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Principais represas do Cantareira têm devastação acima da média

FSP, Cotidiano, p. C1; C3
24 de Fev de 2015

Principais represas do Cantareira têm devastação acima da média
A cobertura florestal de Jaguari e Jacareí é de apenas 26,9%; reservatório está à beira do colapso
Sistema é o principal da Grande SP e está em situação crítica; opera com pouco mais de 10% da capacidade total

Marcelo Leite de São Paulo

As principais represas do sistema Cantareira, Jaguari e Jacareí, têm a menor taxa de cobertura florestal em suas bacias de captação. Contam com meros 26,9% de florestas nativas, contra a média de 34% na região. As cifras foram apuradas pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) com base em imagens de satélite.
Esses percentuais podem parecer bons, tendo em vista que a mata atlântica tem um índice de preservação de 12,5%, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica. Mas essa é uma área de mananciais, que precisa de florestas para garantir a infiltração da água até os lençóis freáticos.
Em situação crítica, o sistema operou ontem (23/2) com só 10,6% de sua capacidade.
Levantamento similar da SOS, mas que levou em conta só os fragmentos florestais com pelo menos 10 mil m² (1 hectare) de área, pinta um quadro ainda mais sombrio: apenas 21,5% do Cantareira com cobertura de matas.
Na dúzia de municípios da região, só Caieiras chega a 50% de florestas preservadas.
Os reservatórios Jaguari e Jacareí, que são interligados, respondem por dois terços dos 33 mil litros por segundo que o Cantareira podia produzir quando não havia uma estiagem tão grave.
Era o bastante para abastecer quase 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo, hoje reduzidos a 6,2 milhões sob o risco de ver as torneiras secarem.
"Entre 2011 e 2014 houve 25% a menos de chuvas sobre a região do Cantareira, em relação à média histórica", afirma Oscar Sarcinelli, pesquisador do IPÊ.
"Entretanto, o volume de água nos reservatórios caiu cerca de 116% nesse mesmo período [entrando no volume morto de algumas represas], demonstrando a fragilidade do sistema", completa.
Não há, porém, um programa de larga escala para empreender o que seria recomendável: melhorar o manejo das pastagens degradadas e restaurar parte da mata que foi derrubada --começando pelos 60% de áreas que, por lei, são de preservação permanente e foram devastadas.
Os programas de restauração, no entanto, não saem da escala de pilotos. O Projeto de Recuperação de Matas Ciliares, da Secretaria do Meio Ambiente, terminou em 2011 sem ir muito além de projetos demonstrativos em algumas propriedades paulistas.
A Sabesp mantém iniciativas para recuperação e preservação da mata nativa no entorno das represas do Cantareira, em parceira com ONGs como IPÊ e TNC (The Nature Conservancy).
Empresas obrigadas a fazer compensação ambiental, por exemplo, podem plantar mudas nas beiras de represas.
Foi assim que a Dersa, para compensar o que desmatou nas obras do Rodoanel, plantou 1.135.535 mudas no Cantareira. Outros 175 hectares (1,75 km²) foram recuperados pela TNC no entorno do reservatório do Cachoeira, em Piracaia.
A iniciativa mais ambiciosa é da SOS, um novo edital de R$ 2 milhões do Clickarvore para doar 1 milhão de mudas de espécies nativas para restauração florestal nas bacias do Cantareira. Previsto para 2014, foi prorrogado para agosto deste ano.
Todas juntas, as iniciativas não chegam a 3,5 milhões de árvores, se tudo der certo. É cerca de 10% do necessário para recuperar só áreas de preservação permanente, que, por lei, não deveriam ter sido desmatadas. Além disso, seria recomendável restaurar boa parte dos 66% desmatados nas bacias de captação.

Eucalipto e pasto ocupam áreas de preservação

Pelo Código Florestal, a beira de rios, represas e nascentes deve contar com uma faixa de 30 a 100 metros de vegetação nativa.
São as matas ciliares, que deveriam proteger da erosão e do assoreamento como cílios protegem os olhos de grãos de poeira.
Essas áreas de preservação permanente estão em péssima situação na região do sistema Cantareira.
A maioria está ocupada por pastagens degradadas (49%) ou plantações de eucalipto (11%), segundo estudo do Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas) com imagens de satélite.
Pastos degradados favorecem a erosão. Com mais gado do que a produção de capim aguenta, o pisoteio constante compacta o solo, que acaba ficando mais impermeável.
Quando chove, a água escorre pela superfície em vez de se infiltrar. A enxurrada leva terra ao fundo dos rios e represas, diminuindo o volume de água.
Estima-se que centenas de milhares de toneladas de sedimentos se acumulam nos rios e reservatórios do Cantareira a cada ano.
Como quase metade da bacia do sistema está coberta de pastagens, é irrealista pensar em acabar com elas. "Um cenário em que tudo é floresta é economicamente inviável", diz Oscar Sarcinelli, economista ambiental do IPÊ.
Uma saída, implantada em um projeto do IPÊ é uma pecuária de menor impacto. Nele, há uma rotação do gado entre piquetes para permitir que o capim se recomponha.
Os pés de eucalipto, por sua vez, consomem água quando crescem, como toda planta.
Cortados para abastecer fornos de pizzarias e padarias de São Paulo, ou para virar pasta de celulose usada em fábricas de papel, voltam a crescer e a consumir água.

ÁRVORES
O número de mudas necessárias para recuperar áreas que não deveriam estar desmatadas na bacia que alimenta o Cantareira é estimado em 34 milhões.
A quantidade é equivalente a uma árvore e meia para cada morador da Grande São Paulo.
Os projetos existentes de recomposição de mata atlântica não chegam perto de começar a resolver o problema.

Alckmin suspende 'pacote de transparência' sobre rodízio
Após chuvas, governador adia divulgação de percentual mínimo que o Cantareira deveria atingir em março

Gustavo Uribe de São Paulo

Com as chuvas de fevereiro e o avanço dos níveis das represas da Grande São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu adiar a divulgação do chamado "pacote de transparência" que preparava sobre a crise hídrica.
A principal medida se referia ao chamado "gatilho" de um eventual rodízio de água.
Até a semana retrasada, a decisão do governo paulista era tornar público nesta semana um percentual mínimo que o sistema Cantareira deveria atingir até o final de março para evitar a adoção da medida.
Se atingisse o "gatilho", nada de rodízio. Caso contrário, ele teria início imediatamente em toda a região metropolitana da capital paulista.
Segundo a Folha apurou, contudo, com o avanço das chuvas acima da média histórica nos sistemas, o governador decidiu não divulgar por enquanto o percentual.
O diagnóstico do tucano é de que não haveria no momento necessidade de "alarmar" a população com a hipótese de um rodízio de água.
No final da semana passada, em indicação de sua decisão, Alckmin disse que nada demonstra "hoje necessidade do rodízio" e que "se as obras forem entregues no prazo, não dependemos de chuva".
A divulgação do "gatilho" é defendida tanto por secretários estaduais como pelo comando da Sabesp. A questão voltará a ser discutida na metade de março, próximo ao início do período de seca.
Não é a primeira vez que o tucano decide postergar medida por ter expectativa de aumento do volume de chuvas.
No início deste mês, a Sabesp apresentou a Alckmin plano de rodízio para início imediato. A iniciativa, que trazia a opção de 12 horas com água e 36 horas sem, não foi adotada naquele momento porque o tucano apostou na recuperação dos sistemas.
Nesta segunda (23), o nível do Cantareira voltou a subir e chegou a 10,6% de capacidade. No domingo (22), pela primeira vez desde 17 de janeiro, não choveu nos seis principais reservatórios da Grande SP.
As chuvas constantes no início de fevereiro não devem se repetir nos próximos dias, que devem ser quentes e secos.

Justiça barra casas em área de nascentes

A Justiça suspendeu a construção de casas populares em áreas de nascentes da represa Billings, no chamado Parque dos Búfalos.
O prefeito Fernando Haddad (PT) diz que tem o aval da Cetesb (órgão ambiental de SP) e vai recorrer. "Se você não organizar a ocupação, só vai favorecer a ocupação desordenada", diz.

FSP, 24/02/2015, Cotidiano, p. C1; C3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209450-principais-represas-d…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209451-eucalipto-e-pasto-ocu…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209452-alckmin-suspende-paco…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209453-justica-barra-casas-e…

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