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Autor: Artur Búrigo
03 de Set de 2024
Estudo sobre Nimu Borum, que viveu entre 600 e 1300 anos atrás, deixa legado para arqueologia, afirmam professores
Uma pesquisadora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) busca resgatar a história de uma criança indígena sepultada em uma casca de árvore entre 600 e 1.300 anos atrás. Ela foi encontrada durante uma escavação feita em julho de 2004 no sítio da Lapa do Caboclo, em Diamantina, na região central de Minas Gerais.
A responsável pelo estudo é a arqueóloga indígena Bibi Nhatarâmiak, 25, que conhecia a história da criança. Ela afirma ter ficado surpresa quando soube que nenhuma outra pesquisa tinha investigado a fundo o caso.
Na dissertação de mestrado, apresentada neste ano, a pesquisadora usou exames de tomografia na mandíbula e arcada dentária para concluir que a idade da criança é de cerca de dez anos, em vez dos três estimados anteriormente.
Agora, no doutorado, Nhatarâmiak pretende abrir a estrutura da casca da árvore para conhecer mais detalhes da vida de Nimu Borum. Ela afirma que o nome da criança foi transmitido a ela em contato com os ancestrais.
"Durante o mestrado eu não tive a liberação espiritual para fazer a abertura da casca da árvore", conta a pesquisadora.
"Duas semanas depois da defesa da minha dissertação eu tive essa liberação da própria criança, de poder pegar nos ossos dela, ter esse diálogo de forma mais íntima. Essa liberação espiritual que muitas vezes vem por meio de sonhos."
Após a escavação em 2004, Nimu -que não havia sido nomeada na época- ficou no acervo do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, local que foi alvo de um incêndio em junho de 2020.
As chamas atingiram praticamente todo o acervo biológico da estrutura. A criança indígena, porém, estava em uma exposição na época e não foi atingida pelo fogo, lembra a professora do departamento de arqueologia da universidade Mariana Petry Cabral.
Ela também é a orientadora do projeto de Nhatarâmiak e disse ter ficado impactada pela forma com que a pesquisadora trata a criança. Ela reforça que isso pode servir de legado para novas pesquisas.
"Temos um histórico de lidar com ancestrais que a gente encontra nos contextos arqueológicos como esqueletos ou ossos. Na verdade, são pessoas que a gente está encontrando, e com a Bibi eu aprendi a olhar para elas como pessoas de fato", disse Cabral.
A pesquisa de Nhatarâmiak também provocou uma reflexão do professor Andrei Isnardis, da UFMG. Ele foi o responsável por coordenar as pesquisas e escavações que encontraram a casca de árvore em que Nimu Borum fora sepultada.
"Na arqueologia, temos discutido há um tempo essas práticas, se devemos ou não escavar sepultamentos. Há 20 anos, não havia discussão pela prática tradicional da arqueologia se deveríamos escavar ou não, porque é uma coisa muito rica de informações", afirmou Isnardis.
"Hoje, depois de muitas discussões, se eu fosse escavar e aparecesse o sepultamento, eu optaria por não escavar, por não perturbar a composição funerária, aquelas pessoas que estão presentes ali. Então, essa pesquisa da Bibi é muito relevante", disse o docente.
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