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22 de Out de 2024
Liderança quilombola critica indenização por Mariana e fala em fake news contra atingidos
Simone Silva, que falou sobre o desastre de 2015 no Parlamento britânico, diz ainda que famílias não foram ouvidas na negociação do acordo
Danielle Brant
22/10/2024
Simone Silva, liderança quilombola que integra comissão dos atingidos pelo desastre de Mariana, em 2015, critica o valor de R$ 30 mil oferecido como indenização às famílias afetadas pela tragédia e diz que não esperava isso do governo Lula (PT).
"Eles falam tanto em golpe [contra a ex-presidente Dilma Rousseff], tanto em fake news, e foi o que eles fizeram com os atingidos. Nós não esperávamos isso do presidente Lula", afirmou pouco depois de ter falado sobre o tema no Parlamento britânico, nesta terça-feira (22). Simone é da Comunidade de Gesteira e faz parte da Comissão de Atingidos de Barra Longa (MG).
Em Londres, ela integrou comitiva de atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, que matou 19 pessoas e despejou 43,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos no meio ambiente. A barragem pertencia à Samarco -joint-venture formada pelas mineradores BHP e Vale. Nesta segunda (21), teve início no Reino Unido o julgamento em que vítimas do desastre pedem reparação financeira por danos provocados pela tragédia.
Simone afirma que os atingidos se organizaram para eleger Lula "porque ele é o presidente da minoria, é o presidente que luta pelos direitos sociais, que está do lado do povo". "E nós estamos ressentidos com o presidente, porque em nenhum momento ele abriu as portas para nos receber. Agora, milhões de atingidos ao longo da bacia ficarão sem a reparação, ficarão sem direito, ficarão sem moradia."
A liderança quilombola diz que os atingidos não foram convidados a participar das negociações e que já imaginava que o valor da reparação seria baixo. "Uma negociação em que as pessoas não estão no território, não estão vendo o sofrimento dos atingidos, não sabem o que está acontecendo. Como que vai sair coisa boa, né?", critica.
Ela também rebate declarações de participantes do poder público no acordo de repactuação que disseram que a negociação era boa e melhor que a discutida no governo de Jair Bolsonaro (PL). "Eles melhoraram sim, mas para os governos. Para o atingido, não. O atingido vai continuar sendo atingido, o atingido vai continuar morrendo no território sem a reparação e sem o seu direito", afirma.
Simone afirma que sua filha Sofya, hoje com 9 anos, tem sequelas de intoxicação por causa do acidente. "Hoje ela está com uma inflamação gravíssima no cérebro que pode se tornar câncer a qualquer momento. Aí nós estamos sem nenhum tratamento, sem nada", diz.
"Nove anos depois do crime, não tem um protocolo em saúde, não tem um local no Brasil para você buscar tratamento, não tem uma clínica, não tem um médico", complementa. "E o governo tem a coragem de sentar nessa mesa e pegar a caneta BIC para fazer uma cagada dessa na vida dos atingidos. Mas deixando claro para deputados federais e para o governo Lula que 2026 está logo ali e a gente sabe dar o troco."
A liderança quilombola também defende que parte dos recursos que serão aplicados em melhorias de rodovias vá para comunidades atingidas. "Porque num eventual novo crime, que Deus livre e guarde, as nossas estradas são todas estradas de terra, e são estradas de rota de fuga. Então que as nossas estradas sejam asfaltadas."
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