VOLTAR

Para Marina, sociedade é culpada

FSP, Ciência, p.A18
20 de Mai de 2005

Para Marina, sociedade é culpada
Ministra aponta parcela de culpa da população pelo desmatamento

Fábio Amato

Depois de culpar o desempenho da economia brasileira em 2004 pelo crescimento do desmatamento na Amazônia, apontado em estudo do Inpe divulgado anteontem, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) disse ontem que a sociedade também é culpada pela devastação da floresta.
Em discurso feito na tarde de ontem durante a abertura da Semana da Mata Atlântica, que acontece em Campos do Jordão (interior paulista), a ministra criticou a postura da população que, segundo ela, se surpreende com o crescimento do desmatamento da Amazônia, mas continua a consumir produtos que contribuem para a devastação da floresta.
"A sociedade brasileira tem de parar com o consenso oco de querer preservar a Amazônia e, muitas vezes, não olha que fica o ano todo incentivando as atividades produtivas insustentáveis. Compram madeira cuja origem não sabem, não se preocupam com o que vai para a sua mesa, se isso está sendo feito ou produzido à custa da perda da biodiversidade."Marina mostrou-se contrariada com as críticas à atuação do ministério depois da divulgação do estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A ministra reclamou que "aqueles que promovem o desenvolvimento são aplaudidos", enquanto o Ministério do Meio Ambiente está sendo colocado "no cadafalso dos questionamentos públicos". Em coletiva após o evento, ela disse que não se referiu a "ninguém especificamente do governo".
Os dados compilados pelo Inpe estimaram o desmatamento na Amazônia para o período 2003-2004 em 26.130 quilômetros quadrados, um crescimento de 6,23% em relação ao consolidado anterior. O resultado superou a expectativa do governo, que era de 2%, e é o segundo maior número desde que o monitoramento começou a ser feito, em 1988.
O estudo apontou que a devastação da mata cresceu em dois dos Estados monitorados: Mato Grosso e Rondônia. A ministra disse que dará continuidade às medidas do Plano de Combate ao Desmatamento, e que a fiscalização "será redobrada" e contará com o apoio do Exército, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Ministério do Trabalho.
Para o representante nacional das entidades ambientalistas no Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), André Lima, os Estados estão omissos na questão do desmatamento da Amazônia. Lima, que é integrante do ISA (Instituto Socioambiental), afirmou que só o Ministério do Meio Ambiente tem feito ações concretas para impedir a devastação.
"O Legislativo e os governos estaduais também precisam assumir sua responsabilidade", disse. Ele considera necessário que o governador de Mato Grosso apresente as justificativas para o aumento do desmatamento.
Na opinião do secretário de biodiversidade e florestas do MMA, João Paulo Capobianco, os Estados que avançaram e tiveram decréscimo na taxa de desmatamento deveriam ser reconhecidos. "O Pará, que tinha o maior índice de crescimento de desmatamento, teve redução", disse.

FSP, 20/05/2005, Ciência, p. A18

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.