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Com incêndios e queimadas, o que falta é trabalho em Brasília

FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Autor: GASPARI, Elio
10 de Set de 2024

Com incêndios e queimadas, o que falta é trabalho em Brasília
Se conversa resolvesse, as secas não produziriam as desgraças habituais

Elio Gaspari
Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

10/09/2024

Lula e ministros voaram para a Amazônia. Tudo bem, mas enquanto o Brasil vive uma seca histórica, mais incêndios e queimadas, o que se precisa é de trabalho em Brasília. Trabalho no sentido de não se acomodar porque o ministro assinou uma norma. Se conversa resolvesse, as secas não produziriam as desgraças habituais.

Afinal, ao saber da Grande Seca de 1877 e da escassez de recursos, d. Pedro 2o teria dito: "Se não há mais dinheiro, vamos vender as joias da Coroa. Não quero que um só cearense morra de fome por falta de recursos".

A Coroa, intacta, está no Museu Imperial de Petrópolis. Um ano depois dessa fala marqueteira, num só dia de dezembro morreram mais de mil pessoas em Fortaleza.

A fumaça está aí. A agência suíça IQAir, que monitora a qualidade do ar em cem grandes cidades, revelou que São Paulo está no fundo do poço (seco). Pequim, que ocupou esse desonroso posto, caiu para oitavo lugar. A máquina chinesa funciona.

A Amazônia e o Pantanal têm milhares de focos de incêndio. São Paulo teve centenas. Em São Paulo, já foram presas 15 pessoas. Não há notícia de piromaníacos capturados na Amazônia ou no Pantanal. Sabe-se que 12 fazendeiros estão sendo investigados e um foi multado. Ganha um lote grilado quem acredita nos resultados dessas investigações.

Se isso fosse pouco, a ONG Global Witness informa que, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil ficou em segundo lugar, atrás da Colômbia, na lista de países onde são assassinadas mais pessoas envolvidas na defesa do meio ambiente, uma a cada dois dias.

Pode ser que não adiante muita coisa, mas valeria a pena lembrar que Winston Churchill tinha na sua mesa etiquetas determinando "Ação, hoje". Os burocratas sabiam que era melhor atendê-lo. Graças a uma dessas etiquetas, desemperraram o projeto para decifrar os códigos militares do Exército alemão. Já os burocratas japoneses não deram importância a uma notícia de jornal americano em 1942 que revelava a quebra de parte dos códigos de sua Marinha. Só se deram conta da lambança depois do fim da guerra. Todas as ruínas da atual crise ambiental foram pronunciadas na imprensa.

O que falta ao governo na lide com a crise do meio ambiente é ação. A ministra Marina Silva está mais para comissão de frente do que para diretora da bateria. Lustra, mas não faz barulho nem propaga um ritmo. As propostas viram palavras ao vento. Em outros casos, para felicidade geral das nações, são apenas esquecidas. Em fevereiro de 2023, Lula defendeu a necessidade de uma "governança global"para a questão climática. Noves fora que a busca dessa governança equivale a procurar o elixir da vida eterna, o que a crise demanda é governança nacional, estadual e municipal.

O governo de Lula difere do fumacê de Bolsonaro na plumagem e nas puras intenções. Nos resultados, os números são semelhantes. O primeiro semestre fechou com o maior número de queimadas na Amazônia, e o geólogo Marco Moraes ensina: "No Pantanal e na Amazônia, a umidade não deixa que o fogo natural, nas raras vezes em que ocorre, se alastre. As queimadas ali são provocadas pela ação humana, irresponsável ou mesmo criminosa".

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2024/09/com-incendios…

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