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08 de Out de 2024
Indígenas do 'povo das águas' formam brigada contra fogo no pantanal
Grupo voluntário é o primeiro da Terra Indígena Guató, localizada em ilha de difícil acesso em MS
Vitoria Velez
08/10/2024
Conhecidos como do "povo das águas" do pantanal, indígenas guatós formaram a primeira brigada em seu território treinada para combater os incêndios que ameaçam a aldeia Uberaba, a 350 km de Corumbá (MS).
"O treinamento foi um pedido da comunidade porque, nos últimos anos, eles ficaram ilhados com as queimadas no pantanal, a cada ano mais intensas, e temiam que o fogo chegasse ao território indígena", explica Elvis Terena, 42, coordenador regional da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) em Campo Grande.
Vinte e quatro homens e mulheres foram capacitados para combater incêndios na aldeia, situada na ilha Ínsua, às margens do rio Paraguai. O treinamento foi oferecido em setembro pelo Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo) do Ibama, juntamente com a Funai e a ONG IHP (Instituto do Homem Pantaneiro).
Agora, eles integram a primeira brigada voluntária da Terra Indígena Guató, no norte do estado, onde vivem cerca de 200 pessoas.
Embora até agora a aldeia tenha se salvado do fogo, já houve focos no entorno.
"A situação ficou bem crítica, com o fogo próximo da ilha. A gente sempre teme que chegue na aldeia porque pode queimar tudo", conta Jorcimari Picolomini, 31, professora na escola indígena Toghopanãa, localizada na aldeia.
Ela é uma das sete mulheres que participaram da formação.
"O cacique sempre disse que era importante os indígenas terem esse treinamento para cuidar da reserva porque até chamar o socorro às vezes demora", acrescenta.
Os incêndios, que as autoridades e os cientistas atribuem majoritariamente à ação humana, são potencializados pela seca registrada em grande parte do Brasil.
Em algumas regiões remotas, como no pantanal, as brigadas comunitárias são estratégicas no enfrentamento do fogo.
"Acho importante ter uma brigada em um local onde o deslocamento de Corumbá [a cidade mais próxima] demora mais de dez horas [de barco], o que é agravado porque o rio Paraguai está com a profundidade muito baixa [devido à seca]", explica Márcio Yule, coordenador do PrevFogo/Ibama em Mato Grosso do Sul.
"É importante ter gente treinada e equipada para fazer o primeiro combate até a chegada das brigadas contratadas, do corpo de bombeiros", continua, ressaltando que os guatós receberam equipamentos de proteção individual e ferramentas para o combate às chamas.
O pantanal é um dos biomas mais afetados pelos incêndios que assolam o país, com 13.141 focos registrados de janeiro até 6 de outubro deste ano. O número é 1.270% superior ao do mesmo período em 2023, segundo o Programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Considerada a maior área úmida do planeta, o pantanal se estende por parte do Brasil, Bolívia e Paraguai. No Brasil, ocupa 150.355 km2 em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Além da rica biodiversidade, o bioma abriga comunidades tradicionais, como quilombolas, ribeirinhos e povos indígenas, como guató, terena, kadiwéu, entre outros.
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