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Com vice ligada ao agronegócio, Alckmin amplia defesa de pleitos ruralistas

FSP, Eleições 2018, p. A8
19 de Ago de 2018

Com vice ligada ao agronegócio, Alckmin amplia defesa de pleitos ruralistas
Ana Amélia cobra política externa agressiva para beneficiar setor, que será prioritário no programa

Thais Bilenky
SÃO PAULO

Ainda mais central na campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) depois da escolha de Ana Amélia (PP-RS) como vice, o agronegócio será prioritário no programa de governo tucano, visto como um dos pilares que alavancarão o crescimento econômico do país.
Temas caros ao setor são defendidos pela candidatura, como projeto 6.299/2002 (apelidado pelos críticos de PL do Veneno), incentivos para a agricultura de larga escala em detrimento da produção familiar e a flexibilização do porte de arma no campo.
As bandeiras enfrentam oposição ferrenha à esquerda e delinearão melhor a faixa do espectro ideológico que a chapa Alckmin-Ana Amélia tem potencial de ocupar. O efeito disso, esperam estrategistas do tucano, será atrair eleitores que hoje flertam com Jair Bolsonaro (PSL).
"Primeiro, precisa acabar com esse negócio de veneno", indigna-se o deputado Roberto Freire, presidente do PPS, com o apelido dado por ambientalistas ao projeto de lei que acelera a regulamentação de agrotóxicos.
Colaborador do programa de Alckmin na área de ciência e tecnologia, Freire diz ser "um absurdo, um grave equívoco" a grita contra o projeto.
"Parece coisa de igreja. Como se fosse um diabo envenenando o mundo. É a esquerda atrasada e a direita nacionalista que se encontram no passado", classifica o aliado.
O projeto de lei, em tramitação no Congresso, dá autonomia ao Ministério da Agricultura para registrar agrotóxicos, tirando o poder de veto hoje conferido à Anvisa e ao Ibama. A expectativa é que a mudança reduza o prazo de liberação de um novo produto dos oito anos atuais para no máximo três.
O próprio Alckmin elogiou a proposta há dez dias. "Não é Lei do Veneno, é Lei do Remédio. Precisamos de defensivos agrícolas mais modernos, que tenham efeito melhor, menos problemas para a saúde, para o ambiente e protejam a agricultura", sustentou.
A evidenciar o apoio ao agronegócio, Ana Amélia começou a campanha oficialmente na quinta-feira (16) em eventos ruralistas no Paraná. Em declarações públicas, ela mencionou dois pontos centrais do programa de governo de sua chapa: melhorar o ambiente de negócios, facilitando crédito e seguro rural, e adotar postura agressiva na política externa.
"O Brasil se tornou neutro na questão dos embargos que vários países fizeram à Rússia por conta do assassinato por envenenamento na Inglaterra de um ex-espião russo", observou. "Por que não negociou sua neutralidade em benefício dos produtores de suínos brasileiros, dizendo que não adotamos o embargo em troca de a Rússia abrir portas para a carne suína do nosso país? Falta protagonismo da política externa brasileira", cobrou.
FORNECEDOR DE ALIMENTOS
Responsável pela elaboração do programa de governo de Alckmin para o agronegócio, José Roberto Mendonça de Barros disse que é consenso internacional que o Brasil tem potencial de vir a ser o maior fornecedor de alimentos do mundo em 20 anos.
A pujança é visível mesmo em meio à crise. Nas contas do economista, no acumulado dos últimos quatro anos, o PIB do país caiu 6% e o do agronegócio cresceu 11,5%.
"É muito impressionante. É o único segmento que cresceu consistentemente, mesmo considerando que o El Niño, em 2016, comeu um pedação da produção", disse.
Daí o motivo da prioridade dada ao agronegócio. Segundo Mendonça de Barros, será o setor e o programa de concessões de infraestrutura os puxadores de crescimento econômico do país.
Em que pese a importância e a demanda por orgânicos, disse o colaborador de Alckmin, não há tecnologia que dê escala para essa produção.
"Se dependesse de orgânicos, o mundo passaria fome", afirmou Roberto Freire.
À Folha Ana Amélia disse ter repassado a Alckmin também a preocupação com a violência no campo, entrando em terreno fértil para Bolsonaro.
"Com a migração do crime organizado da área urbana para a rural, é cada vez maior o número de assaltos nas propriedades, com roubo de gado, equipamentos, insumos e, o mais grave, o risco à vida dos produtores, suas famílias e seus trabalhadores. A situação é grave!", exclamou a candidata a vice por mensagem.
A pauta de Bolsonaro para o agronegócio é, em termos gerais, similar à do tucano, com um ponto extra realçado: a flexibilização da lei trabalhista no campo.
Na época da safra, diz o ruralista Frederico d'Avila, colaborador do capitão reformado, a demanda por hora extra e trabalho em final de semana aumenta e a lei precisa ser adaptada a essa condição. Os bolsonaristas têm ainda postura mais enérgica contra invasões e crime no campo.
Para d'Avila, tanto Ana Amélia quanto Mendonça de Barros são respeitados em suas áreas, mas não são produtores, "não sentem na pele". "O que não tem lá é gente que calce botina."

FSP, 19/08/2018, Eleições 2018, p. A8

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/com-vice-ligada-ao-agronego…

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