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18 de Abr de 2025
Em Pequim, presidente da COP30 discute plano de taxação ambiental
André Corrêa do Lago elogiou compromisso da China com transição energética e reconheceu dificuldades criadas pela saída dos EUA do Acordo de Paris
18/04/2025
Marcelo Ninio
Em visita a Pequim, o presidente da COP30, conferência do clima da ONU que ocorre em Belém no fim do ano, disse que algumas possibilidades de taxação estão em estudo para contribuir no financiamento climático de países em desenvolvimento. Segundo o embaixador André Corrêa do Lago, essa e outras ideias foram discutidas com as autoridades chinesas nos encontros que ele teve em Pequim ao longo desta semana. A expectativa é que o protagonismo chinês aumente nas negociações climáticas, no vácuo deixado pelos EUA.
Um dos principais desafios do diplomata à frente da Presidência brasileira da COP é apontar caminhos no sentido de elevar o financiamento climático anual para os países em desenvolvimento para US$ 1,3 trilhão, um salto considerável em relação aos US$ 300 bilhões aprovados na COP29, realizada no ano passado em Baku, no Azerbaijão. A dificuldade aumentou com a saída dos Estados Unidos do Acordo do Clima de Paris, determinada pelo presidente Donald Trump após sua volta à Casa Branca, em janeiro.
Para chegar à meta de financiamento é preciso pensar em soluções "inovadoras", diz o embaixador, que passou a semana em Pequim cumprindo uma intensa agenda, que incluiu encontros com autoridades do governo, diplomatas, acadêmicos e representantes de ONGs.
- Essa é uma das minhas missões, evoluir no sentido do financiamento. Nós conversamos sobre isso com os chineses, porque vai ser um imenso esforço, chegar a US$ 1,3 tri por ano para os países em desenvolvimento. Mas naturalmente não vai ser só dinheiro de governos de países desenvolvidos que vai cobrir isso. Temos que levar em consideração novas ideias que estão surgindo, como a taxação de transporte marítimo, de aviação. Várias ideias de taxações estão no ar - disse o embaixador.
Assim como a taxação de grandes fortunas foi um dos projetos principais defendidos pelo Brasil durante sua presidência do G20, no ano passado, ideias variadas de taxação estão em estudo para que a meta de financiamento climático dos países em desenvolvimento ganhe alternativas que permitam fechar a conta. As ideias, contou Corrêa do Lago, estão sendo avaliadas no "Círculo de ministros da Fazenda", sob a coordenação do ministro Fernando Haddad, e no "grupo de notáveis" chefiado pelo economista José Alexandre Scheinkman.
Corrêa do Lago foi nomeado presidente da COP30 um dia após a posse de Donald Trump na Presidência dos EUA. Uma das primeiras decisões de Trump, no dia da posse, foi retirar os EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Questionado se teve algum contato com o governo Trump desde então, Corrêa do Lago indicou que não, uma vez que ainda não foram efetivados os responsáveis pela área climática nos EUA. Mas disse que acompanha com atenção "como evolui o tratamento" da questão pelo governo americano.
Enquanto isso, ele conversa com alguns dos "atores principais" das negociações climáticas. Já esteve na França, na Índia e na Alemanha, cumpriu agenda esta semana na China. Os próximos interlocutores devem ser os Emirados Árabes, a União Europeia e a Arábia Saudita, revelou durante conversa com jornalistas brasileiros em Pequim. As circunstâncias atuais de incerteza geopolítica obviamente afetam os preparativos da conferência de Belém. Corrêa do Lago passou em Pequim uma semana em que, ele próprio observou, o foco do governo chinês estava na guerra comercial com os EUA.
- Como estamos em um contexto geopolítico um pouquinho complexo, eu estou fazendo uma série de consultas com países-chave. A gente vai ter que desenvolver a COP30 pensando muitos nas circunstâncias atuais, como o fato de os EUA terem se retirado [do Acordo] de Paris. Outras preocupações parecem se sobrepor às mudanças do clima. Mas sabemos que a preocupação com o clima permanece, mesmo que haja outras crises. A missão é recuperar a atenção para as mudanças do clima e convencer o mundo de que o multilateralismo é a melhor forma de tratar de um tema tão global. Nada mais global que a mudança do clima - pontuou o embaixador..
Ele acrescentou que ainda está em fase de consultas, e que o Brasil ainda não está apresentando de maneira definitiva o que espera, porque isso dependerá dos acontecimentos globais anos próximos meses. Muita coisa pode acontecer durante este ano, "que já está cheio de surpresas", disse. A reviravolta no cenário geopolítico poderiam aumentar o protagonismo chinês?
A China já ocupa uma posição de liderança nas negociações climáticas, assim como o Brasil, afirmou o embaixador, ao ser questionado se o país poderá ocupar o vazio deixado pelos EUA. Pequim ainda não apresentou sua nova meta de redução de emissões, mas Corrêa do Lago disse acreditar que ela será "muito ambiciosa".
- A gente ouviu uma claríssima convicção da China de que, primeiro, é preciso fortalecer o multilateralismo para resolver os grandes problemas internacionais. Mas ouvimos sobretudo uma convicção inabalável do governo chinês quanto à transição para uma economia de baixo carbono. É muito impressionante essa convicção - afirmou, lembrando que o compromisso chinês com a transição energética é parte de seu modelo econômico, dando o exemplo da liderança do país na indústria de veículos elétricos. - Metade dos carros produzidos na China já são elétricos. O país criou uma capacidade de produzir carros elétricos muito eficientes e baratos, que pode exportar para o mundo todo. A mesma coisa com os painéis solares. Graças à China os painéis solares caíram quase 90% de preço. Ao abraçar a economia de baixo carbono, a China criou um elemento de dinamismo para sua economia chinesa, inclusive nas exportações.
Durante a entrevista coletiva que concedeu na embaixada do Brasil em Pequim, uma jornalista da mídia local quis saber se Corrêa do Lago já tinha dirigido um carro elétrico chinês. É algo que tornou-se comum: quase todo visitante estrangeiro é induzido a falar da indústria nacional de veículos elétricos, que em poucos anos tornou-se líder mundial no setor e motivo de orgulho nacional incentivado pelo governo. Corrêa do Lago, por sua vez, aproveitou para destacar as vantagens do Brasil no setor de energias limpas.
- Há vários carros elétricos chineses bacanas no Brasil. Mas o meu é um híbrido, movido a etanol e eletricidade, que produz muito menos emissões que um veículo elétrico. No Brasil as fábricas têm desenvolvido muitos modelos de carros híbridos e isso está funcionando muito bem lá. Cada país tem suas próprias condições e nenhum país produz biocombustíveis com tão baixas emissões como o Brasil, portanto é natural que nosso caminho para a descarbonização da indústria automotiva seja diferente de outros países.
Sobre o mesmo tema, o presidente da COP30 disse ainda que o Brasil está trabalhando com a China para que o país adote o etanol em seus combustíveis.
- A parte de biocombustíveis é um tema que a gente está trabalhando muito com a China, inclusive para ver se eles voltam a adotar 10% de etanol. Essa adição de etanol está crescendo em vários países. O exemplo de cooperação do Brasil que mais avançou recentemente foi com a índia, que anunciou que vai chegar a 30%. Nessa parte de etanol o Brasil tem trabalhado com vários países e está avançando de maneira significativa. Além do mais, a partir do etanol você também pode fazer o que se chama SAF, o combustível sustentável de aviação, que tem um potencial incrível.
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