VOLTAR

Favorito no Equador quer suspender Petrobras

FSP, Mundo, p. A20
14 de Out de 2006

Favorito no Equador quer suspender Petrobras
Medida visa projeto no Parque Nacional de Yasuní, paralisado por disputa sobre impacto ambiental

Fabiano Maisonnave
Enviado especial a Quito

Líder nas pesquisas de opinião para a eleição presidencial deste domingo, o candidato esquerdista Rafael Correa defende uma moratória dos projetos de exploração de petróleo em áreas de preservação, uma alusão direta ao principal projeto da Petrobras no Equador, localizado no Parque Nacional de Yasuní e paralisado pelo governo atual por controvérsias sobre seu impacto ambiental.
"Estamos propondo uma moratória total em relação às atividades extrativistas da Amazônia do centro-sul", disse à Folha o economista Fander Falconí, um dos responsáveis pelo plano de governo de Correa. "É uma das poucas reservas permanentes de biosfera que o Equador ainda tem."
Segundo Falconí, a indústria petroleira já provocou uma "devastação enorme" na Amazônia do norte equatoriano. "Zonas como parques nacionais não devem sofrer intervenção, mas obviamente aqui há uma relação contratual feita com o Estado do Equador. Queremos revisar e, evidentemente, em caso de qualquer medida, ela será tomada pelos interesses nacionais."
Considerado Reserva da Biosfera pela Unesco, o Parque Yasuní ocupa uma extensa área da Amazônia equatoriana, onde está localizado o bloco 31, cujo direito de exploração pertence à Petrobras Energia Equador.
O projeto tem sido duramente contestado por ambientalistas equatorianos e teve de ser modificado por exigência do atual governo, de Alfredo Palacio. A Petrobras refez o projeto, alterando pontos polêmicos, como a construção de uma estrada dentro do parque.
Um novo estudo de impacto ambiental concluído no mês passado está sendo analisado pelo governo equatoriano para ser ou não aprovado.
Questionado sobre o assunto, Falconí afirmou que o governo Palacio deveria deixar a decisão para o próximo governo, que assume em 15 de janeiro do ano que vem.
Ao longo da campanha, Correa também tem defendido uma revisão dos contratos de exploração de petróleo com as multinacionais, inclusive a Petrobras, sob a alegação de que o Estado tem se beneficiado pouco do principal produto da economia equatoriana.
Segundo pesquisa do instituto Informe Confidencial, Correa tem 30% dos votos válidos, contra 23% do "rei da banana" Alvaro Noboa e 19% de León Roldós, de centro-esquerda.
Apesar da péssima imagem da classe política entre os equatorianos, a reta final da campanha presidencial, encerrada oficialmente anteontem, foi marcada pelas declarações agressivas e pela intensa "guerra suja", sobretudo por meio da veiculação de propaganda televisiva apócrifa.
Na TV, o principal alvo tem sido Correa, até agora o candidato-surpresa destas eleições. Em uma das propagandas, ele é criticado por se recusar a classificar de "terrorista" as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que têm forte presença na fronteira amazônica entre os dois países.
As imagens mostram corpos, crianças mutiladas e até uma conhecida foto de tortura na prisão iraquiana de Abu Ghraib. No final, o narrador diz que "esse é o futuro do Equador caso Correa ganhe".
Menos agressiva -mas talvez mais eficaz- têm sido as propagandas que afirmam que Correa acabará com a dolarização caso seja eleito. Implantada em 2000, a troca da moeda local, o sucre, pelo dólar, é vista pela população como o principal fator de estabilidade econômica em meio à crise política que derrubou os três últimos presidentes eleitos -o último deles, Lucio Gutiérrez, no ano passado.
Apesar de manter o discurso público de que Correa tem chance de vencer no primeiro turno, um assessor da campanha à Folha atribui a queda do esquerdista nas últimas pesquisas à "guerra suja".

FSP, 14/10/2006, Mundo, p. A20

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.