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28 de Jan de 2025
Presidente da COP30 tenta conciliar divisões internas, como petróleo e desmatamento
Corrêa do Lago inicia mandato com reuniões e mira Congresso e setores da economia
João Gabriel
28/01/2025
Divisões nacionais, inclusive dentro do governo Lula (PT), sobre combustíveis fósseis e desmatamento serão alguns dos obstáculos que o recém-anunciado presidente da COP30 (conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas), André Corrêa do Lago, terá que enfrentar no cargo.
Seu objetivo, segundo pessoas envolvidas disseram à Folha sob anonimato, é tentar alinhar o discurso interno do país sobre esses pontos antes mesmo de iniciar conversas internacionais para a cúpula climática que ocorrerá em Belém de 10 a 21 de novembro.
Sobre o primeiro, a ala ambiental ligada à ministra Marina Silva defende que se corte drasticamente o uso dessas fontes. Já o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) e seus aliados propõem a continuidade dessa atividade pelas próximas décadas.
Sobre as florestas, o agronegócio entende que o desmatamento pode acontecer desde que cumprindo a legislação vigente, para a expansão agrícola. Ou seja, que é cabível combater apenas o desmatamento ilegal.
Já ambientalistas defendem o fim de qualquer tipo de desmatamento, a chamada política de desmatamento zero.
De acordo com pessoas com conhecimento das tratativas, Corrêa do Lago entende que precisa construir um consenso interno sobre esses assuntos para fortalecer a credibilidade do Brasil nas conversas com os demais países.
E argumenta que o país-sede da COP30 precisa apresentar resultados diante de outros atores das negociações.
Na avaliação de cinco pessoas que atuam nessas negociações climáticas, o embaixador tem uma visão pragmática sobre esses temas e acha possível que exista uma estratégia para uso das fontes fósseis como forma de viabilizar energias renováveis e soluções sustentáveis.
O principal alvo dessa discussão no governo Lula tem sido a exploração de petróleo na Bacia Foz do Amazonas, na margem equatorial. A Petrobras busca autorização junto ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para realizar a perfuração de um poço no chamado bloco 59.
Já a redução do desmatamento é a forma mais eficaz de o Brasil cortar suas próprias emissões de CO2, mas não é uma estratégia replicável em muitos outros países.
"Energia é um dos assuntos mais delicados do ponto de vista político e geopolítico. A discussão tem que ser muito específica para cada país", disse ele em entrevista à Folha.
Um movimento estudado no âmbito da presidência da COP é o de ajustar o discurso de que a conferência de Belém seria a "COP da floresta". A frase se tornou uma espécie de slogan informal para descrever o evento, mas o embaixador avalia que, embora seja importante ressaltar o papel da amazônia e da restauração da floresta para o equilíbrio do planeta, as discussões não podem se resumir à realidade brasileira.
Um dos fatores que pesaram para a escolha do embaixador para presidente da COP30 é sua capacidade de dialogar tanto com ambientalistas quanto com os setores de energia, indústria e agronegócio.
"O Brasil precisa constituir um pacto que reúna o setor produtivo e sociedade, entidades privadas, setor ambiental e o governo, em torno de uma pauta comum para a COP30, que consolide iniciativas e para o Brasil emergir como vanguarda da economia de baixo carbono", diz o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), que é vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e participa destas conversas.
Para Roberto Muniz, diretor de relações institucionais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), "neste momento, o mercado financeiro e o setor produtivo se unem na busca de uma solução para melhores investimentos". "O que o embaixador propõe é real, nós já estivemos com ele e nos colocamos à disposição de participar efetivamente desse debate", completa.
O embaixador já vinha atuando nesta articulação interna mesmo antes de assumir a presidência da COP30, mas na condição de secretário de Clima do Itamaraty.
Agora no cargo, já com começou um movimento para se reunir com todos os ministros do governo -e as primeiras agendas envolvem nomes como Geraldo Alckmin (Indústria), Marina Silva (Meio Ambiente), Fernando Haddad (Fazenda), José Múcio (Defesa), Carlos Fávaro (Agricultura) e Jader Filho (Cidades), além do assessor especial da Presidência.
Também deve manter os diálogos com entidades representativas de diferentes setores e, a partir do início do ano legislativo, em fevereiro, ele também pretende começar agendas com integrantes do Congresso.
Só depois disso, Lago deve intensificar as conversas internacionais. A expectativa é que isso aconteça em março.
O embaixador tem dito que é necessário esse diálogo interno primeiro, porque aparecer em negociações multilaterais com opiniões internas divergentes pode ter efeito negativo para o país nas tratativas.
Segundo uma pessoa que atua diretamente com o embaixador, sua avaliação é que ainda há muito desconhecimento sobre como funciona a conferência do clima da ONU e como cada ator pode contribuir em suas discussões.
Um de seus objetivos é pautar os debates em torno de uma bandeira histórica do país: o desenvolvimento sustentável para construir uma economia de baixo impacto, compatível com o cumprimento das metas de redução de emissões de poluentes.
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