FSP, Tendencias/Debates, p. A3
06 de Nov de 2019
Desmatamentos criminosos ameaçam mananciais de SP
Ocupação ilegal avança e põe mata atlântica em risco
Caio Miranda (PSB-SP)
Gilberto Natalini (PV-SP)
Janaína Lima (Novo-SP)
Patrícia Bezerra (PSDB-SP)
Police Neto (PSD-SP)
Nos últimos anos, o desmatamento e a ocupação imobiliária irregular em áreas protegidas da mata atlântica aumentaram significativamente em São Paulo. Um novo ciclo de desmate ganhou fôlego com a ação de grupos criminosos, que invadem áreas verdes, derrubam árvores e implantam loteamentos clandestinos.
De acordo com um levantamento preparado pelo vereador Gilberto Natalini (PV), nos últimos cinco anos 90 novas áreas de mata atlântica foram desmatadas nos extremos leste e sul de São Paulo, com a derrubada de ao menos 500 mil árvores. Essas áreas passaram a abrigar bairros populares, erguidos da noite para o dia, sem planejamento urbano e sem sistema de coleta de esgoto adequado. São loteamentos que custam entre R$ 35 mil e R$ 150 mil.
A cidade não pode continuar perdendo suas áreas remanescentes de mata atlântica, principalmente em Parelheiros, na zona sul, onde a cobertura vegetal é imprescindível para manter os mananciais que abastecem a represa de Guarapiranga, crucial para o fornecimento de água à população da região metropolitana. Essas matas ainda contribuem para manter as temperaturas mais baixas e para reduzir a poluição.
O cenário hoje é ainda mais grave: cientistas do mundo inteiro concluíram que estamos sofrendo os efeitos do aquecimento global de forma nunca antes vista e, para combatê-lo, entre outras medidas, é urgente preservar as árvores existentes e plantar mais. Muito mais.
Nós, vereadores eleitos pela capital paulista, nos reunimos na Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), da qual somos membros junto a mais de 570 lideranças políticas de 28 partidos, para chamar a atenção da população e dos órgãos competentes para esse problema urgente e propor soluções conjuntas. Queremos reverter esse quadro e fazer de São Paulo uma das grandes cidades do mundo comprometidas com a sustentabilidade.
É possível fazê-lo. Juntos, Prefeitura de São Paulo e governo do estado já enfrentaram, com êxito, situação grave de supressão de florestas naturais no município, implementando os programas "Defesa das Águas" e "Córrego Limpo", num amplo esforço de diversos órgãos públicos.
Obtivemos bons resultados bloqueando novas invasões em áreas de manancial, proporcionando reurbanizações e transferindo moradores de áreas de risco. No entanto, lotes ilegais, sem registros ou documentações, são oferecidos a famílias humildes, que empregam suas economias para fugir do aluguel em troca de um teto longe de escolas, hospitais e outros serviços básicos, vivendo em situações vulneráveis.
A situação atinge a zona sul, onde se localiza Parelheiros -região da cidade com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), onde quase 40% da população não têm acesso a saneamento básico, índice que pode aumentar com as ocupações irregulares-, e também as zonas leste, oeste e norte.
Se nada for feito, em pouco tempo quase não restarão remanescentes significativos de mata atlântica.
Uma solução efetiva para o problema só virá na medida em que suas causas sejam enfrentadas para além da necessária e urgente fiscalização e o simples cumprimento da legislação. Temos de garantir as condições para viabilizar unidades de habitação de interesse social nas áreas dotadas de infraestrutura.
Ao mesmo tempo, é preciso criar condições para que áreas de preservação ambiental se viabilizem economicamente, com a remuneração por serviços ambientais e com a criação de áreas de lazer para a interação das crianças com a natureza.
Essa atuação em várias frentes, a partir de uma visão global do desafio, pode contribuir para que haja menos interesse no desmatamento em conluio com loteamentos clandestinos, evitando que mais comunidades vivam em situações de vulnerabilidade -hoje são 80 mil crianças nessas condições.
Estamos perdendo a luta pela preservação das nossas matas. Precisamos agir para encontrar e punir os verdadeiros culpados por esse atentado à natureza, tão valiosa para a qualidade de vida dos paulistanos desta e das próximas gerações.
Caio Miranda, Gilberto Natalini, Janaína Lima, Patrícia Bezerra e Police Neto
Vereadores de São Paulo que fazem parte da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps)
VEREADORES PAULISTANOS LIGADOS À RAPS
FSP, 06/11/2019, Tendencias/Debates, p. A3
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