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Má administração tira acesso de mais de 1 bilhão a água potável

FSP, Mundo, p. A11
10 de Mar de 2006

Má administração tira acesso de mais de 1 bilhão a água potável
Tema é objeto de fórum da ONU na Cidade do México

A "natureza" leva a culpa pela falta e pelo excesso de água no planeta -em secas ou inundações que podem matar milhares. Mas é a péssima administração pública em boa parte da Terra que faz com que quase um quinto da população mundial não tenha acesso a água potável, e que 40% não tenham saneamento básico.
E a coisa tende a piorar muito se a gestão dos recursos não for aperfeiçoada, de acordo com o relatório mais abrangente sobre o tema, agora divulgado pela ONU. De 16 a 22 de março a entidade sedia um fórum sobre o acesso à água na Cidade do México.
Apesar de China e Índia serem os queridinhos do momento da economia mundial pelo seu rápido crescimento, são estes dois países -os dois mais populosos do planeta- que respondem por metade dos seres humanos com água ruim e esgoto inexistente.
Na África ao sul do deserto do Saara, a situação tende a ficar ainda pior. A falta de controle da qualidade da água ajuda a disseminação de doenças ligadas a ela, como a diarréia ou as transmitidas por insetos que se multiplicam em cursos d'água.
Os recursos naturais existem na África, mas não são usados. Por exemplo: enquanto a Europa usa 75% do seu potencial hidrelétrico, a África aproveita apenas 7%, segundo a ONU.
Mais grave ainda é o impacto da devastação ambiental sobre os recursos hídricos, e também sobre eventuais desastres naturais ligados à água. Tanto a falta como o excesso causam problemas.
O desflorestamento em países como o Haiti criou tanta erosão que uma tempestade que em países vizinhos causa problemas moderados ali pode causar grandes tragédias, como fez recentemente.
Outros países em que desastres causados por água em excesso são riscos constantes são Bangladesh, China, Índia, Paquistão e Filipinas -e mesmo países desenvolvidos, como os EUA (que sofreram no ano passado o impacto do furacão Katrina na região de Nova Orleans) e a Holanda, com parte significativa do território abaixo do nível do mar.
Outro exemplo extremo é o lago Tchade, na África, que desde os anos 60 encolheu em 90% por conta de desflorestamento e projetos insustentáveis de irrigação.
Perspectivas
O problema ainda vai piorar muito, pois hoje 70% da água utilizada pelos seres humanos vai para irrigação na agricultura. E a ONU estima que em 2030 o planeta vai precisar de 55% mais alimentos.
O problema, grave no campo, tende a ser ainda pior nas cidades. No ano que vem, metade da humanidade vai estar vivendo em áreas urbanas -uma boa parte em favelas e cortiços sem acesso a água e a saneamento.
O cenário não tenderá a melhorar se os fatores de governança não forem sanados: corrupção no acesso aos recursos, falta de investimentos e descaso com o ambiente.

FSP, 10/03/2006, Mundo, p. A11

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