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Crânio mexicano com 12 mil anos tem DNA de índio atual

FSP, Ciência+Saúde, p. C7
16 de Mai de 2014

Crânio mexicano com 12 mil anos tem DNA de índio atual
Análise do fóssil sugere que Américas foram povoadas por migração única
Apesar de seus traços genéticos, Naia, do México, tinha feição afro-aborígene como a de Luzia, do Brasil

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma exploração na qual mergulhadores vasculharam uma caverna inundada no México trouxe à tona um dos mais antigos esqueletos humanos das Américas, o de uma adolescente morta há 12 mil anos. Embora o crânio dela tenha traços "africanos", como os do famoso fóssil brasileiro "Luzia", uma análise preliminar de DNA mostrou ligações genéticas entre a garota e os indígenas atuais.

O achado, descrito na revista "Science" por cientistas americanos e mexicanos, põe lenha na fogueira do campo de pesquisa. Os autores do trabalho dizem que os dados de DNA favorecem a hipótese de que só uma população humana da Ásia contribuiu para o povoamento das Américas, ideia contestada pelo principal especialista brasileiro no tema, Walter Neves.

A descoberta foi feita pelo mergulhador Alberto Nava, que estava explorando as águas da caverna com dois colegas. Após atravessar um túnel estreito, encontrou um salão inundado de 60 metros de diâmetro, apelidado pela equipe de mergulho de Hoyo Negro, ou "buraco negro".

No local, havia ossos de grandes mamíferos --feras extintas, como dentes-de-sabre e mastodontes-- e um crânio humano. Era a caveira da menina, batizada pelos cientistas de Naia (referência às náiades, ninfas aquáticas da mitologia grega).

Morta por volta dos 15 anos de idade, Naia tinha ossatura delicada e menos de 1,50 m de altura --curiosamente, a brasileira Luzia, contemporânea do esqueleto, também tinha essa compleição "mignon". Os especialistas acreditam que ela tenha caído na caverna enquanto procurava água. Mais tarde, a subida do nível do mar com o fim da Era do Gelo inundou a gruta, que está perto da costa.

NAIA E LUZIA

A análise da anatomia do esqueleto, conduzida pelo antropólogo forense americano James Chatters, deixou clara a semelhança entre Naia e os demais paleoamericanos, como são conhecidos os primeiros habitantes do continente (que viveram até uns 8.000 anos atrás).

Os traços deles, que lembram os aborígenes australianos, são usados como argumento por quem defende que as Américas foram povoadas por duas ondas migratórias --a segunda corresponderia aos ancestrais dos índios de hoje, com traços "mongólicos", típicos dos habitantes do Extremo Oriente.

No entanto, ao extrair DNA mitocondrial, uma pequena parcela do material genético, do esqueleto mexicano, os cientistas identificaram combinações genéticas presentes em índios de hoje.

"Naia não representa uma migração anterior, vinda de uma parte do mundo diferente do lugar de origem dos ameríndios atuais. Tanto ela quanto eles vêm do mesmo lar ancestral", declarou Chatters. Esse lar seria uma região entre a Sibéria e o atual Alasca, a chamada Beríngia, hoje parcialmente submersa.

Ao longo do tempo, outros processos evolutivos poderiam ter alterado a morfologia dos paleoamericanos para o padrão visto hoje.

Walter Neves, da USP, diz não estar convencido pelas conclusões do trabalho.

"Primeiro, o nosso modelo [de duas migrações] também é via Beríngia", ressalta ele. A ideia é que o primeiro grupo a chegar teria a morfologia paleoamericana, recebendo mais tarde o aporte genético de um novo grupo "mongólico". "É difícil acreditar nas informações da biologia molecular. A cada trabalho eles dizem uma coisa."

FSP, 16/05/2014, Ciência+Saúde, p. C7

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/166085-cranio-mexicano-co…

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