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Autor: MORAES, Marco
08 de Set de 2024
Por que não conseguimos reduzir as queimadas no Brasil?
Instituições governamentais, que deveriam aplicar multas, e bancos, que decidem para quem conceder crédito, são coniventes
Marco Moraes
Geólogo e escritor, é pesquisador de mudanças climáticas e autor de "Planeta Hostil" (ed. Matrix)
08/09/2024
Enquanto o Pantanal e a Amazônia ardem em chamas, naquele que pode ser o pior ano na história da devastação desses biomas, brasileiros e a comunidade internacional se perguntam por que não conseguimos ao menos resolver parte desse problema.
É fato que a mudança climática, com o aumento da temperatura, estiagens prolongadas e chuvas mais intensas, porém mais espaçadas, estão causando um grande aumento dos incêndios florestais em todo o mundo.
Vale registrar que em muitos biomas, principalmente nas florestas temperadas e no cerrado brasileiro, o fogo faz parte do ecossistema. No entanto, mesmo nesses lugares os incêndios têm se alastrado descontroladamente, destruindo a vida selvagem, propriedades e causando perda de vidas humanas em proporções catastróficas.
No Pantanal e na Amazônia, a umidade não deixa que o fogo natural, nas raras vezes em que ocorre, se alastre. As queimadas ali são provocadas pela ação humana, irresponsável ou mesmo criminosa. Se essas é a causa das queimadas, os esforços para reduzi-las devem se voltar para a identificação e punição de quem está colocando fogo na mata.
Tal comportamento deveria ser inibido, mas não é por três razões principais. Um estudo recente do Greenpeace, em 478 propriedades onde se registraram focos de incêndio no chamado "Dia do Fogo" -quando, em agosto de 2019, grupos ruralistas combinaram queimadas em série na Amazônia-, mostrou que apenas 10% delas receberam multas relacionadas a queimadas ilegais, e muitas continuam sendo beneficiadas com recursos do crédito rural.
Ou seja, as instituições governamentais -que deveriam aplicar multas- e os bancos -incluindo o Banco do Brasil, que decidem para quem conceder crédito- são coniventes com os criminosos. Além das dificuldades atuais, o Congresso, onde são numerosos os tais membros da "bancada do boi", há mais de 25 projetos que pretendem tornar mais flexíveis as leis ambientais, sendo que 8 avançaram inclusive durante o período da tragédia das chuvas no Sul. E há mais de uma centena esperando para serem colocados em pauta. Ou seja, se a legislação atual não é aplicada, imagine como ficará a situação com a tal "flexibilização".
O Brasil tem um modelo econômico baseado na exportação de commodities, como carnes, grãos e minérios, que estão entre os produtos de menor valor agregado do mundo -mesmo quando produzidos com alta tecnologia, como é o nosso caso com boa parte do agronegócio.
Os defensores desse modelo estão cada vez mais poderosos, controlando a política e até mesmo a opinião pública. Vendem a ideia de que esse modelo econômico é nossa melhor opção.
O resultado é que o Brasil, na contramão do planeta, vive um processo de desindustrialização, baixo investimento em educação e capacitação tecnológica, e uma visão extrativista comparável à dos exploradores que aqui chegaram há mais de 500 anos.
Não devemos ser contrários ao agronegócio. O Brasil pode, sim, ser o celeiro do mundo. Mas para isso não é necessário destruir mais biomas, como a Amazônia, que dariam um retorno muito maior com a exploração sustentável de seus frutos, essências e muitos outros produtos que são únicos e valiosos.
A sociedade brasileira, portanto, está refém de um agronegócio que se desenvolve com base em um modelo retrógrado e insustentável. E estamos fazendo muito pouco para mudar isso. O atual governo parece ter boas intenções -no discurso. Mas o fato é que não houve mudança significativa em nenhum dos processos de degradação ambiental no país.
Até quando vamos agir assim? Não chegou o momento de compreendermos que a sustentabilidade é o caminho para um futuro melhor para todos nós? Por quanto tempo mais seremos o exemplo mais visível para o mundo de uma sociedade complacente com os danos ambientais?
Em breve teremos eleições municipais. É uma oportunidade para começarmos a virar esse jogo. Vote em quem vai lutar por uma economia mais moderna e sustentável. Senão por outro motivo, porque sua vida e seu futuro dependem disso.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/09/por-que-nao-conseguimos-r…
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