VOLTAR

Amazônia

FSP, Painel do Leitor, p. A3
Autor: WATSON, Fiona
04 de Jul de 2005

Amazônia

No artigo "ONGs internacionais na Amazônia" ("Tendências/Debates", 29/ 6), o general Carlos de Meira Mattos faz sérias alegações que não são corroboradas pelos fatos. A Survival International é uma ONG que defende os direitos dos povos indígenas no mundo todo. Temos membros em 82 países -incluindo o Brasil- e, entre eles, alguns parentes da rainha Elizabeth, mas a afirmação do general de que a Survival tem "estreita ligação com a coroa inglesa" é falsa e absurda. Temos uma política explícita de nunca aceitar doações de qualquer governo nacional. A Survival nunca defendeu a proposta de declarar a Amazônia "patrimônio da humanidade". Pelo contrário, reconhecemos que todo Estado-nação é soberano e que cabe a ele o poder de tomar e implementar políticas nacionais. Contudo acreditamos que todo governo deve respeitar os direitos humanos e a Justiça nacional. Por isso temos insistido com todos os governos brasileiros, de todos os matizes políticos, que defendam o direito dos povos indígenas de morar nas terras que ocupam desde os tempos imemoriais, como estabelece a Constituição brasileira. Os territórios ianomâmi e Raposa-Serra do Sol foram homologados por governos democraticamente eleitos. Durante muitos anos, a Survival fez campanha para conseguir o reconhecimento oficial desses territórios, mas nenhuma campanha internacional pode ter êxito se não se enraíza nas comunidades locais. Foram os próprios ianomâmi e os macuxi -e seus inúmeros defensores no Brasil- que lideraram a campanha. O Brasil quer desempenhar um papel maior no mundo, com mais comércio, mais turismo e um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas, em troca, precisa levar a sério as suas obrigações internacionais: o Brasil ratificou a convenção 169 da Organização Internacional de Trabalho (OIT) sobre os direitos dos povos indígenas e, agora, deve implementar essa convenção, que, entre outras medidas, obriga os Estados a reconhecerem o direito dos povos indígenas de possuir terras. Como Ghandi falou, não se julga uma nação pelo tratamento da maioria, mas, sim, de suas minorias.

Fiona Watson, coordenadora de campanhas da Survival International (Londres, Inglaterra)

FSP, 04/07/2005, Painel do Leitor, p. A3

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.