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Cidade do PR remói 'luto' 35 anos após fechamento de parque das Sete Quedas

FSP, Cotidiano, p. B6
21 de Nov de 2017

Cidade do PR remói 'luto' 35 anos após fechamento de parque das Sete Quedas

MARCELO TOLEDO
ENVIADO ESPECIAL A GUAÍRA (PR)

"Quando os portões do extinto Parque Nacional de Sete Quedas se fecharem hoje, às 18h, as Sete Quedas desaparecerão dos roteiros turísticos. A partir de amanhã, apenas poucos funcionários e operários da Itaipu Binacional poderão entrar no parque e contemplar, da terra, uma das principais belezas naturais do país, condenada ao desaparecimento quando foi aprovado o projeto da hidrelétrica no rio Paraná."
Assim a Folha noticiou, em 19 de setembro de 1982, o fim da visitação aos 19 saltos (agrupados em sete conjuntos) que compunham Sete Quedas, em Guaíra (PR).
O acontecimento arrasou a economia local, dependente do turismo, e teve como consequência o encolhimento da cidade nas décadas seguintes. Passados 35 anos, ela ainda tenta se reerguer.
Hotéis e restaurantes faliram, lojas fecharam, e muitos habitantes migraram para outras localidades. A população da cidade, segundo moradores, chegava a dobrar em finais de semana devido ao turismo. Sem Sete Quedas, muitos ficaram sem ter o que fazer e foram embora.
Os saltos deixaram de existir devido à construção da hidrelétrica de Itaipu, que inundou totalmente o local.
A agonia do fim do atrativo já era sentida em 1973, quando foi assinado o tratado de Itaipu, com o uso do potencial hidrelétrico do rio Paraná. Em 13 de outubro de 1982, a cidade viveu um autêntico luto, com o fechamento das comportas de Itaipu e o início do alagamento da região das quedas.
"Dia 27 [14 dias depois], as Sete Quedas já estavam totalmente cobertas pela água. É um trauma na história da cidade. Embora já se soubesse que elas seriam alagadas, foi muito rápido", diz o memorialista Cristian Edgar Aguazo.
Enquanto em 1970 Guaíra tinha 32.876 habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dez anos depois, já com Itaipu em construção, caiu para 30.012. Em 2000, reduziu mais (28.659).
Neste ano, atingiu 32.974 e voltou a ter a população de 47 anos atrás.
A Folha percorreu o trecho do rio Paraná onde as quedas estão submersas -a maioria delas fica do lado paraguaio, em Salto del Guairá. O local é de fácil identificação por moradores, por ficar próximo a torres de transmissão de energia elétrica, 20 m abaixo do nível médio do rio nesta época do ano, segundo eles.
DRAMA
Não bastasse o trauma da perda do principal motor da economia local, uma tragédia abalou o último ano de visitação às Sete Quedas.
Com o anúncio do alagamento, o local passou a receber ainda mais turistas que o habitual e, na manhã de 17 de janeiro de 1982, um domingo, cabos que sustentavam uma ponte se romperam e ao menos 29 pessoas morreram levadas pela água.
A tragédia poderia ser ainda maior não fosse a atuação de João Lima Morais, 62, o João Mandi -em alusão a uma espécie de peixe. Ao saber do acidente, foi ao local e se jogou na forte correnteza para tentar resgatar as pessoas que encontrava. Conseguiu salvar cinco mulheres e um homem.
"Como anunciaram o final, subiu muito o número de pessoas. Antes passavam de três a quatro por vez na ponte, mas depois chegou a 60, 70 pessoas. Sem manutenção adequada, deu nisso."
Corretor imobiliário, ele ficou conhecido como "herói de Guaíra". "Na hora a gente só quer saber de ajudar. Dominava bem a água."
Um resquício do que havia no local foi visto por Aguazo em 2001, quando o país enfrentou racionamento de energia elétrica.
Com o baixo nível dos rios, foi possível ver as pedras que cercavam os saltos.
COMPENSAÇÃO
Municípios que tiveram áreas submersas recebem royalties proporcionalmente à área atingida e à quantidade de energia gerada -14 cidades paranaenses e Mundo Novo (MS) são beneficiadas.
Guaíra deve receber neste ano, segundo o prefeito Heraldo Trento (DEM), cerca de R$ 14 milhões, para um Orçamento que deve chegar a R$ 95 milhões. O pagamento é alvo de dupla contestação da prefeitura, por ser temporário (previsto para mais cinco anos) e referente apenas à área alagada, não ao sumiço do atrativo turístico.
"Os municípios vão morrer se não houver renovação dos royalties. E fomos lesados por perdermos as Sete Quedas. Na rediscussão, talvez consigamos entrar nesse tema. Sofremos um baque econômico e psicológico. Arrancaram nosso motor, nossa alma", disse o prefeito.
Atualmente, restaurantes, bares e hotéis voltaram a ser vistos por ali, especialmente devido ao movimento do turismo de compras na paraguaia Salto del Guairá.

FSP, 21/11/2017, Cotidiano, p. B6

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/11/1936856-cidade-do-pr-rem…

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