VOLTAR

Madeireira acusa Brasil de seqüestro de três peruanos

FSP, Mundo, p. A12
02 de Ago de 2007

Madeireira acusa Brasil de seqüestro de três peruanos
Engenheiro e dois índios foram detidos no Acre durante operação do Ibama
Depoimento à PF levanta suspeita de elo de empresa com o presidente Alan García; governo do Peru não comenta o episódio

Elvira Lobato
Da sucursal do Rio

Uma operação rotineira do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) de combate à extração ilegal de madeira em áreas indígenas e de reserva florestal, no Acre, abriu uma polêmica com o Peru. Um engenheiro e dois índios peruanos foram detidos durante a operação. A empresa peruana Florestal Venao acusa o Brasil de seqüestro perante os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores de seu país.
A polêmica aumentou com a divulgação, pelo Ibama, de um depoimento tomado pela Polícia Federal, durante a operação, sobre um suposto vínculo do presidente peruano, Alan García, com a Florestal Venao. Ele seria acionista da empresa por intermédio de laranjas, segundo o depoimento.
O Itamaraty não quis comentar a acusação de envolvimento da empresa com autoridades peruanas e disse que não fala sobre especulação. Procurado, o Ministério das Relações Exteriores peruano também não se pronunciou.
O Ibama nega ter havido seqüestro de peruanos e acusa a Venao de retirar madeira ilegalmente em território brasileiro. Diz que a empresa construiu até uma estrada para facilitar o transporte das toras para o país vizinho. De 2003 para cá, 79 peruanos já haviam sido presos na área por extração ilegal de madeira.

Foz do Breu
Segundo o relatório da operação, uma força de 35 homens do Exército, da Polícia Militar do Acre, da Polícia Federal e do Ibama foi mobilizada para verificar a denúncia dos índios ashaninkas de que peruanos estariam invadindo sua reserva e, ainda, o Parque Nacional da Serra do Divisor e a Reserva Extrativista do Alto Juruá.
Os índios têm aparelhos GPS (localização por satélite) e acesso à internet. A operação aconteceu entre 17 e 23 de julho.
O relatório da missão diz que foram encontradas centenas de árvores cortadas e muitas com plaquetas da Venao para futuro corte, além de varadouros (caminhos) para acesso a uma estrada que dá no pátio da Venao, no lado peruano.
Durante o patrulhamento, os policiais detiveram os peruanos. O gerente-geral da Florestal Venao, Herbert Frey Bullón, enviou carta ao ministro peruano José García Belaunde, das Relações Exteriores, dizendo que os militares brasileiros invadiram o território peruano às 12h30 do dia 20 de julho, "" tomaram de assalto" o acampamento da empresa, a quatro quilômetros da fronteira, destruíram bens, roubaram alimentos e seqüestraram, por dois dias, o engenheiro Alan Reyner, funcionário da empresa, e os índios Elvis Shingari Espiritu e Rusbet Moreno. Segundo o empresário, o caso está sob investigação das autoridades em seu país.

"Surpresa"
O relatório da Polícia Federal faz curta referência à detenção dos peruanos. Diz que o engenheiro apresentou mapas com as coordenadas da área de exploração da madeira autorizada pelo governo peruano e que, ""para a surpresa da equipe", alguns pontos são em território brasileiro. Os militares apreenderam os croquis mostrados pelo engenheiro, tomaram depoimento dos peruanos e os liberaram, segundo o relatório.
O coordenador da operação, Márcio Venício de Oliveira Lima, do Ibama, contestou a acusação de Billón sobre roubo de alimentos e destruição de bens.

Ex-ministra e congressista são implicados

Da sucursal do Rio

No dia 22 de julho, quando o suposto seqüestro foi noticiado pela imprensa peruana, a Polícia Federal tomou o depoimento de Evanildo Tavares da Silva sobre a suspeita de envolvimento da Florestal Venao com autoridades peruanas. Brasileiro, naturalizado peruano, ele foi funcionário da prefeitura de Tipisca, no Peru, e operador de motosserra da Venao.
Segundo a transcrição fornecida pelo Ibama, Silva afirmou que a ex-ministra da Agricultura Olga Ríos teria tido participação nos lucros da Venao e que o ex-congressista Valdez Meléndez seria sócio da madeireira.
Ainda no dia 22, o Exército levou os policiais peruanos Zamora Zavier e Revalo Hernando, do posto fronteiriço, para sobrevoar a área e eles assinaram declaração atestando o furto de madeira pela Florestal Venao.
Herbert Frey Bullón disse à Folha que a acusação de vínculo de Alan García e de Valdez Melendez com a Venao é falsa e lhe ""provoca risadas". Afirmou ser proprietário de 98% das ações da empresa e que os outros 2% pertencem a um subgerente. A empresa exporta madeira e age na área em associação com a comunidade indígena Nueva Shahuaya, que tem concessão do governo para extrair madeira por 20 anos.

FSP, 02/08/2007, Mundo, p. A12

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.