. 1-2
06 de Dez de 2014

Reservatórios de usinas frustram expectativa e baixam em novembro
Em parte das regiões SE, CO e NE, nível de chuvas foi o mais baixo em quase um século
Setor já prevê que, no próximo ano, todas as térmicas continuarão ligadas, o que dever encarecer a energia

DIMMI AMORA JÚLIA BORBA DE BRASÍLIA

Os principais reservatórios de água para geração de energia elétrica no país se esvaziaram em novembro, primeiro mês do período chuvoso.
O comportamento esperado era o oposto: que estivessem se enchendo para, em abril de 2015, com o fim das chuvas, terem reservas suficientes para garantir energia e água durante os meses secos (de maio a outubro).
O fato é que choveu menos que o esperado nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, onde estão concentrados os principais reservatórios do país. Em algumas dessas áreas nunca choveu tão pouco para um mês de novembro em quase um século.
Para comparação, em novembro de 2000 choveu 8% acima da média do mês, segundo dados do ONS. Ainda assim, ao fim daquele período chuvoso, o país teve que decretar um racionamento.
Já no mês passado, choveu 31% abaixo da média para o mês. Apesar da situação pior, o país hoje depende menos de geração hidrelétrica.
O reservatório de Furnas (MG), o principal do país para abastecimento elétrico, ao fim do mês passado registrou 11,64% do seu volume útil, dois pontos percentuais abaixo de outubro.
Na região Sudeste, choveu 68% da média de oito décadas dos meses de novembro. Em alguns sistemas, como o da Cantareira (SP), a quantidade de água que entrou nas usinas foi 50% abaixo do pior ano já registrado, segundo a ANA (agência reguladora).
A consequência da estiagem prolongada é que a quantidade de água nos reservatórios dessas regiões é hoje a mais baixa desde a crise elétrica de 2001.
Pelos dados oficiais do ONS, ao fim de novembro, no Sudeste os reservatórios estavam (em volume de água acumulada) com apenas 16% do total de energia que as usinas podem gerar na região. No ano do apagão, esse valor era de 22% no mesmo mês.
"Sem dúvida nenhuma o próximo ano será muito difícil. Não estamos falando nem em racionamento, mas em custos. As térmicas terão de continuar ligadas o ano todo", disse o presidente-executivo da Abrace (associação de grandes consumidores), Paulo Pedrosa.
As principais usinas térmicas do país, que vem segurando o fornecimento de energia, queimam óleo combustível ou carvão. Por isso são mais caras e poluentes. Esse aumento de preço afeta os contratos de energia para indústria, comércio e residências.
De acordo com Bernardo Bezerra, gerente da consultoria em energia PSR, há uma grande expectativa sobre as chuvas de janeiro a abril, responsáveis por 51% de toda a água que chega aos reservatórios no ano.
"Há uma esperança de que o quadro possa se reverter. A questão é que estamos entrando neste período úmido com os níveis mais baixos da história."

Evitar o desperdício abre janela para novos negócios

Patrocinadas pelo governo, empresas projetam redes inteligentes de consumo

Sistema permite ao cliente saber quanto cada prédio, andar, departamento, sala e até aparelho consomem
MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO

Enquanto todos os esforços se voltam à busca de novas formas de gerar energia, um outro mercado se expande a partir da oportunidade de criar mecanismos que permitam com que empresas e consumidores reduzam o consumo, evitando o desperdício de eletricidade.

Para a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) ganhos de eficiência poderão gerar uma economia de energia equivalente a 18% do consumo potencial em 2050, o que representará --se confirmado o prognóstico-- a capacidade de seis usinas de Itaipu.

Um dos motores dessa busca por eficiência deverá ser o aumento do preço da energia. Só para o consumidor residencial, a eletricidade ficou, em média, 16% mais cara neste ano. A seca e o socorro a empresas elétricas deve produzir novo reajuste no ano que vem. Com o limite de fontes mais baratas de energia, a geração deve lançar mão de projetos mais custosos, que chegarão cedo ou tarde à conta do consumidor.

Patrocinadas pelo governo, empresas já elaboram projetos de redes inteligentes de consumo, que permitirão, no futuro, que a energia seja cobrada de acordo com horário de uso. Gastou luz na hora do "rush" do consumo, paga mais.

Uma start-up que nasceu na USP (Universidade de São Paulo) está entrando neste mercado mesclando a velha sabedoria da vovó --vigiar e anotar o gasto-- com o que há de mais novo em tecnologia no mundo atualmente: a internet das coisas.

A empresa nasceu no ano passado e em 2014 deve alcançar um faturamento de R$ 300 mil, tendo como um de seus produtos um sistema que promete ao cliente saber quanto cada prédio, andar, departamento, sala e até aparelho consomem de energia.

Revelando os "gastões" e também a hora em que o consumo é feito, é possível traçar um plano para economizar.

"Se uma empresa descobre que está gastando muito à noite e não tem ninguém trabalhando à essa hora, pode estudar como reduzir o consumo nesse horário", exemplifica um dos sócios, Artur Polizel, 25, que deixou um emprego no mercado financeiro para se dedicar à empreitada.

Os cinco sócios, todos na faixa dos 20 anos, criaram a Dev Tecnologia com o intuito de desenvolver tecnologia que permita com que objetos sejam conectados à internet, sem cabos ou fios.

Ligados à rede, eles podem fornecer informações ao usuário, que aí pode tomar decisões mais precisas sobre como utilizá-los.

A empresa instala sensores nos quadros de luz e coleta informações de consumo e possíveis falhas no fornecimento. No futuro, prevê Silvia Takey, outra sócia, será possível monitorar também temperatura e umidade dos ambientes pela internet.

"Tirando a ineficiência dos edifícios é possível ter mais energia disponível e pagar menos", diz Takey.

País jogou fora 10% de energia entre 2008 e 2013, diz entidade

DE SÃO PAULO

Pesquisa feita pela Abesco, associação que reúne empresas que prestam serviço de eficiência energética, indica que cerca de 10% da eletricidade que poderia ter sido consumida no país foi desperdiçada entre 2008 e 2013.

Segundo o presidente da entidade, Rodrigo Aguiar, esse é um patamar de perda mais elevado do que o observado nos países europeus.

Enquanto a indústria brasileira desperdiçou cerca de 6% da energia que poderia consumir neste período, a indústria da Alemanha perdeu 3,5% entre 2010 e 2015. O uso de equipamentos industriais mais antigos no Brasil é uma das explicações, diz Aguiar.

Para Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, contudo, a comparação com a Europa não faz jus à diferença entre geração energética feita aqui no país e no continente.

"Na Europa, a maior parte dos países é importador de energia e o governo incentiva a redução do consumo para diminuir a dependência externa do país. Além disso, no Brasil, o consumo per capita ainda é bem inferior ao da Europa", afirma Castro.

O brasileiro consome cerca de um terço de energia elétrica que gasta um alemão. A renda mais baixa no Brasil justifica a diferença.

Entretanto, o especialista não desconsidera a necessidade de dar mais eficiência aos gastos elétricos. Mecanismos como redes inteligentes ainda são caros para o consumidor brasileiro, afirma Castro. Mas o estímulo à troca de equipamentos domésticos por novos mais econômicos é uma estratégia que pode dar certo.

Segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o Brasil deve ter, em média, 2,3 TVs por casa em 2050--hoje são 1,6. Também deve aumentar a presença de máquinas de lavar e ar-condicionado.

A previsão da EPE é que esses equipamentos evoluam. Aparelhos de entretenimento, como videogames, tablets, laptops e TVs, devem ganhar 1% de eficiência energética por ano até a metade do século. "As pessoas saíram das lâmpadas incandescentes para as compactas e agora já estão indo para as led, mais econômicas", diz Castro.

Consumo e economia

2.500 KWh
é o consumo aproximado por ano de cada brasileiro
equivale a cerca de um terço do que consome um alemão

36 mil GWh
é o quanto a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) prevê que seja economizado de energia elétrica com mecanismos de eficiência, em 2020
deverá representar 5% da energia consumida no ano

2,7%
é o quanto deve crescer, por ano, o consumo residencial de energia até 2050
deve chegar a 7.000 kWh/ano

363 mil GWh
é o quanto a EPE prevê que seja economizado de energia elétrica com mecanismos de eficiência, em 2050
representa uma economia equivalente à capacidade de seis usinas de Itaipu

59% das obras de transmissão no país estão atrasadas

Dos 388 projetos em andamento, 229 já perderam o prazo, contra 81 em dia
LUCAS VETTORAZZO DO RIO

Mais da metade das obras de linhas de transmissão de energia em andamento do país está atrasada.

Relatório publicado em novembro pela Aneel mostrou que 59% dos 388 projetos em andamento estão atrasados. São 229 obras fora do cronograma no país, contra 81 em dia e 27 adiantadas.

Os atrasos, que impedem que usinas de geração de energia sejam ligadas à rede de distribuição, contribuem para a sobrecarga das linhas já existentes, o que eleva a vulnerabilidade do Sistema Interligado Nacional.

Relatório publicado em outubro pelo ONS sugere que o ritmo de expansão do sistema de transmissão está aquém do necessário. De acordo com Plano de Ampliações e Reforços, 310 obras de transmissão precisam ser licitadas de 2015 a 2017 para reforçar a atual malha de transmissão, em um investimento estimado em R$ 13,8 bilhões.

Desse total, 104 projetos (34%) já tinham sido sugeridos no relatório anterior, que engloba o triênio de 2014 a 2016, e não foram licitados.

Um dos principais entraves, segundo o setor, é a dificuldade de obtenção de licenciamento ambiental dado pelo Ibama. Segundo o presidente da Abrate (Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica), Mário Dias Miranda, as licenças tem demorado em média um ano e meio, quando o normal seria em torno de quatro meses.

Estudo feito pelo Instituto Acende Brasil analisou projetos de linhas de transmissão prontos e concluiu que o prazo médio exigido pela Aneel para a conclusão dos empreendimentos é de dois anos. A obra só pode começar depois de conseguida a licença provisória e as de instalação e operação.

"Isso significa dizer que as empresas que investem em transmissão gastam 75% do tempo estipulado pela Aneel para a conclusão das obras com licenciamento. Como não é possível fazer uma obra dessa complexidade em poucos meses, os projetos atrasam", afirmou Cláudio Sales, presidente do Acende Brasil.

O instituto sugere que os lotes a serem oferecidos em leilão da Aneel venham com a licença prévia expedida, como nos leilões de geração.

As perspectivas de atraso aliadas ao modelo atual de leilões da Aneel tem, segundo Sales, reduzido o interesse pelas linhas de transmissão, segmento ainda considerado o mais seguro do setor, já que as concessões são para contratos de 30 anos.

Ele diz que os cálculos da Aneel para calcular o faturamento previsto com os empreendimentos não levam em conta os custos extras com licenciamento. No último leilão da Aneel, ocorrido em 18 novembro, mesmo com a extensão dos prazos para a conclusão do projeto para 30 a 42 meses, somente 4 dos 9 lotes foram arrematados.
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Crise abala fama de elétricas de boas pagadoras de dividendos
Falta de chuva e endividamento comprometem desempenhos

JOANA CUNHA DE SÃO PAULO

As ações das companhias do setor elétrico, favoritas dos investidores que têm foco em bons pagamentos de dividendos, passam por um momento difícil, mas ainda inspiram expectativas positivas.

A queda na distribuição de dividendos por parte das empresas do setor beira os 20% nos últimos dois anos, segundo cálculos do economista Clodoir Vieira, da consultoria Compliance.

"De setembro de 2010 a setembro de 2012, as elétricas pagaram R$ 34,64 bilhões em dividendos. Esse número caiu para R$ 27,94 bilhões no período seguinte, de setembro de 2012 a setembro de 2014."

A partir da lei no 12.783, de janeiro de 2013, que visava reduzir a conta de luz, as mudanças nas regras de concessão afetaram os ganhos de algumas dessas empresas.

Às voltas com a ameaça de racionamento causado pela recente escassez de chuvas, geradoras tiveram de recorrer a fontes mais caras, como as termelétricas, endividando-se e achatando ainda mais a rentabilidade.

"De dois anos para cá, quando a presidente resolveu, com uma penada, baixar o preço da energia, todo o setor se desestruturou, daí a necessidade de o governo ajudar as empresas com empréstimos. Essa confusão generalizada atingiu o ápice neste ano, com a falta de chuvas", afirma Fernando Leitão, diretor da Hoya Corretora.

Mas o atual cenário de diminuição da margem líquida do setor, que vem abalando a distribuição de dividendos, não significa que, necessariamente, as companhias continuarão pagando menos no futuro, segundo Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf.

É que, historicamente, as elétricas estão entre as melhores pagadoras. Isso ocorre porque elas já possuem infraestrutura montada --não precisam manter novos e altos investimentos-- e têm geração de caixa constante.

MOMENTO

O baque atual nos dividendos é circunstancial, na opinião de Mário Amigo, professor de finanças da Fipecafi.

"Há uma série de circunstâncias que não necessariamente vão se propagar", diz Amigo, citando o baixo nível de chuvas, que reduziu a capacidade de distribuição de energia, e a obrigatoriedade de ajustar a oferta em leilões de custo mais alto.

Para Bruno Piagentini, analista da Coinvalores, as elétricas continuam sendo um setor atrativo para a distribuição de proventos.

"É importante para o investidor que busca dividendo ter atitude mais seletiva. Mas é um setor em que a demanda tende a ser constante", diz.

Ele cita companhias que, apesar de terem perdido parte da previsibilidade do fluxo de caixa, conseguiram conservar os dividendos, como a Light e a Copel.

Em 2014, os proventos (dividendos e juros sobre o capital próprio) oferecidos por companhias abertas brasileiras ficaram em R$ 0,63 por distribuição até o início deste mês, segundo estudo do Instituto Assaf com base em dados da BM&FBovespa.

Já o setor de energia distribuiu em média R$ 0,64 por evento de distribuição de proventos em 2014 até dezembro.

Como base de comparação dos patamares superiores das companhias elétricas no passado, em 2008, enquanto a média dos proventos por ação ficou em R$ 0,81, o setor de energia registrava R$ 1,81.

FSP, 06/12/2014, Mercado, p. 1-2

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