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Fundir Ambiente e Agricultura deve agravar conflitos, diz presidente do Ibama

FSP, Ambiente, p. B4
02 de Nov de 2018

Fundir poderia agravar conflitos, diz presidente do Ibama
Suely Araújo disse ainda temer demora no licenciamento ambiental e repercussão negativa no exterior

Rubens Valente
BRASÍLIA

A presidente do Ibama, Suely Araújo, disse que a fusão do MMA (Ministério do Meio Ambiente) com o Ministério da Agricultura em um governo Jair Bolsonaro "não faz sentido" e deverá agravar conflitos na máquina pública, em especial quando fazendeiros reagirem contra operações de fiscalização sobre crimes ambientais.

Ela disse ainda temer o aumento da demora na conclusão de processos de licenciamento ambiental e a repercussão negativa, no exterior, sobre produtos agropecuários produzidos no Brasil.

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é autarquia vinculada ao MMA com o poder de polícia ambiental, entre outras atribuições. Com a fusão anunciada na terça-feira (30) pelo futuro ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Ônyx Lorenzoni (DEM-RS), o órgão também passaria para a Agricultura.

"O Ibama não vai deixar de fazer essas operações, qualquer que seja o dirigente do Ibama. A autarquia não vai deixar de fazer seu papel de polícia ambiental. E quando se faz isso diretamente dentro de um ministério que tem ações de fiscalização, uma série de empreendedores vai acionar diretamente lá a Agricultura: 'Olha, não me fiscalizem'. E outra parte do ministério vai dizer: 'Eu tenho que fiscalizar, é minha função natural'. Então não faz sentido. Eu acho que na verdade essa união vai levar a um acirramento dos conflitos, e não atenuação. É minha leitura pessoal", disse Suely.

Em entrevista à Folha nesta quarta-feira (31), Suely afirmou que, dos cerca de 2,8 mil processos em andamento para licenciamento ambiental no Ibama, apenas 29 têm relação com a Agricultura. A maioria dos processos está relacionada às áreas de infraestrutura e minas e energia.

"Só 1% do que a gente trabalha tem a ver com a atividade rural. Quem licencia a agricultura no país são os órgãos ambientais estaduais. Aí o MMA vai estar unido a um ministério que não é o coração das suas atividades. Isso é preocupante do ponto de vista de gestão pública", disse Suely.

Segundo a presidente do órgão, "a pauta do MMA e do Ibama, olhada de forma somada, é toda transversal, tem a ver com vários órgãos da Esplanada. O Ministério da Agricultura é uma interface, mas a gente tem o mesmo tipo de interface ou maior com outros ministérios".

Suely também prevê o aumento na morosidade na definição sobre os processos de licenciamento ambiental. "Temos preocupação também com a questão de desmobilização e reestruturação de equipes, que uma fusão dos ministérios acarretaria. Há trabalhos em curso, processos em urgência para o próprio governo e se começa a reestruturar todas essas equipes e colocá-las ligadas a secretarias novas, tudo isso vai levar um tempo de adaptação que não vai ser simples, os órgãos ligados ao MMA são complexos, têm agenda muito complexa e você encaixar tudo isso junto com a Agricultura provavelmente levará a retardar decisões e isso é ruim para o governo e para a sociedade e levará também, na minha leitura, a um aumento do conflito."
A presidente do Ibama também disse que é possível prever uma má repercussão, no exterior, do anúncio da fusão dos ministérios.

"Provavelmente [os outros países] vão receber de forma negativa, com a preocupação de uma possível atenuação do rigor do controle ambiental, o que não é saudável para o próprio pessoal do agronegócio. Considero que é bastante negativo do ponto de vista da valorização do mercado dos produtos do agronegócio brasileiro. O mercado internacional demanda hoje um rigor controle ambiental na origem do ponto de vista se o país está seguindo ou não normas de controle ambiental", disse Suely.

FSP, 02/11/2018, Ambiente, p. B4

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/11/fundir-ambiente-e-agricu…

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