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Na tríplice fronteira, Colômbia vence

FSP, Mundo, p. A19
09 de Mar de 2008

Na tríplice fronteira, Colômbia vence
Em base venezuelana na divisa com Brasil, soldados ainda esperavam reforço para eventual conflito
Soldados da Venezuela estão com fuzis e munição novos, mas são poucos; civis temem não ter para onde ir em caso de invasão das Farc

Luis Kawaguti
Enviado especial a Cucuí

Isolados em uma base na fronteira de selva com o Brasil e a Colômbia, militares venezuelanos vêem com preocupação a possibilidade de entrar em confronto armado com o Exército colombiano. Eles disseram à Folha que esperavam a chegada de reforços para os próximos dias e que estavam preparados para a guerra.
A única maneira de chegar à base de San Simon Bolívar, no Chaparro, departamento de Amazonas, é de barco, pelo rio Negro. A viagem de San Carlos, a cidade venezuelana mais próxima, demora cerca de três horas -se for feita em voadeira, a embarcação mais rápida disponível na região.
A reportagem foi ao Chaparro na última quinta-feira, viajando pelo rio Negro a partir do município brasileiro de São Gabriel da Cachoeira -um trajeto feito em sete horas de voadeira, com militares brasileiros.
Um tenente venezuelano em trajes civis e com um fuzil Kalashnikov novo a tiracolo -do lote comprado pelo presidente Chávez na Rússia- recebeu a Folha e três militares brasileiros na base venezuelana.
Na instalação militar, cerca de 20 soldados com idades entre 18 e 20 anos conversavam sem camisa e com seus fuzis e cintas de munição nas mãos. Dois deles mexiam em uma metralhadora de calibre .50, apontada para o rio Negro. Apenas um soldado e um boneco vestido com farda faziam a guarda da base. Devido à visita brasileira, os soldados que tomavam sol entraram em forma, sob ordens do seu comandante.
De acordo com o segundo-sargento Gonzales Landaeta, 22, subcomandante do pelotão, a base militar do Chaparro tem importância estratégica para a Venezuela por estar na fronteira com o Brasil e a Colômbia.
Em razão das recentes tensões envolvendo a Venezuela e a Colômbia, a base deve receber reforço nos próximos dias. "Não estamos em guerra, mas também não estamos em paz", disse Landaeta.
Para o segundo-sargento, a parte mais difícil da crise tem sido manter calmos os cerca de 30 soldados que compõe o pelotão. Contudo, Landaeta disse que sua unidade está pronta para entrar em combate.
Os militares venezuelanos estão, porém, em desvantagem numérica em relação ao Exército colombiano na região da Tríplice Fronteira. Segundo o general-de-brigada Antônio Carlos Hamilton Martins Mourão, comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, responsável por parte da fronteira norte do Brasil, estimativas do Exército mostram que as soldados do presidente Uribe chegariam a 1.800 na fronteira sul de seu país. Já o presidente Chávez teria a sua disposição cerca de 700 homens do outro lado da fronteira. O Brasil tem 1.750 militares na sua região.
Os militares venezuelanos no Chaparro, porém, quase nunca deixam sua base. "É um problema antigo. Não temos lanchas para patrulhar. Os barcos passam pelo rio aqui na frente e não podemos fazer nada", disse o segundo-sargento.
Membros de ONGs brasileiras que atuam na área de saúde e pediram para não ser identificados disseram, porém, que comerciantes brasileiros por vezes têm seus barcos e mercadorias arbitrariamente apreendidos pelos venezuelanos. Os militares negam.

Isolamento e medo
No lado civil, os cerca de 1.200 moradores do distrito brasileiro de Cucuí vivem com medo desde o início dos atritos entre os governos da Colômbia e da Venezuela. Isolados pela selva, eles temem não ter tempo de fugir para o interior do país em caso de conflito.
"Para nós, é muito perigoso morar aqui perto da fronteira. O meu maior medo é que essa briga traga as Farc para dentro do nosso país. Se isso acontecer, vou para São Gabriel da Cachoeira", disse o comerciante Paulo Pereira da Silva, 80.
A única forma viável para os moradores deixarem o local em direção a cidades brasileiras maiores é vencer de barco os cerca de 150 km do rio Negro que separam o distrito da sede do município, São Gabriel da Cachoeira.

Frases

"Não estamos em guerra, mas também não estamos em paz. Estamos aqui para dar resposta a qualquer eventualidade"
Gonzales Landaeta segundo-sargento venezuelano
"Para nós, é muito perigoso morar aqui perto da fronteira. O meu maior medo é que essa briga traga as Farc para dentro do nosso país. Se isso acontecer, vou para São Gabriel da Cachoeira"
Paulo Pereira da Silvamorador do distrito brasileiro de Cucuí

FSP, 09/03/2008, Mundo, p. A19

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