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Crise e Obama dão impulso a energia limpa

FSP, Dinheiro, p. B11
25 de Nov de 2008

Crise e Obama dão impulso a energia limpa
Novo governo dos EUA pretende investir US$ 150 bi em pesquisas, além de criar um sistema de comércio de emissões
Para especialistas, crise seca fonte para projetos agora, mas, no médio e no longo prazo, soluções "verdes" tendem a ocupar espaços

André Palhano

Entre os raros setores da economia que podem de algum modo se beneficiar com a crise global, nenhum tem merecido tanto destaque quanto o das chamadas energias limpas, caracterizadas pela origem em fontes renováveis (como o vento, o sol ou a água) e pela baixa emissão de gases causadores do efeito estufa. "Nova economia energética" e "Green New Deal" são apenas algumas das expressões que surgiram recentemente e que acompanham o entusiasmo com a possibilidade de que as energias limpas, no futuro, possam assumir o lugar hoje ocupado pelo petróleo e pelo carvão como motores da economia mundial.
A eleição de Barack Obama, nos EUA, e as indicações de que uma nova política energética terá papel central em sua gestão trouxeram impulso inédito ao tema. Dentro do que chamou de um "novo capítulo" nas posições americanas no debate sobre mudanças climáticas, o presidente eleito anunciou investimentos de US$ 150 bilhões nos próximos dez anos para o desenvolvimento e pesquisa de energias limpas, além da criação de um sistema federal de comércio de emissões de gases -que os especialistas consideram um marco, à medida que define preços para o carbono.
"Temos um novo sopro de esperança", disse à Folha o físico austríaco Fritjof Capra, autor de livros como "O Tao da Física" e "Ponto de Mutação", que esteve no Brasil para a Ecopower Conference 2008. "O plano de Obama é estimular a economia e a geração de empregos privilegiando o uso das energias limpas. Além da injeção de recursos que receberão, vemos que, com uma promessa de maior escala, elas também começam a chamar a atenção dos investidores", afirmou.
As novidades se espalham.
Na Inglaterra, o governo anunciou recentemente um ambicioso plano para reduzir a dependência econômica do petróleo, no qual serão gastos cerca de 100 bilhões de libras até 2020. Projetos de grande porte para a geração de energia a partir de fontes alternativas, como a solar na Alemanha e em países da África, e a eólica na Escócia, na Turquia e em diversos Estados norte-americanos, também reforçam essa expectativa. Até na China, onde as questões ambientais são vistas com alguma desconfiança, o governo anunciou investimentos de US$ 220 bilhões em projetos de energia renovável nos próximos seis anos.
"Começamos a perceber que os negócios, da maneira como vinham sendo feitos até agora, se tornam cada vez menos viáveis. Isso leva necessariamente a uma transição de uma economia alimentada majoritariamente por petróleo e carvão para uma alimentada por fontes alternativas", diz o americano Lester Brown, fundador do WorldWatch Institute e considerado um dos maiores especialistas mundiais no assunto.
Obviamente, há uma série de barreiras tecnológicas e econômicas para as novas fontes.

O obstáculo do preço
A principal delas é o preço, uma vez que praticamente todas as alternativas "limpas" ao uso dos combustíveis fósseis são substancialmente mais caras (com exceção das usinas hidrelétricas, alvo de debates acalorados entre os ambientalistas). "Temos que ser realistas quanto aos custos. Nos países em que esse tipo de decisão vier da iniciativa privada, como nos EUA ou na China, vai se investir simplesmente naquilo que for mais barato. E o mais barato ainda é o carvão e o petróleo.
Há a eletricidade gerada a partir das hidrelétricas, mas elas exigem uma geografia que muitos países não têm", afirma o consultor canadense Patrick Moore, o lendário fundador do Greenpeace (do qual se desligou em 1986), que se tornou figura polêmica ao defender o uso da energia nuclear.
Quem defende o uso das "fontes limpas" contrapõe que o avanço da tecnologia vem reduzindo de maneira importante os custos e aumentando sua eficiência. A tendência dessas fontes é que se tornem cada vez mais competitivas, seja pela recente ajuda dos governos na forma de investimentos, subsídios e regulação, seja pelo interesse da iniciativa privada em uma área ainda pouco explorada. Em outras palavras, com o inédito ganho de escala a partir desses impulsos.
Como a crise afeta essa tendência? "Num primeiro momento, possivelmente de forma negativa, pois o crédito para financiar projetos secou e as empresas estarão mais preocupadas em sobreviver do que em desenvolver alternativas limpas. No médio e no longo prazo, no entanto, uma situação em que nem líderes políticos nem empresas sabem bem o que fazer, a possibilidade de mudanças radicais é muito grande. E o desenvolvimento de soluções verdes, quase inevitável", diz o inglês John Elkington, fundador da SustainAbility e criador do conceito do tripé da sustentabilidade (o social, o ambiental e o econômico).

FSP, 25/11/2008, Dinheiro, p. B11

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